Quem passa por Alcobaça

por Nélson Mateus e Alice Vieira

Querida avó,

Gosto, sempre, de voltar a Alcobaça. Como não podia deixar de ser, visito o Mosteiro, delicio-me com a belíssima gastronomia e (pecaminosa) doçaria conventual, perco-me pelas lojas de artesanato e, como não podia deixar de ser, venho sempre com um carregamento de maçãs e peras de Alcobaça.
Ao longo deste último mês, como sabes, fui várias vezes a Alcobaça.
A exposição sobre a tua vida e obra, que foi integrada na 8ª edição do Books&Movies – Festival Literário e de Cinema de Alcobaça, e que esteve patente no Armazém das Artes, foi um sucesso.
Gostei imenso de conhecer José Aurélio. Neste espaço de cultura podemos encontrar um significativo conjunto de obras de sua autoria, que abrangem várias épocas e fases do seu percurso. Em Lisboa temos algumas obras do escultor. As Gárgulas da Torre do Tombo são de sua autoria e não são indiferentes a quem as observa. 
Tu que gostas de escrever livros sobre lendas e contos, tens em Alcobaça uma grande fonte de inspiração. 
Uma das que mais gosto é a que deu o nome à cidade.
Consta que os rios Alcoa e Baça nasceram das lágrimas derramadas por dois enamorados que viveram um desgosto amoroso. Ele com o nome Alcoa, ela com o nome Baça.
Mas tens outras como a de Pedro e Inês, cujos túmulos estão no Mosteiro, a da Rainha Rabuda, a de Ressurreição de D. Pedro I e muitas mais.
Terminei com chave de ouro, com uma linda tertúlia com os alunos da Universidade Sénior da Bendita.
Como cantava Maria de Lurdes Resende: «Quem passa por Alcobaça/ Não passa sem lá voltar».
Espero voltar em breve a Alcobaça! Desta vez com a exposição do Ruy de Carvalho.
Agora, se não te importas, vou cuidar de mim para as “Termas da Piedade” no acolhedor Your Hotel & Spa Alcobaça.
Bjs

Querido neto,

Quando eu era miúda lembro-me de ir muitas vezes a Alcobaça, com os meus tios. O que é que eles iam lá fazer, disso é que eu não me lembro. Mas os meus tios eram assim, ora lhes dava para irem meses e meses para Sintra, ora para Santa Cruz (lembro-me que o café onde abancavam se chamava “Mar Lindo”, acho que ainda existe), ora para Mondariz, na Galiza.
Eu gostava de ir a Alcobaça, mas durante muitos anos não voltei lá. Mas lembro-me de que a última vez que lá estive foi para participar num colóquio sobre livros e filmes, chamado “Books and Movies”. Lembro-me de que fiquei danada com este título, ainda por cima os livros e os filmes eram todos portugueses. Protestei junto da organização, que me disse que tinham escolhido um título em inglês para ver se os miúdos acorriam. Ainda fiquei pior.
E não é que, tantos anos depois, fui encontrar a Vereadora da Cultura que me tinha dito isso? O que nós nos rimos.
Fiquei muito feliz com o convite para a minha exposição ser integrada no evento deste ano. Adorei estar à conversa com os miúdos. O Armazém das Artes é um belíssimo espaço. Deviam existir muitos mais “Josés Aurélios”. 
Foi muito bom ter lá ido agora contigo e com a tua mãe (acho que ela também gostou muito!) e, de repente, lembro-me de muitas coisas – aquela rua que subia, a estrada que era paralela ao café, o rio.
Mas, do que eu gostei mesmo mais mais, foi de lá ter encontrado o meu velho camarada dos jornais, Basílio Sousa, que eu já não via sei lá há quantos anos e que agora mora lá.  Quando ele me apareceu pela frente eu nem queria acreditar! Aquilo foi beijocada e mais beijocada e ambos a recordarmos velhos camaradas, «e o Geninho? E o Ribeiro Cardoso? E o António Manuel? E o Jorge Barros, fotógrafo?», e ele a mandar abraços para todos. Quando cá cheguei liguei logo para eles a dar-lhes os abraços e eles também ficaram muito contentes.
É muito bom rever amigos.
Fica bem.