Os casos de sucesso de quatro dias de trabalho na Europa e no mundo

A redução do período laboral está a ganhar força mas a ideia não é nova, ainda que a pandemia tenha vindo acelerar a transição. Um pouco por todo o mundo a ideia vai sendo posta em prática e há casos de sucesso, como a Islândia.

Em 1930, o economista John Maynard Keynes previu, num discurso intitulado ‘Possibilidades económicas para os nossos netos’, que, no espaço de um século, todos trabalhariam 15 horas semanais graças ao potencial de crescimento da riqueza e dos avanços tecnológicos.

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Bem, ainda não chegámos lá, mas é oficial que em Portugal a semana de quatro dias de trabalho vai começar a ser testada. Lá fora há quem já esteja mais avançado ou fale até em “sucesso esmagador”. O objetivo é claro: trazer maior satisfação aos trabalhadores, aumentando a sua produtividade.

O caso de maior sucesso a nível mundial pertence à Islândia, que avalia a experiência como um “sucesso esmagador”. Mas os testes demoraram tempo, os bons resultados não foram imediatos. A experiência, que se estendeu entre 2015 e 2019, consistiu em passar a semana de 40 horas de trabalho para 35-36 horas, sem baixar ordenados, e perceber o impacto em termos de produtividade e bem-estar dos trabalhadores. O teste abrangeu 1% da população, que cortou um dia útil de trabalho na semana, sem redução de salário. Resultado? Funcionários igualmente produtivos, mas mais satisfeitos e motivados. E também o stresse diminuiu.

Neste país, o teste foi promovido pelo Governo e dois think tanks (Association for democracy and sustainability e Autonomy) e estendeu-se a 2,5 mil pessoas, tendo sido concentrado no setor de serviços e envolvido funcionários públicos, privados, em escolas e em hospitais. Empregos industriais ficaram de fora.

Mas este não é o único exemplo. A 1 de janeiro deste ano, os Emirados Árabes Unidos adotaram a semana de quatro dias e meio de trabalho. Uma semana laboral mais curta que se aplicou às entidades do Governo e é compreendida entre o período de segunda a quinta-feira das 7h30 às 15h30 e à sexta-feira das 7h00 ao meio dia.

Para as empresas privadas, este modelo é facultativo.

Voltando ao continente europeu, no Reino Unido, a semana mais curta passou no teste e foi “aprovada”, com a maior parte das empresas (41 em 73) que participaram no projeto-piloto a pretenderem manter este modelo laboral a título definitivo.

Na verdade, o projeto ainda vai a meio mas os dados até setembro mostram que os níveis de produtividades permanecem iguais – se não mais elevados. “Estamos a verificar que para muitos é uma transição bastante suave, e que para alguns há obstáculos compreensíveis, especialmente aqueles que têm práticas, sistemas ou culturas fixas ou inflexíveis”, comentou Joe O’Connor, chefe executivo da 4 Week Global, que está a gerir este projeto-piloto.

E já muitas empresas garantiram que depois do final do teste vão tornar a medida permanente.

Aqui, a maioria das empresas disse que a mudança está a funcionar bem para os seus negócios, enquanto 95% revelaram que a produtividade permaneceu a mesma ou até melhorou durante a semana mais curta.

A Escócia também está em fase de testes. Como incentivo, as empresas que participam neste projeto recebem do Governo um apoio em torno das 10 milhões de libras esterlinas.

Outro caso de sucesso é a Bélgica, que em fevereiro deste ano avançou para a semana mais curta de trabalho. O primeiro-ministro, Alexander de Croo, defende que a intenção é tornar a economia mais dinâmica bem como melhorar a compatibilidade entre a família e o trabalho. Na Bélgica, o regime é ainda mais flexível. Ou seja, a jornada semanal clássica é de 38 horas mas o trabalhador tem a opção de trabalhar 45 horas numa semana e de deduzir as sete horas adicionais na semana seguinte. Neste país europeu, o regime de quatro ou cinco dias é uma decisão do trabalhar, que pode renovar ou alterar o pedido a cada seis meses.

O debate também já chegou a Espanha. No verão, o Ministério da Indústria realizou um plano para subsidiar mais de 100 pequenas e médias empresas que queiram ver como a semana de trabalho de quatro dias afeta a sua atividade. Além disso, em setembro, Joan Ribó, presidente de Valência, reuniu-se com os presidentes da Câmara de Comércio e da Confederação Empresarial da Comunidade Valenciana para propor que experimentem essa redução durante o mês de abril de 2023. A ideia é simples: como nesse mês há três segundas-feiras feriados, transferir o dia de folga de San Vicente Ferrer, que cai num domingo, para outra segunda-feira.

O orçamento para esta medida, que surge na sequência do projeto-piloto acordado entre o Governo espanhol e o Más País, é de dez milhões de euros.

No país vizinho, a Telefónica tentou testar a semana dos quatro dias de trabalho mas foi pouco depois rejeitada quase unanimemente pelos trabalhadores, uma vez que esta redução horária implicada uma redução salarial correspondente, ainda que a empresa assegurasse uma bonificação de 20% da perda.

Já na Suécia, esta semana de quatro dias de trabalho foi testada em 2015 mas as conclusões foram muito ambíguas e os políticos locais acharam a sua implementação dispendiosa. Mas as empresas gostaram da ideia e há quem a tenha mantido: a Toyota, por exemplo, já reduziu os turnos dos mecânicos há cerca de dez anos, e mantém essa política desde então.

Por sua vez, o país tem vindo a pressionar os empregadores para optarem pela redução da semana de trabalho para quatro dias, resultado de uma série de novas orientações económicas, que surgiram após a pandemia e que exigiram alterações profundas no mercado de trabalho. A ideia passa por promover um equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal.

Na Alemanha, são essencialmente as pequenas startups que têm experimentado com a semana mais curta.

Já no Japão, grandes companhias, como é o caso da Microsoft, estão a dar aos funcionários um fim de semana mais longo por mês.

E no caso da Nova Zelândia, o destaque vai para a multinacional de alimentos e produtos farmacêuticos Unilever que está a testar a semana de quatro dias com a mesma remuneração por cerca de um ano. Caso o modelo tenha sucesso, a empresa planeia expandi-lo para outros países.

Recorde-se que o modelo de quatro dias de trabalho e 32 horas semanais já revelou inúmeros benefícios além do bem-estar dos funcionários. O World Economic Forum (WEF) enumerou três razões que tornam a semana de quatro dias o padrão do futuro: não reduz a produtividade, podendo até aumentá-la, promove a igualdade de direitos e reduz as emissões de carbono.