Posto de observação

O povo brasileiro deu uma grande demonstração de civismo, com uma abstenção de 20% que está entre as mais baixas do mundo.

por André Jordan
Empresário

A ELEIÇÃO NO BRASIL

Várias observações podem ser feitas em relação a uma a eleição que mobilizou interesse da imprensa mundial como nunca tinha acontecido.

Um confronto à brasileira entre a direita e a esquerda, permitiu tirar alguns comentários preliminares e, de certa forma, encorajamentos. O ataque frontal de Bolsonaro ao Lula, que havia sido condenado e preso acusando de ser corrupto por causa do caso Lava Jato e de suas ramificações, surtiu um efeito suficientemente forte para diminuir os votos em Lula e aumentar os votos em Bolsonaro. No entanto, o apoio a Lula declarado para o segundo turno pela terceira colocada Simone Tebet e o quarto colocado Ciro Gomes que, se seguido pelos seus eleitores, daria a Lula a margem suficiente para a maioria absoluta, desde que mantenha os eleitores que nele votaram no primeiro turno.

Assinalável foi a tranquilidade e a eficiência com que a votação se processou em todo o país, no qual votaram 185 milhões de brasileiros e cujo resultado apurado foi declarado quatro horas depois, sendo que os eleitores votaram para Presidente e vice-Presidente ao nível nacional, para senadores e deputados igualmente. Tudo sem qualquer incidente.

Bolsonaro, que havia anunciado que contestaria a contagem alá Trump se perdesse, nada disso aconteceu e o povo brasileiro deu uma grande demonstração de civismo, com uma abstenção de 20% que está entre as mais baixas do mundo. Parece haver um ambiente de distensão que pronuncia a possibilidade de entendimentos para o futuro.

Os 80 mil brasileiros que votaram em Portugal são parte de uma comunidade de 250 mil pessoas. Como encontro brasileiros em todo lado trabalhando em restaurantes, lojas, empresas, Uber, obras, etc. e quando pergunto se estão felizes aqui, sempre me respondem que sim.

Quando vim para Portugal em 1971, praticamente não havia brasileiros aqui. Nos anos subsequentes, inclusive durante os 17 anos em que fui Cônsul Honorário do Brasil no Algarve, havia vagas de chegadas e saídas, porém agora me parece que os que têm vindo nos últimos anos vieram para ficar.

 

IMOBILIÁRIO

Com o fenómeno inflacionário em pleno curso, fica muito difícil fazer prognósticos sobre a evolução do mercado, seja interno ou vindo do exterior. Nem entro na discussão da ocupação do centro de Lisboa e do Porto por estrangeiros, por não ser essa a razão da crise de habitação acessível. O fenómeno da presença estrangeira é comum em todas as grandes cidades da Europa e mesmo em outros continentes.

O problema da habitação acessível, seja para as pessoas que trabalham em grandes centros urbanos ou para estudantes, tem soluções ligadas à legislação, ao financiamento, à fiscalidade, aos transportes urbanos, à disponibilidade das escolas, etc.. Somente um desígnio nacional para resolver esse problema, envolvendo o governo central, as autarquias, as organizações empresariais, para produzirem um programa com o objetivo de superar este complexo problema.

Quanto ao mercado, regista-se num grande arrefecimento em vários centros, sendo por exemplo em Hong Kong no fim da semana passado um grande empreendimento novo com 800 unidades promoveu um grande evento e lançamento das primeiras 200 e, para espanto geral, não vendeu nenhuma.

 

INFLAÇÃO

Vejo com pena e angústia a campanha que visa provocar o governo a compensar com contribuição financeira os efeitos da inflação sobre a população. Infelizmente, esta medida só poderá causar mais inflação, porquanto as compensações distribuídas provocam o seu aumento. A criação de apoios financeiros nesta área foi inicialmente introduzida no Chile por imposição do governo americano, que exigia que as prestações financiadas por eles para a habitação mantivessem o valor inicial. A subida das prestações a um nível incomportável para os devedores provocou a eleição do Salvador Allende que prometeu acabar com o ajustamento. No Brasil, o sistema denominado correção monetária, levou no governo de José Sarney a uma inflação de 1000% ao ano, o que finalmente foi interrompido pelo facto de que Fernando Henrique Cardoso, ao ser eleito, imediatamente extinguiu a correção mone