Símbolos que dão vida

As mascotes também são a alegria dos grandes eventos desportivos.

por João Sena

La´eeb é o nome árabe da mascote do Mundial do Qatar e significa «jogador muito habilidoso». No mundo do desporto, as mascotes começaram a ganhar importância nas décadas de 60 e 70.

Há muito tempo que as grandes organizações utilizam uma mascote para criar à sua volta uma imagem positiva e simpática, ao mesmo tempo que proporcionam uma experiência invulgar aos fãs. São verdadeiros veículos de propaganda que criam vínculo com as pessoas através da empatia, humor, inteligência, simpatia e carisma. Tornam mais simpática e humana a associação com o público, e têm o dom de encantar as crianças – não podemos esquecer que elas participam em cerca de 80% das decisões de compra da família. Muitas pessoas torcem o nariz ou acham demasiado popular associar uma mascote que pode ser um animal, pessoa ou objeto animado a uma empresa ou evento, mas é inegável a importância que têm na interação da marca/evento com o público-alvo. Reúnem quase sempre características marcantes, seja sorrisos enormes, proporções exageradas ou aspetos positivos que se identificam com o público. Se forem bem conseguidas, são o meio de divertir e fazer reagir as pessoas. Algumas tiveram um poder tão forte que marcaram as nossas vidas. Há símbolos famosos que não nos saem da cabeça, mesmo depois de muitos anos.

Experiência invulgar para os fãs

No mundo do desporto, as mascotes começaram a ganhar importância nas décadas de 60 e 70 possibilitando aos adeptos uma nova experiência, sobretudo nos Estados Unidos, onde são verdadeiros ícones dos clubes. Nos anos 80, tornaram-se mais atrativas e ganharam relevância, desempenhando um papel de entretenimento. A mascote é um símbolo do clube que permite que todos se identifiquem com os valores por ela transmitidos, bem como com a história contada. Quando bem utilizado, o poder das mascotes é brutal. Na NBA, por exemplo, a mascote de uma equipa ganhadora pode gerar 10% das vendas totais de merchandising durante a temporada – mais do que ganham muitos jogadores.

No primeiro Campeonato do Mundo de Futebol que se realiza num país do Médio Oriente (20 de novembro a 18 de dezembro), a influência das culturas árabe e muçulmana está bem presente nos vários símbolos que marcam o evento. A mascote do Qatar 2022, La´eeb, foi desenvolvida com imaginação, tem um look surpreendente e consegue humanizar um evento que foi alvo de severas críticas por parte da comunidade internacional por violação dos direitos humanos. Tem a capacidade de ligar o produto futebol a uma figura que expressa sensações (alegria, entusiasmo e emoção) e vai acompanhar os adeptos durante o mês de competição.

La´eeb significa, em árabe, «jogador talentoso» e para a FIFA «a mascote oficial do Campeonato do Mundo de 2022 está cheia de energia e vai trazer a alegria do futebol para todos. La’eeb acredita que “Agora é Tudo” e encoraja todos a acreditarem em si mesmos».

Como sempre acontece, a mascote de um grande evento representa as características principais do país anfitrião, os seus costumes e tradições, a cultura e o vestuário, entre outros aspetos. A La´eeb é inspirada no ghutra, turbante branco tradicional da cultura árabe, e inclui elementos regionais do Qatar como o igal, cordão preto que leva na testa. O turbante é um acessório típico da cultura árabe e considerado um elemento fundamental da religião islâmica que é professada por 77% da população qatari. Uma particularidade: pela primeira vez numa competição de futebol a mascote não tem pés!

«Onde quer que esteja, La’eeb transmite seu espírito jovem, a alegria de viver e sua autoconfiança. La’eeb vem de um mundo paralelo, um mundo onde as mascotes são seres por direito próprio, um mundo onde as ideias e imaginação fluem na mente de todos. Temos a certeza de que os fãs vão adorar esta personagem divertida e brincalhona. La’eeb desempenhará um papel vital ao envolver adeptos jovens e mais velhos na experiência do Mundial no Qatar», disse Khalid Ali Al Mawlawi, vice-diretor geral de marketing da FIFA. La’eeb vai estar em todos os lugares inspirando os adeptos e vibrando durante todos os jogos. Os fãs da mascote têm ao seu dispor gifs, wallpapers e imagens de La’eeb nas principais redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter, TikTok, WhatsApp e Snapchat). No Qatar, o preço oficial da mascote La´eeb é de 25 euros.

O Mundial ainda não começou e La´eeb já é famosa por uma razão que nada tem a ver com futebol. Quando foi apresentada, as redes sociais animaram-se a dizer que era um fantasma pela sua semelhança com o personagem do filme de animação, “Gasparzinho, o Fantasminha”. Em pouco tempo La’eeb tornou-se famosa na internet, e já há tutoriais a ensinar a desenhar a mascote na perfeição. A seleção mexicana pegou na ideia e lançou um turbante oficial em tons de verde e branco, as cores da seleção azteca, para os adeptos que vão ao Qatar. Os famosos sombreros que os exuberantes mexicanos passeiam com desmedido orgulho, desta vez, ficam em casa.

Recuando no tempo, o Campeonato do Mundo de Inglaterra, em 1966, foi a primeira grande competição de futebol a ser acompanhada por uma mascote. Era um leão chamado Willie, que vestia a camisa da Union Jack com a inscrição “World Cup”.

A imagem do Qatar 2022 inclui também o cartaz oficial, que tem a particularidade de ter sido projetado por uma mulher, Bouthayna Al Muftah. O cartaz em tom monocromático mostra o tradicional ghutra a ser lançado ao ar e que simboliza a paixão pelo futebol no mundo árabe. A palavra Hayya, o hino oficial do Mundial, também está presente. Para o diretor de marketing da FIFA, Jean-François Pathy, «o cartaz oficial reflete a herança artística e futebolística do Qatar e ilustra a paixão deste país pelo futebol».

Impossível esquecer

O Kinas foi o nosso herói no Campeonato da Europa da Futebol, que se realizou em Portugal em 2004. A mascote oficial da seleção portuguesa, desenhada pela Warner Brothers, teve excelente aceitação e rapidamente se tornou um dos rostos do torneio. Todos gostavam do rapaz traquinas que vestia as cores nacionais e estava sempre com a bola, tinha uma genuína e inocente paixão pelo futebol. O Kinas era o símbolo do entusiasmo que os portugueses sentem pelo desporto em geral, e pelo futebol em particular. Representava também a hospitalidade, as tradições históricas e culturais, e o espírito amigável que existe em Portugal. Foi um bom exemplo do que é o nosso país. O nome nasceu em honra dos cinco escudos azuis – ou quinas – da bandeira nacional que representam os cinco reis mouros que D. Afonso Henrique derrotou na Batalha de Ourique. O Kinas foi apadrinhado por Eusébio, uma lenda do futebol português. Foi a primeira mascote de um europeu de futebol que não era um animal. A narrativa à volta do Kinas dizia que este tinha nascido numa pequena aldeia no interior de Portugal e possuía poderes sobrenaturais para jogar futebol. Mesmo assim não evitou a derrota frente à Grécia naquele maldito dia 4 de julho.

Redondo como um pneu

O personagem Bibendum – ou Bib –, símbolo da Michelin, surgiu em 1898, e é das imagens mais conhecidas em todo o mundo. O nome Bibendum tem origem na frase latina “Nunc est bibendum” (bebamos agora). Antes mesmo da criação da mascote, André Michelin costumava pronunciar a frase «o pneu bebe o obstáculo» como forma de defender as qualidades dos pneus de sua companhia. A idealização do boneco começou involuntariamente anos antes, quando os irmãos Michelin observavam uma pilha de pneus de diferentes dimensões numa exposição em Lyon. A aparência corpulenta formada pela pilha chamou a atenção de Edouard e André, que se lembrariam dessa imagem quando decidiram criar a mascote da marca. O boneco sempre foi branco para respeitar a tradição – de início os pneus eram cor de marfim e só em 1912 apareceram os primeiros pneus pretos. O Bibendum sempre foi muito versátil. Adaptava-se aos lugares e às ocasiões, em Inglaterra tornou-se um cavalheiro, e nos Estados Unidos virou cowboy. Também apareceu de binóculos e a fumar um charuto cubano. Famoso em todo o mundo, o Bibendum foi eleito pelo jornal The Financial Times e pela revista Report On Business como o melhor logótipo do mundo.