O Portugal dos Pequeninos ou um elefante em loja de porcelanas

Costa Silva não vê as empresas como ameaças aos cidadãos, centros de exploração dos trabalhadores, perigosas células de capitalistas gananciosos apostados em enriquecer à custa do povo; Costa Silva vê as empresas como centros criadores de riqueza.

Da inusitada descoordenação que grassa no Governo já toda a gente falou.

Foi o episódio Pedro Nuno Santos.

Foi a taxa sobre os lucros excessivos, que começou por ser repudiada pelo ministro das Finanças mas acabou por ser aceite por António Costa.

Foi a redução do IRC, defendida pelo ministro da Economia, António Costa Silva, e logo posta de parte por vários membros do Governo e não só.

Numa declaração pensada, Costa Silva manifestou-se a favor de uma «redução transversal da taxa de IRC»; ora, saíram de imediato à liça o secretário de Estado das Finanças, Mendonça Mendes, o ministro das Finanças, Fernando Medina, e até o ex-ministro Siza Vieira, antecessor de Costa Silva, a arrumar o assunto.

António Costa foi corajoso ao convidar Costa Silva para ministro.

Primeiro, porque ele é um liberal e não um socialista; segundo, porque diz ‘o que pensa’, enquanto os outros dizem ‘o que convém’.

Ora, sabendo o chefe do Governo isto, tinha perfeita noção de que Costa e Silva ia arranjar problemas.

E a pergunta a fazer é: com que intenção o meteu no Governo?

Ainda recentemente escrevi que a minha grande esperança neste Executivo era António Costa Silva.

Não por ele ir previsivelmente arranjar problemas.

Por ser um elefante numa loja de porcelanas.

Mas por ter ideias que eu partilho: pensar grande, pôr o país a crescer decididamente, não apostar só nas micro e nas pequeninas empresas e nas políticas assistencialistas, que são muito populares mas conduzem ao empobrecimento.

Já depois de aberta a polémica sobre o IRC, Costa Silva dizia num colóquio que quer acabar com «a síndrome do Portugal dos Pequeninos».

Ora, é óbvio que aqui havia uma crítica ao próprio Governo de que faz parte.

Os apoios sociais recentemente anunciados são um exemplo disso mesmo: em vez de se avançar resolutamente nos apoios às empresas para fomentar o crescimento, distribuem-se umas migalhas às famílias.

É claro que são uns votos ganhos.

Mas com esta mentalidade Portugal nunca sairá do marasmo.

As pessoas não melhorarão as suas vidas com umas migalhazinhas: podem remediar momentaneamente a sua situação mas voltarão rapidamente ao mesmo.

As pessoas só melhorarão as suas vidas de forma sustentada com empresas fortes, produtivas, que possam pagar bem e dar condições aos trabalhadores.

E isso não se faz com migalhas: faz-se com a redução de impostos.

Enquanto Portugal não conseguir quebrar este ciclo vicioso, continuará a ser ultrapassado pelos outros.

Foi isso que defendeu Costa Silva: redução transversal do IRC, ou seja, redução dos impostas às empresas de uma forma generalizada.

Mas logo lhe caiu o Governo inteiro em cima… e até ministros do passado.

E não se tratou de um ‘problema de comunicação’, como bem notava Mário Ramires na semana passada.

O problema é que Costa Silva e a maioria do Governo têm visões diferentes e incompatíveis.

A visão do Governo é socialista: apoio aqui, assistência ali, ajuda acolá – e assim vai aguentando o barco.

Ora, Costa Silva tem uma visão liberal, mais arejada, mais audaz: acabar com as ajudazinhas do Portugal dos Pequeninos e pensar em grande.

Costa Silva não vê as empresas como ameaças aos cidadãos, centros de exploração dos trabalhadores, perigosas células de capitalistas gananciosos apostados em enriquecer à custa do povo; Costa Silva vê as empresas como centros criadores de riqueza.

Num dos últimos artigos, eu fazia o seguinte raciocínio, muito simples: a gestão privada é bastante mais rentável do que a gestão pública.

Sendo assim, quanto mais dinheiro houver no setor privado, mais um país tem condições para crescer; inversamente, quanto mais dinheiro for retirado pelo Estado aos privados, menos produtivo será o país.

Isto é incontestável.

Penso que Costa Silva pensa exatamente deste modo: quanto mais dinheiro houver no setor privado, mais Portugal poderá crescer.

Mas a maioria do Governo e o Partido Socialista pensam de modo diferente.

E aqui volto ao princípio: o que pretendeu António Costa ao convidar Costa Silva para ministro?

A resposta só pode ser uma: fomentar o debate interno.

Mas então tem de dar sinais nesse sentido.

O que nós vimos há pouco foi um ministro da Economia completamente desamparado e toda a gente a bater-lhe.

Ora, assim, não se aguentará muito tempo no Governo.