Ocidente está “a chegar ao fim” e a próxima década é a mais “perigosa” desde a Segunda Guerra, disse Putin

No seu discurso anual no think tank russo Valdai Club, o líder russo defendeu que o seu país está num modo defensivo, que o Ocidente está a jogar um jogo “perigoso, sangrento e sujo” na Ucrânia e que nunca falou “proativamente” sobre o “possível uso” de armas nucleares.

Vladimir Putin afirmou esta quinta-feira que a Rússia “está apenas a tentar defender o seu direito de existir” e que o "domínio absoluto" do Ocidente está "a chegar ao fim".

No seu discurso anual no think tank russo Valdai Club, o Presidente da Rússia explicou que a próxima década é a mais “crucial” e “perigosa” desde a Segunda Guerra Mundial, frisando que o Ocidente “é incapaz de governar unilateralmente por mais que o tente fazer".

"A Rússia não está a desafiar as elites do Ocidente, a Rússia está apenas a tentar defender o seu direito de existir", continuou o líder russo, afirmando que o Ocidente, além de estar a "tentar limpar a Rússia da face do mapa político" está  a jogar um jogo "perigoso, sangrento e sujo" na Ucrânia.

Putin falou da sua família, nomeadamente dos pais – a mãe, enfermeira, e o pai, guarda noturno – para transmitir a mensagem de que está atento ao "pulsar da vida popular, como vivem os cidadãos comuns".

Falando sobre a invasão na Ucrânia em particular, e questionado sobre o que mudou no último ano, Putin continuou a falar da “operação militar especial” e refletiu sobre as tensões geopolíticas: "O que está a acontecer na Ucrânia em particular não são mudanças que estão em andamento desde o início da operação militar especial, são mudanças que vêm a acontecer há muitos anos. Alguns estão a prestar atenção. Estas são mudanças tectónicas de toda a ordem global. Inicialmente é tudo muito calmo e muito tranquilo, mas essas placas estão a mover-se constantemente, depois aproximam-se, as tensões aumentam e um terramoto acontece. É o que acontece aqui. Primeiro um acumular de tensões e depois um terramoto. Estas tensões costumavam acontecer no passado”, disse o líder russo, acrescentando que “estão a surgir novos centros de poder” e as mudanças em questão “estão a acontecer por razões objetivas", explicou.

Vladimir Putin argumentou também que a “operação” era um beco sem saída e, portanto, para si, tinha de ser posta em prática. "Tivemos que decidir o que fazer com o Donbass porque as pessoas viveram oito anos debaixo de fogo. Tivemos de reconhecer a sua independência", considerou, adiantando que o "próximo passo lógico" seria a incorporação da região na Federação Russa.

No que diz respeito às armas nucleares, tema que tem agitado os líderes do Ocidente, Putin disse que "há sempre o perigo de serem utilizadas", mas que nunca falou "proativamente" sobre o "possível uso" das mesmas.

A Rússia, continuou, não despreza a importância do Ocidente: "O diálogo entre a Rússia, o Ocidente e outros centros de desenvolvimento vão tornar-se mais importantes na nova ordem mundial”, disse, argumentando que tentou conservar as boas relações diplomáticas. 

"A Rússia não está a desafiar o Ocidente – a Rússia procura reservar o direito de se desenvolver. A nova ordem mundial deve ser baseada na lei e na ordem", disse, por fim.