Judo. Presidente foi ao tapete

Acabou o reinado de Jorge Fernandes e da sua direção na Federação Portuguesa de Judo. O Instituto Português do Desporto e da Juventude não gostou do que viu e retirou-lhes o mandato.

por João Sena

Há muito que se sabia que havia ‘mosquitos por cordas’ na Federação Portuguesa de Judo (FPJ), e depois de concluído o inquérito realizado pelo Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ) confirmou-se a perda de mandato de Jorge Fernandes por “incumprimento do presidente da direção federativa”, adiantou uma fonte do IPDJ à agência Lusa. Jorge Fernandes chegou à federação em 2017 e foi reeleito para segundo mandato há dois anos. O organismo que tutela o desporto confirmou que o presidente e a direção vão perder o mandato por violação do “artigo 51.º do Regime Jurídico das Federações Desportivas (RJFD), no qual é elencada a perda de mandato de titulares de órgãos federativos, por inelegibilidade, incompatibilidade ou por terem intervenção em contrato no qual tenham interesse”, essa incompatibilidade nasce do exercício de funções de Jorge Fernandes no Judo Clube de Coimbra, e que motivou uma queixa da Associação de Judo de Castelo Branco, que foi também enviada ao Comité Olímpico de Portugal (COP).

 

Cumprir a lei

A federação já foi notificada das conclusões do inquérito, e cabe à assembleia-geral destituir o presidente da direção. Jorge Fernandes já reagiu à decisão do IPDJ afirmando que não terá qualquer problema em cessar funções na Federação Portuguesa de Judo, após as conclusões do inquérito de que foi alvo. “Sei que veio um documento, que foi enviado para o advogado e ficámos de falar sobre isso”, disse à Lusa. Jorge Fernandes acrescentou ainda que o assunto foi entregue ao advogado da FPJ que deu o parecer positivo quanto à possibilidade de ser treinador no Judo Clube de Coimbra, uma das incompatibilidades evocadas para a perda de mandato. “Vou falar com o advogado e mediante o que ele disser irei convocar, ou não, os órgãos para dar seguimento ao processo”. O ainda presidente da federação explicou que foram várias as acusações que lhe foram imputadas, nomeadamente o de ser presidente do Judo Clube de Coimbra, ser treinador dos escalões de formação desse clube e que teria contratado o seu filho para a equipa técnica do departamento de judo juvenil da FPJ, só que neste caso o seu filho já era pago pela federação antes da sua presidência. O responsável federativo reconhece que “se houver alguma irregularidade a lei tem de ser cumprida, ponto final, e se a consequência for perder o mandato tenho de aceitar. Não o fiz em prejuízo da modalidade, isso é garantido e os números falam por si. Não me vou incompatibilizar com ninguém”.

Apesar da denúncia feita por um clube que pertence à federação e do conflito com alguns dos melhores judocas portugueses, Jorge Fernandes afirmou: “Tenho a certeza de que fiz o melhor pela modalidade. Contribui para o melhor momento do judo de todos os tempos, e não quero ser eu agora a denegrir essa imagem”. Lembrou ainda as muitas medalhas conquistadas nos últimos seis anos, com dois títulos mundiais – são os mesmos atletas que ameaçou levar a tribunal por criticarem o seu comportamento – e que, em 2023, Portugal vai receber dois Grand Prix, três Taças da Europa, um campeonato da Europa de cadetes, um campeonato do mundo de juniores – “isto é que me deixa satisfeito. Não estou chateado, não saio como criminoso, não fiz mal nenhum. Fiz aquilo que achei que era o melhor para o judo, sem saber que estava a incumprir”.

A decisão do IPDJ acontece na mesma altura em que está a decorrer uma auditoria extraordinária à FPJ, com o objetivo de avaliar a execução financeira do programa olímpico da modalidade, pois vários atletas queixaram-se de que não tinham apoio financeiro da federação para cumprir o plano de preparação com vista aos Jogos Olímpicos de Paris em 2024. Há muito que o clima no judo português é de grande tensão, com os melhores atletas, aqueles que trazem medalhas para Portugal, a acusarem o presidente da FPJ de comportamentos pouco éticos, discriminação e clima de opressão, com o responsável federativo a responder ameaçando levar os críticos a tribunal.

 

Satisfação

Obviamente que a destituição do presidente da FPJ motivou vários comentários nas redes sociais dos atletas que estavam em rutura com Jorge Fernandes. Telma Monteiro, a judoca portuguesa mais medalhada de sempre, partilhou a notícia no Facebook, o que motivou comentários de satisfação de outros atletas e dos seus seguidores. Fernando Pimenta foi bastante cáustico e comentou: “Boa viagem, se precisarem de ajuda para comprar o bilhete de avião (só ida) eu ajudo. Uma vitória, num combate que os atletas não deviam ser sujeitos. Mas está ganho. Parabéns pela coragem e frontalidade”.