Afinal, a privatização da TAP

O Governo dá o dito pelo não dito: depois de jurarem a nacionalização da TAP, afinal privatizam…

A privatização da TAP está, de novo, na ordem do dia. Depois da renacionalização da TAP motivada por preconceitos ideológicos do Governo socialista e que custou milhões aos portugueses, agora, afinal, é o mesmo Governo socialista que vem defender a privatização da companhia aérea. Já não é ‘só’ um capricho. É mesmo uma pouca-vergonha.

Para começo de conversa, o que o PSD faria não pode ser pretexto para desviar a atenção do que está em causa. O PSD assumiu (e fez) o que era necessário: privatizou a TAP. O PS é que fez juras contra a privatização, renacionalizou a companhia e agora percebeu a insustentabilidade da sua atitude e deu o dito pelo não dito.

O que está agora em causa, mais até do que sobre a reprivatização da TAP, é uma questão de responsabilidade, de transparência e de seriedade. Ou sobre a falta destas.

Em primeiro lugar, a verdade: A privatização da TAP, em 2015, resultou de uma imposição do Memorando de Entendimento assinado com a troika pelo Governo socialista de José Sócrates. A nacionalização posterior, conduzida pelo Governo, também socialista, de António Costa, não foi por necessidade mas ditada por convicção ideológica e como condição para agradar ao PCP e ao Bloco de Esquerda para viabilizar a ‘geringonça’.

Depois seguiram-se as trapalhadas: O Partido Socialista criticou a privatização da TAP. Jurou que voltaria a ser pública, ‘dos portugueses’ e até comparou a importância da TAP nacional com as caravelas dos descobrimentos. E nacionalizaram. Depois veio um plano de restruturação de longo prazo para ‘salvar’ a empresa, enterraram 3,2 mil milhões de euros dos portugueses. Para quê? Para agora, à pressa, sem se saber como nem porquê voltarem a privatizar a TAP.
Foi um logro! Prometeram que com o PS, em nome do ‘interesse estratégico’, a TAP teria de ser pública, mas agora privatizam. Prometeram uma companhia de dimensão nacional mas foi transformada numa empresa regional que não serve (e mal) mais do que a capital. Prometeram uma TAP de grande escala mas transformaram-na numa ‘Tapezinha’.

Hipotecando qualquer estratégia (se acaso a tiveram),o Governo privatiza a TAP à pressa, sem transparência e comprometendo a estabilidade, o serviço ao país, o apoio às comunidades portuguesas emigradas, a ligação à comunidade lusófona e a garantia da permanência de um hub em Lisboa.

O Governo, num abrir e fechar de olhos, deitando por terra tudo o que defendeu para a TAP e com ligeireza, sem dar satisfações e com elevados danos para o país e para os portugueses, dá o dito pelo não dito: depois de jurarem a nacionalização, afinal privatizam. Ou seja: criticam a privatização, nacionalizam e voltam a privatizar. Claro que chamarão ‘parceiro estratégico’ ao novo dono da TAP. Mas é mesmo uma privatização.

Ao Governo e ao PS, depois desta trapalhada e deste logro com a TAP, falta humildade, falta, mesmo sem reconhecerem o erro, pedirem desculpa aos portugueses pelos danos causados e, falta, até, um pouco de vergonha. 3,2 mil milhões de euros depois, era o mínimo.