O menino da camisola 7

Da sua infância num pequeno clube chamado Pastilhas, na Cova da Piedade, ao mítico Real Madrid, foi infatigavelmente marcado pela ascensão a estrela. Figo condenou-se a isso. 

1.Luís Figo fez ontem 50 anos. Eu sei, eu sim, não faz sentido nenhum, ainda nem sequer me esqueci de quando fiz 50 anos e ele já lá chegou, ele que conheci ainda miúdo, para aí com 17. Parabéns meu querido! Lembro-me do teu desabafo. a 4 de Julho de 2004: «Em 90 minutos, não perdi uma final. Perdi toda uma carreira feita na Seleção nacional do meu país».  Podiam parecer palavras de um homem desiludido. Mas é preciso não conhecer Luís Figo para pensar assim. Nele a desilusão raramente tem espaço. O seu tempo é sempre um novo tempo. E os novos tempos trazem novas batalhas e, com elas, novas vitórias e novos triunfos. Trouxeram. Continuam a trazer. 

2. Não ganhou esse Europeu que devia ter sido nosso, mas a sua carreira está pejada de títulos ao longo do caminho. Esteve-lhe sempre na mais profunda intimidade do sangue ambicionar ser primeiro. Da sua infância num pequeno clube chamado Pastilhas, na Cova da Piedade, ao mítico Real Madrid, foi infatigavelmente marcado pela ascensão a estrela. Figo condenou-se a isso. Porque, mesmo no centro dos momentos difíceis, fez aquilo que o mundo dele esperava. Luís Figo: quantos adjetivos se colaram a este nome? Existe um silêncio mágico no exacto segundo que precede a obra de arte: o silêncio de quem sabe que vai testemunhar algo de único e não quer incomodar o criador… Às vezes era preciso vê-lo jogar em silêncio.

«Ele nunca desiste e nunca repete/e em cada rua é um menino/de camisola número sete», disse dele, um dia, Manuel Alegre num poema. Sete: foi das mãos do velho Di Stéfano que Figo recebeu a camisola branca com o número dez nas costas, mas ele ficará na nossa memória muito mais o sete do que o dez. Sete: número místico, número mágico, a reunião perfeita dos opostos. Um menino de camisola número sete. Um menino sério, no entanto. Já em menino Figo tinha este ar sério que o acompanha sempre. Mas, acreditem ele sabe rir. E a bola com ele. E nós que lhe damos aquele abraço de irmãos que dura para sempre.