Brasil. Lula de “carona” com empresário que esteve preso

Especialistas e até apoiantes de Lula criticam decisão do novo Presidente do Brasil.

O Presidente eleito do Brasil, Lula da Silva, está a ser criticado por ter viajado para a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27) no avião de José Seripieri Filho, empresário que foi preso numa operação da Polícia Federal que investigava irregularidades relacionadas com a campanha de José Serra, em 2014, quando este foi eleito senador pelo estado de São Paulo.

“Não faz o menor sentido que o Presidente eleito do Brasil viaje para o Egito num compromisso oficial num avião privado de um empresário. Não é um empresário qualquer, é um amigo do Lula envolvido com a Justiça e que já foi preso e se enrolou com um caixa 2 do José Serra”, disse o colunista do UOL News, Josias de Souza, acrescentando que “um Presidente da República eleito viajando para o Egito nas asas de uma ‘encrenca’ como essa é algo inacreditável e inaceitável”, disse. 

Lula entrou no avião modelo Gulfstream G 600 que partiu do aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na manhã de segunda-feira. Este avião pertence a Seripieri, com quem Lula mantêm uma relação de amizade há pelo menos 12 anos. 

“Trata-se de um ato totalmente ilógico e incoerente de um futuro Presidente da República”, acusou a advogada constitucionalista Vera Chemin, citada pelo jornal Valor Econômico. “Remete a um descaso com a ética e moralidade que são inerentes à relevante função pública que exercerá, uma vez que se supõe o uso de um avião de carreira para tal objetivo, tendo em vista que ainda não ascendeu à Presidência”, concluiu.

Esta viagem também preocupa os apoiantes de Lula. “Lula foi no mínimo ingénuo”, disse um assessor direto do líder do PT. “Pode não ser ilegal, mas é óbvio que é uma boleia que ele deveria evitar. Ele não liga para essas coisas, mas deveria”, afirma um ex-ministro do segundo governo Lula que também manteve o anonimato, citados pelo Rádio Jornal Pernambuco.

O empresário fundou a Qualicorp em 1997, um projeto que tinha como objetivo vender planos de saúde em grandes quantidades para entidades de classe e empresas, mas abandonou este projeto para criar o Qsaúde, apesar de não ocupar um lugar na administração desde 2019. 

Seripieri esteve preso durante três dias em julho de 2020 no âmbito da Operação Paralelo 23, onde estavam a ser investigados pagamentos para a campanha de José Serra ao Senado, em 2014. Esta investigação ocorreu no âmbito da operação Lava Jato Eleitoral.

O brasileiro foi acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e caixa dois pela Justiça Eleitoral de São Paulo. O senador também respondeu no mesmo processo.

Entre a comitiva que se deslocou no avião estavam ainda a mulher de Lula, Rosângela Silva, mais conhecida por Janja, e o antigo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.