Rui Pinto tem dado informações à Ucrânia e participou em ataque informático ao Sporting

O hacker confessa que o caso Football Leaks “foi idealizado” por si e por “amigos” e que os seus trabalhos no Malta Files e no Luanda Leaks “trouxe grandes benefícios para a sociedade”.

Rui Pinto confessou esta segunda-feira, durante o seu depoimento no Tribunal Central Criminal de Lisboa, que tem "entregue informações aos serviços de inteligência ucraniana" para ajudar o país a derrotar o invasor russo. 

"Temos feito análise de imagens de vigilância em sítios estratégicos, também interceção de comunicações rádio utilizadas pelo exército russo", explicou Rui Pinto, de 33 anos, que se apresentou em tribunal para ser ouvido no caso Football Leaks. "E o mais curioso é que isto é 'open source intelligence', fontes abertas. Um soldado ucraniano disse: 'A nossa sorte é eles serem muito estúpidos", afirmou.

O hacker admitiu ainda que, apesar de não ter dado início ao ataque informático ao Sporting, em 2015, participou nele mais tarde: "Quando regressei a Budapeste, pus mãos à obra", disse, confessando ter acedido às caixas de correio eletrónico de quatro funcionários do clube para conseguir obter informações. "Era a altura da janela de transferências, havia sempre informação nova a chegar", continuou.

Na altura, o clube tinha "uma colaboração mais ativa com fundos de investimentos, como a Doyen Sports e outros menos conhecidos" e Álvaro Sobrinho, ex-líder do Banco Espírito Santo Angola (BESA), que tinha entrado "no capital social" da SAD, o que fez despertar o seu interesse pelo clube. 

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O hacker assumiu que o projeto do Football Leaks "foi idealizado" por si e por "amigos", em Praga, na República Checa, enquanto discutiam futebol, não dando quaisquer informações sobre esses amigos. "A princípio, não levaram muito a sério, mas depois empenharam-se", disse, afirmando que na altura o grupo já "tido acesso a determinado tipo de informação, através de acessos ilegítimos". 

Rui Pinto também afirmou que durante o projeto do Football Leaks "foram cometidos erros", mas os trabalhos no Malta Files e no Luanda Leaks troxeram "grandes benefícios para a sociedade", deixando claro: "foi revelada muita situação que de outra forma não teria sido conhecido", precisou.

O criador assumido do Football Leaks falou sobre as condições a que esteve sujeito na Hungria, após ter sido preso, em janeiro de 2019, na sequência de um mandado de detenção europeu emitido por Portugal.

"Só podia tomar banho três vezes por semana, a alimentação era completamente medíocre. Os guardas prisionais não me viam com muitos bons olhos por causa da situação do Cristiano Ronaldo com [a alegada violação] de Kathryn Mayorga. A tortura psicológica era constante", disse. 

O processo de extradição para Portugal "foi bastante penoso e complexo", acrescentou. "Todo o mediatismo do caso deixou-me um pouco fragilizado. Particularmente a detenção num estabelecimento prisional húngaro foi um período bastante complicado". 

Ainda em declarações no tribunal, Rui Pinto frisou "que o crime, mesmo com boas intenção, não compensa".

"Sabendo o que sei hoje, não me voltaria a meter numa coisa destas. Basicamente, a minha vida está de pernas para o ar, a minha família tem sofrido bastante. E o que me custa é o facto de nenhum dos envolvidos nas denúncias dos [Football] Leaks, dos Malta Files, dos Luanda Leaks ter ficado em prisão preventiva", disse.

O arguido considera que, daqui para a frente, o seu "caminho" é "fazer as coisas dentro da legalidade": "Não posso ser eu a mudar as coisas, não posso mudar o mundo. Têm de ser as autoridades", com quem diz estar a trabalhar.