Vírus geram caos nas urgências

Os vírus respiratórios estão a ‘entupir’ as urgências e os tempos de espera aumentam. Esta terça-feira, os doentes urgentes com pulseira amarela esperavam 14 horas para serem atendidos no Santa Maria.

Já se sabia que os vírus respiratórios estavam a ‘entupir’ os serviços de urgências dos hospitais, mas agora sabemos que são o SARS-CoV-2, o Influenza e o Vírus Sincicial Respiratório que andam a fazer das suas. Quem avançou esta informação foi o Observador, mas Xavier Barreto, presidente da Associação de Administradores Hospitalares, relatou este cenário à TSF e exemplificou que esta terça-feira os doentes urgentes com pulseira amarela esperavam 14 horas para serem atendidos no Hospital de Santa Maria.

«Todos os anos, nos invernos, temos um excesso de procura nos serviços de urgência, portanto não é uma exceção nem são casos pontuais. É uma situação transversal a todo o Serviço Nacional de Saúde e este ano está a repetir-se com um padrão ligeiramente diferente», indicou. «Têm aparecido mais cedo, muito por conta da alteração do contexto. O que deveríamos ter criado há já muitos anos era uma porta alternativa para os doentes que, sendo agudos, não são urgentes. Cerca de metade dos doentes que vão à urgência hospitalar não são doentes urgentes, poderiam encontrar resposta noutro nível de cuidados, nomeadamente nos cuidados primários», afirmou Xavier Barreto.

Há duas semanas, já os especialistas Ricardo Mexia e Tiago Correia se mostravam preocupados com aquilo que poderá acontecer este inverno.

«O que nos preocupa é que sem medidas de controlo da transmissão a gripe e outros vírus voltem associados à questão da covid-19», começou por declarar Ricardo Mexia, médico de Saúde Pública e epidemiologista. «Há aqui um conjunto de fatores que pode influenciar a Europa. Olhando para o hemisfério Sul, principalmente para a Austrália, entendemos bem aquilo que pode vir a acontecer».

«O ponto de equilíbrio foi oscilando em vários momentos e, portanto, significa que há momentos que poderão ser ligeiramente melhores ou piores e poderão obrigar a medidas mais ou menos intensas em função das circunstâncias», apontou, por sua vez, Tiago Correia, especialista em saúde pública internacional e professor no Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT).

«Falarmos disto não é apenas falarmos da covid-19, mas sim também de outras doenças respiratórias: quando digo que estamos numa zona de incerteza é na gestão de todas estas doenças sazonais onde a covid é mais uma delas», concluiu.