PSP e GNR. “Aquilo são chats privados, são expressões de emoções”

As forças de autoridade ficaram em causa com uma reportagem televisiva, onde centenas de agentes são acusados de racismo e xenofobia. MAI divulga processos disciplinares em curso.

Onze elementos da PSP, GNR e SEF foram alvo de processos disciplinares por racismo ou ódio nos últimos quatro anos, estando ainda 18 casos pendentes na Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI), revelou ontem o Ministério da Administração Interna (MAI).

Entre 2018 e o presente ano foram abertos 36 processos disciplinares a militares da GNR, agentes da PSP e inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) “por comportamentos ou atitudes racistas, xenófobas e radicais, no desempenho de funções ou resultantes de publicações nas redes sociais”, segundo dados do MAI enviados à Lusa. 

Penas disciplinares, como a expulsão de um agente da PSP, são o resultado dos 36 processos abertos, onde 11 já foram concluídos. 

Os dados do MAI foram divulgados depois da divulgação de uma reportagem de um consórcio português de jornalismo de investigação, que mostra militares da GNR e agentes da PSP a utilizarem as redes sociais para fazer o que a lei e os regulamentos internos proíbem – com base em mais de três mil publicações, nos últimos anos.

Na reportagem são apresentados diversos casos de publicações com teor racista, xenófobo e discriminatório, de militares da GNR e agentes da PSP que estão no ativo e agem online, onde a maioria assume mesmo o próprio nome. Segundo as publicações, pedem “uma limpeza seletiva” e dizem que há muita gente para “abater”. Um militar da GNR de Vendas Novas, numa publicação com uma imagem de uma espingarda, diz que se procura “sniper com experiência em ministros e presidentes, políticos corruptos e gestores danosos”, já um militar da GNR de Setúbal no grupo fechado Colegas GNR, sugere que “enquanto não limparem um ou dois políticos, não fazem nada…”. Além de insultarem o Presidente da República, o primeiro-ministro e vários líderes partidários, também oferecem tiros, prometem mutilar pessoas, descrevem com detalhes sórdidos a violação sexual de uma jornalista e assumem-se como racistas, chamando aos ciganos de “raça indesejável”. 

O gabinete do Ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, adiantou, entretanto, que a Inspeção-Geral da Administração Interna vai abrir um inquérito sobre as notícias. Já o presidente da Organização Sindical dos Polícias (OSP), Pedro Carmo, confessa que a reportagem mancha a imagem de todos, tanto daqueles que foram divulgados e não só. “Da forma generalizada como a imagem foi dada, mancha a imagem de tudo (…) nem sequer se sabe o teor das mensagens a 100%, nem o intuito. O impacto que elas causaram foi zero, porque, na realidade, não causou impacto nenhum. Foram tirados de chat’s de Telegram, através de hackers informáticos que se inseriram em grupos privados de polícias que desabafavam uns com os outros e, na realidade policial, isso não transpareceu nada”.

Questionado se a reportagem coloca em causa a confiança dos cidadãos nas forças e serviços de segurança, Pedro Carmo, afirma que “põe em causa, mas a realidade é que, atualmente, nós enquanto polícias, independentemente da opinião, não prejudicámos os cidadãos de maneira nenhuma. Aquilo são chats privados, são expressões de emoções, o acesso devia ser apenas judicial”. Mais ainda, assume que “vamos fazer o nosso melhor e emitir um comunicado em relação a isso”.

Em reações às publicações, sabe-se que o PCP e o BE querem ouvir o ministro, enquanto o PS espera pelo inquérito. O líder do Chega fala numa “perseguição” aos polícias e diz que vai denunciar o caso à Comissão Europeia contra o Governo, garantindo que só divulgará informação sobre militantes se for intimidado pela justiça. 

O presidente da Organização Sindical dos Polícias, garante ainda que “a reação dos partidos é o expectável. O sr. Pedro Coelho é do BE e o Chega sabe a posição toda. Tirando isso, acho que não há mais nada a dizer”.
*Texto editado por Vítor Rainho