Ucrânia. Face a alegações russas, portas abertas a inspetores nucleares

O Kremlin insistiu em falar de “bombas sujas” na ONU. Receia-se que seja pretexto para uma escalada.

O Governo ucraniano reagiu às acusações do Kremlin de que estaria a preparar ataques com “bombas sujas” – ou seja, explosivos convencionais que, detonados, espalham material radiológico, de maneira a tornar uma região inabitável – convidando os investigadores da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) a ver pelos seus próprios olhos que nada disso sucedia.

Não que as alegações russas tenham muitos crentes na comunidade internacional. Contudo, mesmo assim o Kremlin pretende insistir nisso nas Nações Unidas. E o receio é que seja pretexto um para uma escalada das hostilidades.

“Consideraremos o uso de uma ‘bomba suja’ pelo regime de Kiev como sendo um ato de terrorismo nuclear”, prometeu Vassily Nebenzia, embaixador russo na ONU, numa carta dirigida a António Guterres e ao Conselho de Segurança, vista pela Reuters.

A carta não continha qualquer prova de que a Ucrânia – que abdicara do seu arsenal nuclear em 1994, em troco da promessa que a Rússia nunca a atacaria – possuísse uma “bomba suja”, avançou o Guardian. Tinha somente uma lista dos isótopos radioativos a que os ucranianos teriam acesso através das suas centrais elétricas nucleares, ainda por cima com diversos erros, indicando que, quem quer que tenha escrito a carta de Moscovo, não tinha qualquer conhecimento da ciência envolvida.

Entretanto, em paralelo, o regime russo trazia de novo à ONU alegações de que os ucranianos estariam a desenvolver armas biológicas em colaboração com parceiros orientais. Algo com que já tinham justificado a sua demora em tomar a siderurgia de Azovstal, em Mariupol, alegando que sob os bunkers haveria um laboratório. No entanto, mesmo após a tomada de Azovstal, nunca apareceu qualquer prova dos tais laboratórios.

No que toca às supostas “bombas sujas”, a agência estatal russa RIA avançara que estas estariam a ser fabricadas na Central de Enriquecimento Mineral Oriental, em Dnipropetrovsk, e no Instituto de Investigação Nuclear, em Kiev. No entanto, a AIEA, que aceitou o convite da Ucrânia, fez questão de salientar que ambos os locais eram regularmente alvo de vistorias pelos seus investigadores. E que um deles até fora inspecionado o mês passado.

“Todas as nossas conclusões foram consistentes com as declarações de segurança da Ucrânia”, notou Rafael Grossi, diretor-geral da AIEA, terça-feira. “Nenhuma atividade ou material nuclear não declarado foi encontrado ali”.