O ‘fascismo’ está a regressar à Europa?

Os movimentos que atualmente parecem encostar as democracias europeias ao lado direito do espetro doutrinário não representam, na maioria dos casos, mais do que essa simples dinâmica de um movimento natural a caminho do um novo equilíbrio e de um renovado contrato social.

Os recentes sucessos eleitorais da direita, em países como a Suécia e, especialmente a Itália, fizeram disparar as conhecidas reações pavlovianas que condicionam os atuais dirigentes dos partidos da esquerda e da chamada esquerda fixista, quando reagem a este tipo de mudanças .

Perante uma realidade inevitável e ‘in progress’ o que a maioria dos supostos influenciadores da opinião pública, com honrosas exceções, melhor encontraram para demonstrar a sua incomodidade foi reclamarem contra o ressurgimento de regimes fascistas apelando à mobilização universal contra a peste politica que estaria a surgir, de novo, com o objetivo de destruir a democracia europeia.

Foram praticamente nulas mas seguramente escassas as apreciações racionais elaboradas para tentar compreender o que aconteceu e consequentemente não houve nem espaço nem tempo para refletir sobre o que terá de ser corrigido de forma a evitar que o futuro se torne ainda mais sombrio.

Com efeito, o que estes resultados eleitorais comprovaram na sequência, aliás, de evoluções semelhantes que já tinham sido sinalizadas na Hungria e na França, é que vivemos um tempo em que mais do que reconhecer que a ‘direita’ está a ganhar é preciso aceitar que afinal é a ‘esquerda’ que está a perder.

Se aceitarmos e escolhermos este método de análise, o que tem de ser feito não é clamar irracionalmente contra o regresso do fascismo, mas sim encontrar as razões pelas quais os eleitores (os mesmo eleitores) mudaram de campo, seguramente não de forma definitiva, e definir condições para a sua futura reversão eleitoral.

Contudo, como é sabido, a necessária autocrítica não é fácil, sobretudo na sequência de períodos de dominação quase hegemónica, pois comporta custos e exige ruturas.

Mas lá que deve ser feita, não tenhamos dúvidas, porque se não o for, podem criar-se condições para que a burlesca denúncia da chegado do fascismo ou da extrema direita radical ao poder se transforme numa negra realidade.

Como noutra ocasião aqui foi referido o princípio essencial que garante a eficiência e a maturidade das democracias liberais é o que resulta de uma relação leal entre eleitores e eleitos e isso só se consegue com o exercício permanente da verdade.

A médio prazo esta regra é de ouro pois ninguém pode enganar indefinidamente a base social que legitimou o seu poder e, mais cedo que tarde, o equilíbrio será reposto ainda que, infelizmente, às vezes pela oscilação do pêndulo político para o outro lado do espaço onde se move.

Os movimentos que atualmente parecem encostar as democracias europeias ao lado direito do espetro doutrinário não representam, na maioria dos casos, mais do que essa simples dinâmica de um movimento natural a caminho do um novo equilíbrio e de um renovado contrato social.

O exorcismo de decisões democráticas, que não agradam ao poder instalado, nunca favorece a normalização da situação ou apenas a acomoda ao fim de tempo demasiado ou com custos insuportáveis.

Nem a esquerda nem a direita, aceitando a nomenclatura clássica que nasceu no século XVIII com a Revolução Francesa, tem uma qualquer ‘superioridade moral, concedida por decreto celestial’ que as exclua do dever de encontrarem soluções para resolver os problemas que as sociedades confrontam, às vezes de forma cumulativa, nos tempos presentes.

Este não é o momento de vociferar e blasfemar, mas sim a oportunidade ideal para transformar a indisfarçável crise dos atuais sistemas partidários, numa autêntica missão de renovação.

Por isso é necessário repensar e modernizar as formas de representação democrática, reforçar o escrutínio do poder, sobretudo entre períodos eleitorais, e respeitar, sem qualificações morais descabidas, todas as escolhas democraticamente feitas pelos povos quando são chamados a decidir.

 

Como ainda recentemente lembrou o deputado do Parlamento Europeu Raphael Gluksmann, que esteve em Lisboa a convite da sua colega Isabel Santos, para apresentar um ensaio escrito em 2021 (carta à geração que vai mudar tudo) «os votos irracionais são democráticos na mesma».

Não se pode ser mais claro e, já agora, mais racional. O combate aos supostos desvios democráticas faz-se exclusivamente, no respeito pelo estado de direito, através de práticas leais e legítimas e nunca pelo uso de cercas políticas que nada resolvem e só servem para fortalecer o que se quer combater.

Voltando a Gluksmann e reforçando a sua confiança numa nova geração que não se excluiu da vida pública, apenas se distanciou da prática dos partidos clássicos apostando na defesa das causas, «quem está bem na vida vota pela voz da razão, quem está magoado, perdido e abandonado, como resultado da globalização, vota pela paixão».

Esta regra informal, mas verdadeira, ajuda a explicar muito do que se passa na evolução das democracias europeias, e, em especial, ajudará os mais distraídos a abandonarem as suas obsessões com os fascismos, libertando-os para o que realmente interessa que deve ser a exigência a fazer aos poderes instalados por melhores respostas públicas.Os recentes sucessos eleitorais da direita, em países como a Suécia e, especialmente a Itália, fizeram disparar as conhecidas reações pavlovianas que condicionam os atuais dirigentes dos partidos da esquerda e da chamada esquerda fixista, quando reagem a este tipo de mudanças .

Perante uma realidade inevitável e ‘in progress’ o que a maioria dos supostos influenciadores da opinião pública, com honrosas exceções, melhor encontraram para demonstrar a sua incomodidade foi reclamarem contra o ressurgimento de regimes fascistas apelando à mobilização universal contra a peste politica que estaria a surgir, de novo, com o objetivo de destruir a democracia europeia.

Foram praticamente nulas mas seguramente escassas as apreciações racionais elaboradas para tentar compreender o que aconteceu e consequentemente não houve nem espaço nem tempo para refletir sobre o que terá de ser corrigido de forma a evitar que o futuro se torne ainda mais sombrio.

Com efeito, o que estes resultados eleitorais comprovaram na sequência, aliás, de evoluções semelhantes que já tinham sido sinalizadas na Hungria e na França, é que vivemos um tempo em que mais do que reconhecer que a ‘direita’ está a ganhar é preciso aceitar que afinal é a ‘esquerda’ que está a perder.

Se aceitarmos e escolhermos este método de análise, o que tem de ser feito não é clamar irracionalmente contra o regresso do fascismo, mas sim encontrar as razões pelas quais os eleitores (os mesmo eleitores) mudaram de campo, seguramente não de forma definitiva, e definir condições para a sua futura reversão eleitoral.

Contudo, como é sabido, a necessária autocrítica não é fácil, sobretudo na sequência de períodos de dominação quase hegemónica, pois comporta custos e exige ruturas.

Mas lá que deve ser feita, não tenhamos dúvidas, porque se não o for, podem criar-se condições para que a burlesca denúncia da chegado do fascismo ou da extrema direita radical ao poder se transforme numa negra realidade.

Como noutra ocasião aqui foi referido o princípio essencial que garante a eficiência e a maturidade das democracias liberais é o que resulta de uma relação leal entre eleitores e eleitos e isso só se consegue com o exercício permanente da verdade.

A médio prazo esta regra é de ouro pois ninguém pode enganar indefinidamente a base social que legitimou o seu poder e, mais cedo que tarde, o equilíbrio será reposto ainda que, infelizmente, às vezes pela oscilação do pêndulo político para o outro lado do espaço onde se move.

Os movimentos que atualmente parecem encostar as democracias europeias ao lado direito do espetro doutrinário não representam, na maioria dos casos, mais do que essa simples dinâmica de um movimento natural a caminho do um novo equilíbrio e de um renovado contrato social.

O exorcismo de decisões democráticas, que não agradam ao poder instalado, nunca favorece a normalização da situação ou apenas a acomoda ao fim de tempo demasiado ou com custos insuportáveis.

Nem a esquerda nem a direita, aceitando a nomenclatura clássica que nasceu no século XVIII com a Revolução Francesa, tem uma qualquer ‘superioridade moral, concedida por decreto celestial’ que as exclua do dever de encontrarem soluções para resolver os problemas que as sociedades confrontam, às vezes de forma cumulativa, nos tempos presentes.

Este não é o momento de vociferar e blasfemar, mas sim a oportunidade ideal para transformar a indisfarçável crise dos atuais sistemas partidários, numa autêntica missão de renovação.

Por isso é necessário repensar e modernizar as formas de representação democrática, reforçar o escrutínio do poder, sobretudo entre períodos eleitorais, e respeitar, sem qualificações morais descabidas, todas as escolhas democraticamente feitas pelos povos quando são chamados a decidir.

Como ainda recentemente lembrou o deputado do Parlamento Europeu Raphael Gluksmann, que esteve em Lisboa a convite da sua colega Isabel Santos, para apresentar um ensaio escrito em 2021 (carta à geração que vai mudar tudo) «os votos irracionais são democráticos na mesma».

Não se pode ser mais claro e, já agora, mais racional. O combate aos supostos desvios democráticas faz-se exclusivamente, no respeito pelo estado de direito, através de práticas leais e legítimas e nunca pelo uso de cercas políticas que nada resolvem e só servem para fortalecer o que se quer combater.

Voltando a Gluksmann e reforçando a sua confiança numa nova geração que não se excluiu da vida pública, apenas se distanciou da prática dos partidos clássicos apostando na defesa das causas, «quem está bem na vida vota pela voz da razão, quem está magoado, perdido e abandonado, como resultado da globalização, vota pela paixão».

Esta regra informal, mas verdadeira, ajuda a explicar muito do que se passa na evolução das democracias europeias, e, em especial, ajudará os mais distraídos a abandonarem as suas obsessões com os fascismos, libertando-os para o que realmente interessa que deve ser a exigência a fazer aos poderes instalados por melhores respostas públicas.