Há sinais de que os russos se preparam para retirar de Kherson

Face à derrota iminente, comandantes russos discutiram o uso de armas nucleares, acusam os EUA. Mas a retirada pode ser uma armadilha.

Surgem cada vez mais sinais de que as forças russas se preparam para retirar de oeste do rio Dnipro, incluíndo de Kherson, a única capital provincial que conquistaram desde 24 de fevereiro. Na prática, isso significaria que Vladimir Putin perderia o principal ganho que obteve com a sua aposta de invadir a Ucrânia. E o Presidente russo nunca foi conhecido como bom perdedor. Talvez por isso altas patentes militares russas tenham começado a discutir o eventual uso de armas nucleares no campo de batalha, avançaram fontes na Administração americana à CBS. As conversas decorrem desde meados de outubro, quando a cidade de Kherson já parecia prestes a regressar às mãos dos ucranianos.

Agora, isso parece iminente. “Provavelmente as nossas unidades, os nossos soldados, saírão para a margem esquerda”, chegou a admitir, um dos administradores instalados em Kherson pelo Kremlin, Kirill Stremousov, esta quinta-feira, numa entrevista a um site russo pró-Putin, citado pela Reuters.

A suspeita de que os militares russos estão de saída da cidade aumentou quando desapareceu a bandeira russa que fora içada sobre a sede da administração regional de Kherson, avançou o Moscow Times. Algo que nem nacionalistas russos deixaram de reparar. “Conduzi até ao edifício do antigo governo regional de Kherson. Posso confirmar que não há nenhuma bandeira”, admitiu Alexander Kots, um correspondente de guerra alinhado com o Kremlin, numa publicação no Telegram. 

Tal manobra deixaria os invasores na margem oposta à de Kherson. Perdendo ainda controlo da barragem feita para cortar o canal do Norte da Crimeia, construído em 2014, fazendo com que esta península perdesse acesso a mais de quatro quintos do seu abastecimento de água. E irritando Putin, ao dificultar o desenvolvimento da Crimeia – não foi por acaso que esta barragem foi um dos primeiros alvos na sua invasão.

De facto, a situação da guarnição russa tornou-se desesperada, com forças ucranianas a atingir com mísseis de longo alcance os acessos à margem ocidental, tornando quase impossível abastecê-la. Ainda esta quarta-feira foram divulgadas imagens de seis disparos — aparentemente utilizando os HIMARS enviados pela NATO – que atingiram um pontão construído pelos militares russos, paralelo à ponte de Antonivsky, que já fora danificada por bombardeamentos. A estratégia do Governo ucraniano, naturalmente ansioso por evitar a destruição causada por uma batalha urbana, parece ser forçar os invasores a retirar, em vez de tomar a cidade de assalto ou de a bombardear bairro a bairro, como tem sido a tática de Moscovo no Donbass.

No que toca a Kherson, começa até a faltar munições à guarnição russa, disse um alto dirigente da NATO ao Politico, na quinta-feira. Tem havido relatos que o Kremlin colocou novas unidades na região, mas isso servirá para cobrir a retirada, explicou. Mesmo assim, o Governo de Kiev não baixa a guarda 

“Isto pode ser uma provocação de maneira a criar a impressão que as localidades foram abandonadas, que é seguro entrar lá, explicou Natalia Humeniuk, porta-voz do comando militar sul da Ucrânia,. “Considerando que eles têm-se preparado para batalhas nas ruas há muito tempo, a maneira como posicionam as suas unidades, nós estamos conscientes das táticas planeadas e não devemos ter pressa”