António Barreto, um homem sem dono

A sua liberdade de pensamento é uma mais-valia para este país. À semelhança do que foi Henrique Medina Carreira.

Sou um leitor mais ou menos compulsivo de opinião de jornais e sites. Há nomes que sigo sempre, outros nem tanto. Vejo o tema em questão e percebo para onde vai a prosa. Mas, depois, há meia-dúzia que, por norma, não prescindo de ler – e aqui até há vários géneros, da política à psiquiatria.

Um nome há – e há mais – mesmo quando não concordo, que me vergo perante tanta independência de espírito e a quem este país muito deve – que falta faz Medina Carreira, outro livre espírito que também não tinha dono. Falo de António Barreto que, na sua última crónica do Público, ‘O génio de António Costa’, fez o retrato mais fiel e ao mesmo tempo demolidor do primeiro-ministro. Com a devida vénia, passo a transcrever alguns trechos da crónica. «É um raro percurso político o de António Costa. Foi, até hoje, um caminho difícil, no país e no partido, entre Soares e Sampaio, entre Guterres e Sócrates. Foi uma jornada muito difícil, com Soares e Sampaio, com Guterres e Sócrates. O que pareceu ser uma eterna assessoria foi finalmente uma obra de arte a desbravar um caminho e a subir a montanha». Basta olhar para o percurso do jovem António Costa até aos nossos dias para percebermos o que está nas entrelinhas.

«Libertou-se do seu negro passado que lhe adveio da experiência com o Governo de Sócrates. Resgatou os seus amigos que também ajudaram este último e agora o ajudam a si, com o mesmo ânimo de áulicos dedicados. A todos, soube mostrar que o seu futuro político dependia dele e só dele. Já meteu na ordem vários candidatos a delfim e outros putativos sucessores». Aqui não será muito difícil rever os seus governos e como há tantas semelhanças com os de Sócrates, ou de como vai afastando os Pedro Nunos Santos da vida. Ou de como permite a presença no Governo de secretários de Estado a contas com a Justiça.

«Formou governo sem maioria e conquistou o poder apesar de ter perdido as eleições. Soube servir-se de quem o queria matar e rejeitar quem o queria ajudar». Aqui também não é muito complicado visualizar o que António Barreto escreve, não merecendo sequer ‘legendas’.

Para não ser exaustivo, recordo o final do artigo do Público da semana passada. «Tendo afirmado a prioridade absoluta à luta contra a pobreza e a desigualdade, o que é nobre e importante, deverá um dia confessar a tremenda falta de resultados. O alívio do sofrimento, tantas vezes real, é sempre no imediato e no curto prazo. Como o Carnaval, o lenitivo acaba na terça-feira. A dor recomeça na quarta-feira». Melhor retrato do primeiro-ministro é impossível. Chapeau. É óbvio que num país de coachings e influecers António Barreto prega um pouco no deserto…

 

P. S. Joe Biden começa a ser famoso pelas gafes que põem em causa a segurança de muito boa gente. Depois da desastrosa saída do Afeganistão, o Presidente americano decidiu agora anunciar ao mundo que ia libertar o Irão. Numa altura em que os jovens enfrentam o poder dos aiatolas, aparece Joe Biden a dizer que os vai libertar? O que fez foi deitar gasolina na fogueira e tirar força aos protestos, pois o Governo agora tem razões para alegar que quem está por detrás dos protestos são os americanos. Foi por nabice ou incompetência? Com tantos disparates é natural que Trump vá ganhando cada vez mais espaço…

vitor.rainho@sol.pt