Dia de Dar Uma Volta. A pé, de mota, carro, comboio… o que importa é sair de casa!

Há quem não saia de casa sem um smartwatch, outros não se podem esquecer do capacete, alguns andam sempre à procura das chaves do carro e há até aqueles que têm sempre um bilhete de avião na mão. Afinal, o que têm eles para nos dizer?

A pé, de carro, de mota, de avião, de bicicleta, de comboio… As opções são variadas no Dia de Dar Uma Volta, mais conhecido por Go For a Ride Day, aquele cujo objetivo é celebrar os desenvolvimentos de qualquer meio de transporte que nos agrade. A título de exemplo, 22 de novembro é uma data marcante nesta área: em 1904, Mathias Pfatischer, de Filadélfia, nos EUA, foi o primeiro norte-americano a patentear a eletricidade direta e o motor interpolar. Volvidos 23 anos, outro inventor da mesma nacionalidade, Carl J. Eliason de Saynor, do Wisconsin, adquiriu a patente do snowmobile, que definitivamente mudou a vida de muitos dos habitantes daquele estado para melhor.

Já em 1977, o Concorde começou a fazer voos comerciais para Nova Iorque a partir de Paris e Londres, após dois anos de problemas judiciais. Assim, esta efeméride ganha, de facto, um significado especial. Mas será que, em Portugal, é festejada ou, pelo menos, lembrada? “A pandemia aumentou imenso a tendência para a realização de caminhadas porque as pessoas não podiam ir à rua quando queriam. Era um sufoco estarem em casa”, começa por explicar Matilde (nome fictício, de 58 anos.

“No meu caso, não foi esse o motivo. Comecei a caminhar há muitos anos com um colega de trabalho. Íamos para Sintra, pelo pinhal e assim, e depois voltei com as aulas de chi kung. Não pagamos, é um grupo que de 15 em 15 dias organiza caminhadas. Vamos a Sintra, Monsanto, Arrábida, etc. É tudo malta de 50 ou mais anos. E vou para a Mata dos Medos. Fiz a Fonte da Telha até à Lagoa de Albufeira há pouco tempo”, conta visivelmente entusiasmada e ansiosa pela próxima aventura.

“Fui pelas arribas fósseis com uma amiga que vive na costa, ela conhece os caminhos e é lindo. Tem um microclima com mar, estava um dia de sol fantástico e foi incrível. Voltámos pela praia, fizemos 15km. A sensação que temos quando caminhamos é espectacular. Para já, é uma forma de convivermos, de não gastarmos dinheiro, fazemos piqueniques, partilhamos comida, vamos com uma mochilinha e um chapéu, óculos de sol e pouco mais, é ótimo!”, avança. “Uma das minhas amigas deu um mergulho na praia e estamos no outono! Parece que fui para um spa levar massagens. Apanhar a luz do dia, estar ao ar livre, libertar a hormona da boa disposição, ver a paisagem magnífica, a natureza… E não é como os paredões, onde está tudo de um lado para o outro – há liberdade. Recomendo!”, frisa.

Quem segue o mesmo exemplo de Matilde é Sofia Costa Lima, de 28 anos, assistente de Marketing e criadora de conteúdos digitais. “As caminhadas começaram no final de 2018 quando a minha mãe adotou a Lady, a nossa cadela. Como ela estava habituada a dar pequenos passeios decidimos introduzir esse hábito na rotina dela. Começámos por distâncias mesmo curtas, cerca de 1,5km por saída, duas vezes por dia. Na altura, caminhadas não faziam parte dos nossos hábitos. Por isso, fomos aumentando distâncias gradualmente até chegarmos aos 2,5km/3km por saída”, narra a jovem.

“Quando me mudei para o Porto não trouxe a Lady e confesso que deixei as caminhadas de lado. Só quando visitava a minha mãe é que saía. Algum tempo depois, percebi a falta que me faziam. Neste momento, já voltei ao hábito e tento que seja algo quase diário, embora nem sempre seja possível”, admite. “Sinto que têm sido a forma ideal de fazer algum exercício porque passo o dia sentada num escritório e chegava ao fim do dia a sentir-me ‘presa’. Mas, mais do que isso, sinto que são o meu momento de pausa. Normalmente saio do trabalho, vou a casa trocar de roupa e calçado e saio. Então, é o momento em que consigo realmente desligar antes de ir lidar com outras tarefas ou projetos”, sublinha.

“Apesar de notar uma maior resistência física, mentalmente é onde as caminhadas fazem mais diferença para mim e foi assim que percebi como foi importante voltar a reservar tempo para caminhar”, diz Sofia. “Às vezes, só o simples facto de saber que vou sair para caminhar, ao fim do dia, já ajuda a não me sentir tão ansiosa ou stressada porque sei que naqueles 3km ao final do dia vou conseguir meter a cabeça em ordem, as chatices laborais do dia deixam de ser importantes e, muitas das vezes, são momentos em que surgem várias soluções ou ideias criativas. Portanto, cria-se uma boa energia mental”, conclui.

Segundo o Eurobarómetro do Desporto e Atividade Física, divulgado em setembro pela Comissão Europeia, 73% dos portugueses nunca se exercitam ou praticam desporto, a taxa mais elevada dos países europeus integrados no estudo (seguem-se a Grécia, com 68%, e a Polónia, com 65%). Só 18% dos inquiridos portugueses fazem exercício “com alguma regularidade” e 5% apenas “raramente” (mais do que os que o fazem “regularmente”, 4%).

 

A magia das duas rodas

À semelhança de Matilde e Sofia, Teresa, de 25 anos, e Tânia, de 41, sentem exatamente a mesma liberdade. No entanto, não quando caminham, mas sim quando estão nas suas motas. Apesar da diferença de idades, ambas têm o mesmo sonho há muitos anos e não o realizaram assim que desejaram. Esperaram e, quando todas as condições estavam reunidas, seguiram em frente. Curiosamente, enquanto a primeira tomou a decisão sozinha e agora explora esta paixão com o namorado, a segunda foi inspirada pelos avós e por um dos namorados.

“Com uma 125 cc, juntei-me à comunidade The Litas, onde juntamente com outras mulheres ganhei experiência, rolei em grupo, desafiei-me e descobri um universo com o qual depressa me identifiquei e nunca mais parei!”, recorda Tânia, que fundou as @thelitascascais com uma amiga, Pipa, em 2018, enquanto tirava a carta de motociclos. Nesse período, o seu mecânico preparou uma Yamaha Virago 535 de 1993, que ficou pronta para o seu aniversário.

“Ainda não tinha feito o exame de condução, recebo um telefonema de uma amiga que conheci nas The Litas, a quem chamo rainha das motos e que é uma inspiração para mim, a Marta Garcez, a saber em que ponto de situação estava a minha carta de condução e se eu tinha disponibilidade para viajar de moto para fora do país!”. Já esteve em Marrocos e em Cuba e não pretende parar, sendo que atualmente é Petroleader do Rallly das @petroletteslisboa.

“As Petrolettes são uma comunidade internacional que une mulheres motociclistas do mundo todo, de todas as idades com estilos e cilindradas de motos diferentes, mas com uma paixão em comum”, explica, deixando um conselho a Teresa e a todas as pessoas que iniciam agora o seu percurso neste universo:_“Vai, faz, sê audaz, mas sempre com cuidado!”.