A Revelação do Apocalipse

A Organização das Nações Unidas tem sido, de certa forma, um instrumento capaz de prevenir muitas guerras e de fazer avançar relações diplomáticas entre os diferentes membros.

Na próxima semana, a Igreja entra num período de Advento, como forma de entrar na celebração do Natal. Apesar de muito desvirtuada pelo comércio, esta festa ainda aponta para o Menino Jesus, deitado nas palhinhas do Presépio da Gruta de Belém. O centro da celebração é, mesmo, a Encarnação do Verbo de Deus, a vinda ao mundo do Messias esperado desde toda a eternidade.

Ao celebrarmos a Primeira Vinda do Messias, a Igreja apresenta um conjunto de textos que apontam para a sua Última Vinda. O livro do Apocalipse tem uma linguagem, naturalmente, apocalíptica, muito própria, mas a sua interpretação esta no nome próprio do livro – Apocalipse – que significa Revelação. A Revelação que foi sendo entregue ao Povo de Israel tem o seu cume em Jesus Cristo – o Cordeiro que tem o poder de abrir os sete selos do livro.

Isto é mesmo muito importante, porque o Povo de Israel espera um libertador. É verdade que a figura do Messias no Antigo Testamento tem muitos rostos e muitas matizes, mas há uma constante na Espera do Messias: o Povo de Israel sabe que quando vier o Messias se abrirá uma nova era de Paz, porque Ele será chamado Príncipe da Paz.

Há, hoje, uma angústia no coração da humanidade, como outrora no coração de Israel: a incapacidade que temos de construir a paz. Na verdade, depois das duas Grandes Guerras houve como que um compromisso entre as Nações de não se voltar a repetir a tragédia em que a Europa e o Mundo se tinham visto envolvidos.

A Organização das Nações Unidas tem sido, de certa forma, um instrumento capaz de prevenir muitas guerras e de fazer avançar relações diplomáticas entre os diferentes membros. Vai-se construindo uma relação entre nações, povos, religiões, organizações que são, seguramente, fundamentais para a construção da paz. 

Acontece que, apesar de tudo isso, hoje, estamos a perceber que estamos incapazes de fazer cumprir o Direito Internacional. É curioso que não há falta de ideias, porque ao longo dos anos foi-se arquitetando o Direito que regula e ajuda a estabelecer a vida entre os homens. Percebemos, no entanto, agora, que temos falta de um órgão capaz de fazer cumprir as ideias vertidas em leis internacionais. 

E porque precisamos nós de uma espécie de polícias e de juízes que façam cumprir a lei e punam os infratores? Porque na realidade o nosso mal não está tanto fora de nós, não está fora das nações, nem das cidades, nem mesmo do próprio homem. A verdade é que o mal está dentro do coração de cada um.

É aqui muitos se interrogam acerca da Vinda Messias: como podem os cristãos dizer que o messias da paz já veio ao mundo quando pululam o número de tensões e de guerras entre nós?

A conceção de um Messias polícia ou juiz que vem obrigar os homens a entrar numa relação de paz entre os homens é, na minha opinião, uma relação absolutamente medieval. Na realidade se ao entrar no mundo, o Messias instaurasse um reino de Paz através da força, não traria paz, mas a ditadura. 

Por isso, é importante perceber que a paz não se constrói a partir de uma arquitetura governamental, mas a partir do desejo que cada um tem de procurar essa mesma harmonia. Assim, o Messias não pode aparecer como um déspota, mas como Aquele que envia o espírito de paz. 

Nós não podemos aparecer como marionetas nas mãos deste Messias que, na realidade, quer construir a paz entre os homens… É ele quem nos abre esta porta para uma adesão livre de cada um de nós…

P. S. – Tenho de pedir desculpa de não ter, na semana passada, escrito a crónica, mas por razões do trabalho não o consegui fazer. Quero, no entanto, deixar muito claro que muito apreciei a resposta do nosso presidente da Assembleia da República e que espero poder responder de forma privada e já não de forma pública.