‘As startups olham para Portugal como um mercado estratégico para a expansão na Europa’

Carlos Melles lembra que tem havido uma maior aposta no aumento do ‘conhecimento, da produtividade’, uma vez que, defende, é isso que ‘traz maior robustez às micro e pequenas empresas’, o que dá ‘uma boa oportunidade de vir para o mercado internacional’. O presidente do Sebrae chama ainda a atenção para o facto de o…

O Sebrae, que tem como objetivo impulsionar negócios em Portugal, assinou um memorando com o IAPMEI no Brasil. Qual a importância desta parceria? 

O IAPMEI é uma entidade semelhante ao Sebrae. Nada mais correto do que estarmos juntos, iniciando esta parceria, onde o Brasil está usando Portugal por ‘n’ razões: desde a pátria mãe, à facilidade da língua, ao entendimento para podermos trazer às micro e pequenas empresas para fora do Brasil.

Mas esta ligação a Portugal não é nova…

Desde 2018, Portugal tornou-se um país prioritário para a estratégia de ações internacionais do Sebrae, através do programa StartOut Brasil, em que foi realizada a primeira incursão com 20 startups brasileiras. Em 2021, ainda no contexto de pandemia da covid-19, 15 startups brasileiras movimentaram USD 498.158 em negócios em Lisboa. Estes resultados confirmam que as startups olham para Portugal como um mercado estratégico para a expansão na Europa. O StartOut Brasil é um programa de apoio à inserção de startups brasileiras nos mais promissores ecossistemas de inovação do mundo. O programa já passou por Nova Iorque, Bogotá-Medelim, Buenos Aires, Paris, Berlim, Miami, Lisboa, Santiago, Toronto, Boston, Xangai, Bogotá-Medelim, Nova Iorque e Chicago.

Por serem empresas de pequena dimensão não haverá uma maior dificuldade neste processo de internacionalização?

Há. Tudo o que é menor, que não tem escala fica mais difícil, mas há países como a Itália e como a Alemanha que têm muito sucesso na internacionalização das pequenas empresas. E o Brasil também tem esse potencial, desde o agro até ao artesanal, que passa pelo comércio, serviços, turismo e inclusive indústria. Há um potencial real e outros países já mostraram isso. O Brasil tem um mercado consumidor muito forte: 220 milhões de brasileiros e temos vindo a apostar no aumento do conhecimento, da produtividade porque isso traz maior robustez às micro e pequenas empresas e consequentemente não nos dará um excedente, mas uma boa oportunidade de vir para o mercado internacional.

Portugal irá funcionar com uma porta de entrada para outros países?

Primeiro vamos olhar para a União Europeia como um todo. A União Europeia deu uma condição muito favorável de igualdade a todos os países. O Brasil tem procurado internacionalizar, fazendo identificações geográficas de produtos brasileiros, produtos que têm inclusive denominação de origem. Coisas que nos dão uma boa esperança de melhorar o comércio com Portugal, com a União Europeia e agregar valores de produtos. E depois Ásia. Queremos que seja uma coisa que todos ganhem com isso.

E as empresas portuguesas também podem ir para o Brasil?

A mão é dupla.

Há uma aposta em algumas áreas específicas?

O que hoje realmente importamos de Portugal é azeite e vinho. Também consumimos muitas sardinhas. Mas são coisas sem muita importância no sentido de volume, de movimentação financeira. O que vamos agora experimentar é aproximar Portugal com o Sebrae para ver se conseguimos colocar produtos brasileiros para o mundo através de Portugal. 

Estiveram esta semana no Web Summit…

O Sebrae é a maior instituição inovadora do Brasil. O Brasil melhorou muito o ambiente de negócios, o Congresso deu condições muito favoráveis para isso. Primeiro no desburocratizar, depois em trazer marcos regulatórios que dessem segurança às empresas, às startups e há uma onda evolutiva no Brasil nessa área de inovação muito positiva. O evento em Portugal chama a atenção do mundo inteiro e tem chamado a atenção do Brasil, tanto que o Brasil ganhou a oportunidade de fazer no próximo ano a Web Summit e uma das maiores delegações do Brasil do evento em Portugal é brasileira, trazendo quase 300 startups para se apresentarem ao mundo. 

E formalizaram a sua adesão ao World Trade Center Lisboa (WTC)…

 A aposta do Sebrae na cooperação se materializa também por meio da adesão ao World Trade Center Lisboa, a maior associação empresarial internacional do mundo. Contempla 320 unidades, em 92 países. E tem como objetivo o contacto com potenciais parceiros e empresários, o fortalecimento da marca junto a atores internacionais, o apoio à internacionalização dos pequenos negócios, a articulação com entidades setoriais de turismo e o acesso a atores locais vinculados ao desenvolvimento territorial e à educação empreendedora. Portugal é um ecossistema vibrante, com vocação para o empreendedorismo e para a inovação. Junto ao WTC, vamos aproximar as empresas brasileiras dos maiores players do mundo, oferecendo um ambiente propício e suporte técnico à expansão desses negócios para que, de facto, a internacionalização seja bem-sucedida. 

Está também previsto um encontro com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)…

Esta será a primeira reunião das instituições pares ao Sebrae no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). A ideia é dialogar sobre o impacto e as contribuições dos pequenos negócios nas economias nacionais dos Estados membros da CPLP, assim como discutir e propor ações para o fortalecimento de estratégias para a promoção dos pequenos negócios e do empreendedorismo no âmbito da CPLP e contribuir para o papel das instituições de apoio e promoção dos pequenos negócios e do empreendedorismo nas estratégias de desenvolvimento económico dos Estados membros da CPLP.

Um dos ‘slogans’ do Sebrae é 50+50…

O Sebrae está fazendo 50 anos e estipulámos alguns pilares. Um deles é ter um canal empreendedor no Brasil que fale em educação, em empreendedorismo, que mostre casos concretos. Outro é a internacionalização das micro e das pequenas empresas e é isso que estamos fazendo agora em Portugal, buscando espaço para trazer pequenas empresas para o mundo. E coisas dessa natureza estão acontecendo. 

Sente que o empreendedorismo entrou na cultura brasileira?

O Brasil no ranking da monitorização global do empreendedorismo está sempre nos primeiros dez países do mundo e agora parece que está em quinto lugar. O povo brasileiro é um povo empreendedor e isso faz uma diferença bastante grande no que está acontecendo. O Brasil tem hoje mais de 20 milhões de micro e pequenas empresas empreendedoras e tem quase 90 milhões de brasileiros que dependem delas. E representa 30% do PIB brasileiro.

E esta cultura de empreendedorismo e esta aposta nas micro e pequenas empresas poderá sofrer alterações com as eleições? 

O Sebrae ofereceu um guia da micro e da pequena empresa, em que apresentou a sua evolução, a importância das micro e das pequenas empresas, a importância da atenção governamental nesta matéria, sobretudo quando estamos a falar de geração de empregos. Mas as micro e as pequenas empresas sempre foram apoiadas pelo Congresso. O Congresso foi o grande ponto de modificação nas micro e nas pequenas empresas e esperamos que o próximo Governo vá continuar a apostar, até porque o Governo que vem fez muito pelas micro e pequenas empresas, no que diz respeito aos marcos regulatórios. A lei geral das micro e pequenas empresas nasceu no Governo de Lula da Silva.

 

Missão do Sebrae 

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) é uma entidade privada que promove a competitividade e o desenvolvimento sustentável dos empreendimentos de micro pequenas empresas com uma faturação anual até 4,8 milhões de reais. As soluções desenvolvidas pelo Sebrae atendem desde o empreendedor que pretende abrir seu primeiro negócio até pequenas empresas que já estão consolidadas e buscam um novo posicionamento no mercado. Atua em todo o território brasileiro e é responsável pelo planeamento estratégico do sistema, definindo diretrizes e prioridades de atuação. Funciona como agente de capacitação e de promoção do desenvolvimento, atuando junto de bancos, cooperativas de crédito e instituições de microcrédito. Também orienta os empreendedores para que o acesso ao crédito seja um instrumento de melhoria do negócio.