Geração mimada

O mais extraordinário é que os meninos que fazem gazeta às aulas, merecendo tempo de antena das televisões e tudo o que é meio de comunicação social, mudam de telemóvel frequentemente, têm sempre o tablet mais moderno, usam tintas poluentes para o cabelo e para as tatuagens.

Dos vários textos que li sobre a vida de Adriano Moreira, retive que o antigo político ia para a escola a pé, percorrendo distâncias consideráveis. Por outro lado, lembro-me da quantidade de alunos que não tinham dinheiro para ter o passe da Carris e iam a pé para o liceu D. Dinis, andando alguns quilómetros quando não havia dinheiro para entrar na carreira 60 ou 55.

Vem esta conversa a propósito dos meninos que andam a fazer manifestações nas escolas, barricando-se contra o capitalismo – onde e quando é que já vimos isto? – exigindo o fim quase imediato dos combustíveis fósseis e ainda a demissão do ministro da Economia e do Mar. O mais extraordinário é que os meninos que fazem gazeta às aulas, merecendo tempo de antena das televisões e tudo o que é meio de comunicação social, mudam de telemóvel frequentemente, têm sempre o tablet mais moderno, usam tintas poluentes para o cabelo e para as tatuagens – passe o exagero – e, nalguns casos, já marmanjões e com idade para ter carro, aparecem no liceu ou na universidade ao volante de veículos modernaços de quatro ou de duas rodas. Sejam a gasolina, gasóleo ou elétricos. Como se os carros a eletricidade não poluíssem – calculo que saibam o que é uma bateria a lítio. Isto já para não falar das viagens low cost que fazem e que inundam os céus do planeta de poluição.

É esta geração de meninos mimados que exige o fim do capitalismo quando são eles próprios o maior exemplo disso? Basta ir ver o parque automóvel das universidades ou ver como uma parte dos meninos chega ao Liceu D. Pedro V, por exemplo, onde passo todos os dias, para se perceber que estão a brincar ao ambiente como podiam estar a jogar a ver quem bebe mais ‘unhas’ ou shots, como se queira, num dos vários bares do Cais do Sodré, de Santos ou do Bairro Alto. Já agora, nas noites que enchem as ruas de lixo podiam fazer equipas de limpeza para deixar os espaços como os encontraram.

Se querem lutar por um mundo menos poluído, então que comecem a andar quilómetros a pé, que só faz bem ao coração e a tudo, que deixem de passar horas a consumir energia com os seus telemóveis, que os utilizem durante anos e não os mandem para o lixo ao fim de pouco tempo. E, já agora, que esqueçam as trotinetes que só poluem as ruas e fazem estragos na saúde dos mais velhos que são atropelados, além de poluírem os rios para onde são atiradas. Aí sim, os meninos mimados podem utilizar a sopa que querem atirar às obras de arte na sua alimentação diária, já que faz menos menos estragos ao planeta do que os hambúrgueres e cachorros que consomem ou dos cereais geneticamente manipulados que tanto gostam, como seja a soja e tofu, entre tantos outros. Resumindo, deixem de consumir compulsivamente e depois protestem.

Curiosamente, e não por acaso, numa destas noites em que estiveram barricados, quem apareceu com comida e bebida foi uma delegação do Bloco de Esquerda, dando à manifestação o toque político que faltava. Estando a desaparecer do radar mediático, resta ao BE mostrar a sua solidariedade aos meninos mimados.

 

P. S. Por falar em meninos mimados, não é que a ministra da Presidência decidiu contratar um jovem militante do PS que irá ganhar quase quatro mil euros por mês, como se isso não fosse uma ofensa para todos os médicos, professores, enfermeiros e, já agora, técnicos do Ministério que trabalham há dezenas de anos e ganham muito menos? O rapazola já demonstrou algum talento para merecer esse vencimento? Calculo que o cartão de militante seja a melhor prova do seu talento… O PS perde mesmo a cabeça quando está no poder com maioria absoluta e acha que tudo é normal. Tão normal que o primeiro-ministro não demitiu um secretário de Estado Adjunto que tinha dado mais do que provas de incompetência, para não dizer outra coisa. Essa outra coisa fica para os tribunais.

P. S. 2. O dinheiro não falta para os boys, mas depois os polícias têm de andar em carros a cair de podres, sem capacetes para intervirem em situações mais delicadas e por aí fora. É o país dos jobs for the boys. Há dúvidas?

vitor.rainho@nascerdosol.pt