BCE. Juros vão continuar a subir até convergirem com inflação para 2%

Lagarde lembra que a prioridade é a “estabilidade de preços” e promete cumprir missão “usando todas as ferramentas” que tem ao seu alcance. 

A subida das taxas de juro não vai continuar a dar tréguas. Ainda ontem, a presidente do Banco Central Europeu (BCE) confirmou que estes aumentos irão continuar para atingirem o objetivo de médio prazo de uma inflação de 2%.

Uma meta que ainda continua muito longe, já que a taxa de inflação anual na zona euro voltou a bater recorde este mês, chegando aos 10,7% em outubro, depois dos 9,9% verificados no mês passado, revelou o Eurostat. Em Portugal, a inflação este mês ficou ligeiramente abaixo da média europeia, com 10,6%. Estes números têm vindo a acelerar desde junho de 2021, principalmente devido à subida dos preços da energia, desde novembro de 2021.

“Desde julho aumentámos as taxas em 200 pontos base, o maior aumento na história do euro. Mas ainda não terminámos”, afirmou Christine Lagarde. E, na sua última reunião de política monetária, o Conselho do BCE decidiu voltar a subir as taxas de juro em 75 pontos base, tal como o i tinha avançado. E de acordo com os economistas, os juros deverão novamente subir em 0,5%, na próxima reunião, marcada para dezembro.

E para a presidente do BCE não há margem para dúvidas: “O nosso mandato é a estabilidade de preços e temos de o cumprir usando todas as ferramentas que temos ao nosso alcance, escolhendo as que são mais adequadas e eficientes”, afirmou, mas em relação ao patamar específico que as taxas atingirão disse apenas que “o destino é claro e ainda não chegamos lá. Teremos mais subidas dos juros no futuro”, garantiu, sem, contudo, avançar dados mais concretos, dado o atual ambiente “altamente incerto”.

Quanto aos riscos da conjuntura atual para o mercado imobiliário, a presidente do BCE reconheceu que a forte subida dos preços está a ter efeitos adversos no rendimento disponível das famílias, especialmente nas famílias de baixos rendimentos. Ao mesmo tempo, indicou que os níveis de emprego são “notavelmente sólidos” na zona euro, o que ajudou a fortalecer as finanças das famílias até agora, juntamente com as poupanças acumuladas durante a pandemia e os apoios públicos.

No entanto, admitiu que as famílias podem ser vulneráveis ao aumento dos custos do serviço da dívida, especialmente em países onde as propriedades residenciais estão sobrevalorizadas, os níveis de dívida são altos e uma parcela maior da dívida das famílias está sujeita a taxas de juro variáveis. Mas reconheceu que esses riscos “são mais bem abordados através de políticas específicas de cada país”. “Vamos dar uma imagem no final deste mês, quando publicarmos nossa Revisão de Estabilidade Financeira semestral”, acrescentou.

Em matéria bancária e sobre o impacto de um eventual aumento do crédito vencido, Lagarde explicou que os supervisores do BCE iniciaram uma revisão das práticas de provisionamento dos bancos mais importantes da zona euro, para garantir que estão preparados. No entanto, disse que o impacto direto da guerra sobre os bancos da zona euro tem sido limitado até agora, embora o ambiente para as empresas e para a economia como um todo se tenha alterado. E deixou uma garantia: “Todos devemos estar atentos e prontos para responder ao que possa acontecer”.