Uma questão de Visão

Estamos perante uma crise que urge resolver, seguindo a proposta da Estratégia Nacional para a Saúde da Visão, que mostra que 60% das causas de deficiência visual e cegueira evitável podem ser resolvidas nos cuidados primários e 80% evitadas com tratamento atempado. 

Por Raúl Alberto de Sousa, Presidente da Direção da APLO – Associação Portuguesa de Licenciados em Optometria

Felicita-se o Estado português pelos compromissos assumidos na Assembleia-Geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) e na Organização das Nações Unidas, para a implementação de cuidados primários para a saúde da visão.
Os objetivos estabelecidos de aumento da cobertura efetiva de erros refrativos em 40% e de cirurgia à catarata em 30%, só podem ser alcançados centrando os cuidados para a saúde da visão nas pessoas. Cuidados que devem ser atempados e de fácil acesso e proximidade nas comunidades.

Cada euro investido em saúde da visão tem um retorno de dez euros em produtividade e, se não bastasse a importância de protegermos a saúde visual da população, este dado de impacto económico é suficiente para nos motivar para a ação.

A iniciativa da OMS ‘Saúde da Visão nos Sistemas de Saúde: Um Guia para a Ação’ é uma base sólida, informada e fundamentada para a integração dos cuidados da saúde da visão e resposta às necessidades atuais e futuras.

Estamos perante uma epidemia da miopia, potenciada pelo confinamento e transição tecnológica e enfrentamos os desafios que resultam de sermos um dos países mais envelhecidos do mundo, com natural efeito nas condições oculares. A tudo isto acresce a redução para metade, esperada na próxima década, da força de trabalho para a saúde da visão no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Hoje os portugueses já sentem os terríveis efeitos das listas de espera para primeira consulta hospitalar e cirurgia da especialidade de oftalmologia, as maiores do SNS.

Estamos perante uma crise que urge resolver, seguindo a proposta da Estratégia Nacional para a Saúde da Visão, que mostra que 60% das causas de deficiência visual e cegueira evitável podem ser resolvidas nos cuidados primários e 80% evitadas com tratamento atempado. Está ao nosso alcance eliminar as listas de espera no SNS e reduzir a incapacidade visual. 

Portugal deve aproveitar a iniciativa da OMS e as recomendações de envolvimento dos optometristas, como parte da equipa de cuidados para a saúde da visão. O país dispõe de optometristas altamente treinados e preparados em exigentes licenciaturas, em número suficiente e com qualidade de nível mundial, responsáveis já por dois milhões de consultas anuais em todo o território.

A valorização e enquadramento dos optometristas permite responder de forma positiva, segura e confiante às dificuldades e necessidades dos utentes atuais e futuros, tal como acontece na esmagadora maioria dos países europeus. 

Compreende-se a importância de recuperar a regulamentação da profissão de Optometrista, processo interrompido em 2018, removendo o obstáculo à integração no SNS de todos os recursos humanos da saúde da visão, formados e disponíveis em Portugal. 

Dos optometristas, a disponibilidade é total para os compromissos assumidos, com o objetivo último de assegurar o acesso a cuidados de saúde da visão, com qualidade e com segurança. Este compromisso está alicerçado em décadas de cuidados de saúde prestados pelos optometristas portugueses, pelos quais os cidadãos nos conhecem e confiam.

É por tudo isto que depositamos expectativa e confiança no novo ministro da Saúde, Dr. Manuel Pizarro, e no Diretor Executivo do SNS, Prof. Doutor Fernando Araújo que, sabemos, ambicionam continuar a construir um SNS de qualidade, que garanta, também, os melhores cuidados de saúde visual a todos os portugueses.