As mulheres iranianas enlouqueceram

Estavam tão bem tapadinhas, amestradas e obedientes e, de repente, revoltam-se contra os seus donos, mordem a mão que lhes deu de comer e correm desvairadas pelas ruas

Revoltadas contra a submissão imposta pelo regime islâmico dos Ayatollahs que as obriga a cobrir o corpo e o cabelo, quando não a cara, e cuja repressão levou à morte da jovem Mahsa Amini, as mulheres iranianas vieram paras as ruas protestar e exigir direitos. Sem medo da polícia, das ameaças dos clérigos e talvez da própria família lideram uma revolta sem precedentes no Irão. Soltam os cabelos, mostram a cara e exigem ser livres.

Numa altura em que há cada vez mais mulheres cobertas dos pés à cabeça nas cidades europeias, se fazem manifestações pelo direito de andar com a cara tapada em locais públicos e até em Portugal já se toma banho vestido nas piscinas municipais, o comportamento das mulheres iranianas afigura-se muito estranho. Parece que elas querem ter os mesmos direitos que os homens, decidir o seu destino, exibir o seu corpo e a sua beleza. Parece que, enfim, querem ser mulheres. 

Onde é que isto já se viu?

Estavam tão bem tapadinhas, amestradas e obedientes e, de repente, revoltam-se contra os seus donos, mordem a mão que lhes deu de comer e correm desvairadas pelas ruas. Ao contrário das mulheres afegãs, sauditas e da Europa islamizada, querem trocar a segurança pela liberdade.

Ora uma mulher querer ser livre e ter os mesmos direitos de um homem, querer realizar-se profissionalmente e ser dona da sua sexualidade é muito perigoso. Sabe-se lá o que pode acontecer. Como afirmou o juiz Neto Moura, pode até contribuir para ser violada caso entre assim, toda lampeira, em coutadas de machos ibéricos ou outros.

Por alguma razão, só no século XX as mulheres ocidentais começaram a ter os mesmos direitos que os homens, como poder votar, divorciar-se e ter igualdade salarial. O resto do mundo, sobretudo os países islâmicos, resistiram a estas modernices e o resultado está à vista: o ocidente entrou em declínio enquanto os países que tratam as mulheres como gado estão em ascensão.

É certo que a China não trata as mulheres como vacas ou bichos-da-seda, mas no Comité Central do Partido Comunista Chinês é raro, à exceção das mulheres da limpeza, ver por lá alguma camarada – mas também nunca se viu nenhum panda. 

E é justamente por isso que os movimentos feministas e defensores das mulheres ocidentais, o Me Too, os Lábios Vermelhos e outras organizações afins pouco se  ralam com a sortes das mulheres iranianas, assim como nada se ralaram com a desgraça das mulheres afegãs depois da retomada do poder pelos talibãs.

A própria Greta, que inventou a fórmula D (destruição do planeta) = P (patriarcado) + C (colonialismo) x C1 (capitalismo) – X (coisas de que não dá jeito falar), hesita se há de meter-se no seu veleiro e zarpar para Teerão com um Hijab na cabeça para discutir o caso com o líder supremo Ali Khamenei. Por sua  vez, Jennifer Lopez ponderou divorciar-se e casar logo de seguida com o marido só para chatear os Ayatollahs, mas também está indecisa.

Já o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, pede  «que a polícia se abstenha de usar qualquer força desnecessária ou desproporcional» – ou seja, que não as abata a tiro e se limite a dar-lhes umas cacetadas naquelas cabeças descobertas.

Tudo isto, juntamente com as referidas manifestações que as mulheres islâmicas europeias fazem, livremente, espontaneamente, sem a menor coação, significa, ainda que pareça o contrário, que há muita gente preocupada com a sorte das mulheres iranianas e do próprio Irão.

Esta troika de defesa da moral e dos bons costumes não quer que a decadência ocidental resultante da libertação feminina do domínio masculino aconteça no resto do mundo. Mulheres de minissaia, de biquíni, em topless, nuas na praia, mulheres a fumar e a beber, mulheres a rir, a namorar, a gozar a vida, mulheres a ocupar cargos de chefia nas empresas e a governar países, mulheres a liderar os avanços científicos e tecnológicos, mulheres como Paula Rego, mulheres, enfim, a mostrar que podem ser iguais ou melhores do que os homens, de todos esses horrores pretendem livrar o resto do mundo.

No tempo em que as mulheres portuguesas andavam com o cabelo coberto e obedeciam aos homens, tínhamos um império. Agora somos os pedintes da Europa e nem com mil paquistanesas a mergulhar vestidas nas piscinas públicas isto poderá melhorar.

É claro que não está certo dar tiros nas mulheres iranianas, assim como não está certo matar animais por prazer ou arrancar as asas às moscas. Além das balas poderem acertar por engano nalgum homem, cão vadio ou panda do jardim zoológico, as feridas e as mortas vão dar imenso trabalho aos profissionais de saúde e às morgues iranianas – não tendo eles um SNS tão bem organizado como o nosso.

Espero, pois, que a Greta se meta no seu veleiro com um Hijab arco-íris na cabeça e vá a Teerão reeducar aquelas tresloucadas.