O crime compensa

Nas últimas semanas, toda a nossa imprensa tem-se dedicado a uma cobertura desmesurada de um acto eleitoral que ocorreu no outro lado do Atlântico, atribuindo-lhe um significado praticamente semelhante a qualquer um outro que se tenha verificado por estas paragens.

Assim que o resultado da contenda foi conhecido, nas redes sociais multiplicaram-se as mensagens de júbilo de fervor patriótico, como se o candidato vencedor tivesse vestido as cores nacionais.

Para os mais distraídos, devo recordar que o Brasil já não é uma colónia portuguesa, sendo mesmo um país independente há precisamente dois séculos, razão pela qual todo este frenesim à volta de umas eleições que não nos dizem respeito não faz qualquer sentido, revelando-se, apenas, como um sinal de tacanhez e de saloiice em quem nele se entrega.

Por esta razão, a vitória de Lula em nada me afecta. Quanto muito poderá vir a afectar, e certamente que sim, os brasileiros, mas a decisão foi deles, pelo que apenas eles terão que viver com as consequências que vão resultar das suas escolhas.

No entanto, esta vitória do radicalismo de esquerda, camuflado com um abrir de olhos a determinados sectores supostamente mais à direita, tem que nos dar, a todos, que pensar, porque é demonstrativa da podridão em que se atolou a sociedade dos nossos dias.

Lula está de parabéns, sem dúvida, primeiro porque conseguiu que lhe permitissem concorrer à mais alta magistratura do seu país, apesar de ser um condenado pela justiça.

Depois, porque, mesmo por uma margem mínima, não obstante todos os apoios de que dispôs, logrou vencer o acto eleitoral, tendo o eleitorado feito vista-grossa de todos os crimes em que se envolveu.

Durante os oito anos em que se passeou na presidência, Lula conseguiu transformar o Brasil num autêntico pantanal de corrupção, ao qual quase todos os seus mais próximos foram mamar, a começar por ele próprio e pelos seus familiares mais directos.

Não foi só o Lula quem acabou na prisão: muitos dos seus ministros também foram lá parar e a sua vice-presidente, que posteriormente lhe sucedeu na presidência, teve de passar pelo vexame de ser destituída por, igualmente, se ter deixado atolar numa panóplia de processos de corrupção.

Há dias, não consegui conter o riso quando uma inflamada deputada bloquista, num programa televisivo que lhe procura projectar notoriedade, jurava a pés juntos que ficou provado que o julgamento que condenou Lula a uma pesada pena de prisão foi político, tendo sido declarada a sua inocência!

Ficou provado, acredito que sim, mas numa reunião da cúpula partidária em que a criatura milita, pois claro!

Os tribunais brasileiros não o absolveram dos crimes que cometeu, porque isso seria impossível, atendendo a todo um conjunto de provas incriminatórias que foram reunidas. O que aconteceu foi que o Supremo, manietado pela guarda avançada de Lula, encontrou alegados erros processuais, relacionados com a competência territorial da primeira instância judicial em que aquele foi declarado culpado, para determinar a sua libertação e anular as anteriores decisões em sede de juízo.

Outros processos, nos quais Lula estava enterrado dos pés à cabeça, foram declarados prescritos, safando-se, assim, de responder por eles.

Por esta razão, o processo dito democrático que o levou à eleição para a chefia do estado brasileiro está ferido de legitimidade, porque um comprovado corrupto não pode ser ratificado nas urnas para se tornar no líder supremo do seu povo.

Lula é um criminoso, mas é o exemplo vivo de que o crime, quando praticado por determinadas pessoas, compensa!

Nos tempos que correm existem dois tipos de corruptos, os bons e os maus.

O corrupto bom é aquele que se move nas águas da esquerda, mesmo que o faça somente por oportunismo declarado. Tudo lhe é perdoado e qualquer acusação que dê origem a um processo judicial não passa de uma cabala orquestrada pelos seus inimigos, apostados em o destruir através de ataques à sua honra e honorabilidade.

Qualquer prova de culpabilidade, mesmo que sancionada nas várias instâncias judiciais, é logo rotulada de forjada, sendo que a sua inocência está acima de qualquer dúvida.

O corrupto mau é todo aquele que não quis abraçar a cartilha do marxismo. Há mínima suspeição, mesmo que isenta de uma prova efectiva que a sustente, é de imediato condenado pela opinião publicada e alvo de repulsa generalizada.

Se absolvido em fase de julgamento judicial, mesmo que assente em comprovada inocência e não na impossibilidade de se provar a sua culpa, o julgamento civil de que foi vítima é o que fica registado, sendo que os juízes que o absolveram foram por ele comprados.

Este é o retrato actual de Portugal, do Brasil e da generalidade dos países que se dizem imbuídos do espírito democrático.

Quem, certamente, estará a esfregar as mãos de contentamento, perante todo este folhetim em que um sentenciado salta quase directamente da prisão para a presidência do seu país, é, obviamente, José Sócrates!

Se o seu amigo brasileiro, malgrado o cadastro que ostenta, conseguiu chegar onde chegou, cativando mesmo o reconhecimento internacional da esmagadora maioria dos politiqueiros que hoje dominam a cena política mundial, também ele, obviamente, poderá ambicionar em enveredar pelo mesmo caminho.

E até com mais legitimidade do que o outro, porque, ao contrário de Lula, Sócrates ainda não foi condenado em nenhum processo judicial, apesar de ter estado vários meses em prisão preventiva.

Se, por milagre, e em política os milagres acontecem, Sócrates lograr atingir a segunda volta das próximas eleições presidenciais, disputando-a, por exemplo, com André Ventura, muito naturalmente sairá vencedor do confronto, considerando que poderá contar não só com o apoio de toda a esquerda, que então já lhe terá perdoado e branqueado todos os seus pecados, como também dos próprios partidos do sistema à direita dos socialistas, alarmados com o discurso de que estará em causa a sobrevivência da democracia!

A História é um ciclo de repetições. Há dois mil anos, os judeus de então, chamados a escolher sobre quem queriam salvar da cruz, votaram no ladrão!

Não aprendemos com os erros do passado!

 

Pedro Ochôa