Mudar Portugal custa menos de 1 euro!

Se o valor da coragem é inestimável, o preço da incompetência e da cobardia é imenso: a conta já vai em 4,4 milhões de pobres!

Por Franciscos Gonçalves

A primeira-ministra do Reino Unido demitiu-se. Depois de ter tomado posse a 6 de setembro, propôs um ‘corte fiscal’ que deixou os ‘mercados’ em choque. Esteve longos 45 dias no cargo, após os quais apresentou a demissão ao rei Carlos III.

Não podíamos ter melhor exemplo do elevadíssimo preço da chegada aos cargos públicos dos impreparados, do que o caos em que a (supostamente) mais sólida democracia ocidental se deixou mergulhar. A democracia do tweet, do voluntarismo e da ‘meia bola e força’ dá nestes resultados, umas vezes rapidamente, como no Reino Unido, outras mais devagar, como em Portugal.

O Governo do Reino Unido parece ter implodido. No nosso país, não houve tal aceleração, mas o nosso modelo de desenvolvimento há muito que vem deixando a desejar: como se consegue explicar que tenhamos produzido 4,4 milhões de pobres? Este número não incomoda? Tem de incomodar. Este é o preço da má governação. Não deste Governo, mas de muitos e muitos governos, e de todos nós!

Os entraves ao crescimento e ao desenvolvimento do país não custam recursos às contas públicas. As decisões de que estamos verdadeiramente carecidos custam inteligência, imaginação, coragem e vontade política. Estas últimas são do mais difícil de encontrar. Entre a cadeira e a caneta, os nossos quadros políticos têm optado quase sempre pela cadeira, por isso procuram ficar no lugar, e não tomar decisões. 

Sempre que é anunciada a vontade de um Governo captar mais investimento externo, a primeira reação é sorrir, a segunda é rir, e tudo para não chorar. 

A maior parte dos governos portugueses não querem investimento externo. Não podem querer, pois, se verdadeiramente quisessem, procuravam saber quais os grandes projetos de investimento que aguardam decisão, e por que razão aguardam. 

Durante anos, ouvimos falar das ‘gorduras do Estado’ e da ineficiência, mas poucas vezes sabemos dos pareceres ou das decisões que nunca chegam. Não é apenas o novo aeroporto de Lisboa que demora gerações a ser decidido. Não há decisão estratégica, em Portugal, que não leve mais de uma geração a ser tomada, particularmente quando está em causa enfrentar o politicamente correto.

Perante a crise energética que hoje encaramos, devemos questionar-nos sobre a opção de não explorarmos o gás que temos no nosso mar, ou sobre como antecipámos, em anos, a substituição do carvão na produção de eletricidade. A Alemanha e a Áustria reabriram as centrais a carvão, a Holanda nunca as encerrou. Ao que parece, somos ricos e não sabemos!

Claro está que dizer isto em voz alta vem acompanhado de um chorrilho de críticas, insultando a nossa ignorância e como queremos destruir o planeta. É preciso ter capacidade para enfrentar, com racionalidade e inteligência, os problemas que o país vive. Mas, sobretudo, é necessária coragem para usar a caneta para contrariar os instalados, que não querem que nada mude, porque desprezam quem precisa que este estado de coisas acabe.

Mudar Portugal custa menos de 1 euro. Custará o preço do papel no qual se despacha – com assinatura eletrónica é, até, mais em conta. Se o valor da coragem é inestimável, o preço da incompetência e da cobardia é imenso: a conta já vai em 4,4 milhões de pobres!

P.S. – Esta semana recebi uma mensagem privada, na sequência de uma notícia que partilhei na minha página de Facebook, de um pai que me confessou que há muito não come carne para dar aos filhos. Ele e a mulher estão ambos empregados. Haja humildade, perante o sofrimento alheio.