Ucrânia. Boeing propõe oferecer mísseis de longo alcance

As plataformas GLSDB disparam mísseis baratos e abundantes. Algo essencial dado que os excedentes americanos se estão a esgotar.

O Kremlin só vai parar de bombardear a infraestrutura elétrica ucraniana quando as suas reservas de mísseis de longo alcance e drones se esgotarem, anteviu Volodymyr Zelensky. Até então, os ataques “não vão acalmar”, lamentou. Mas os excedentes dos arsenais da NATO também estão a entrar em rutura, por mais que o seu complexo militar-industrial trabalhe a todo o vapor. Daí que a Boeing tenha proposto enviar os Ground-Launched Small Diameter Bomb (GLSDB) para a Ucrânia, avançou ontem a Reuters.

Há mais disponibilidade dos mísseis baratos e de pequena precisão disparados pelos GLSDB. Contudo, a Casa Branca certamente hesitará em enviá-los dado o seu longo alcance de até 150 km. O que poderá tentar forças ucranianas a atingir território russo, arriscando escalar ainda mais o conflito. Até agora, mesmo quando enviaram as suas plataformas de mísseis de longo alcance HIMARS, os americanos recusaram abastecer a Ucrânia com mísseis de alcance superior a 80 km.

A proposta da Boeing implicaria que estes sistemas chegassem à Ucrânia na primavera do próximo ano. Para os analistas, poderá ser um patamar crucial no conflito. Antevê-se que os militares ucranianos continuem a tentar avançar mesmo durante este inverno, para aproveitar o sucesso das suas recentes contraofensivas no sudeste de Kharkive e em Kherson. No que toca ao Kremlin, é esperado que fortifique o território que conquistou – a retirada de Kherson foi vista como maneira de evitar ficar com as suas tropas cercadas na cidade, presas na margem oeste do Dnipro – e se tente aguentar, enquanto constrói um novo exército recorrendo aos reservistas que apanhou na sua mobilização militar parcial. Lançando-o no campo de batalha algures na primavera. 

As munições disparados pelos GLSDB são compostas ao juntar as pequenas bombas aéreas GBU-39 com motores de mísseis M26, amplamente disponíveis nos arsenais americanos. O objetivo “é conseguir quantidade a baixo custo”, explicou à agência americana Tom Karako, diretor do Center for Strategic and International Studies. É que as reservas de munições “estão a ficar relativamente baixas relativamente aos níveis que vamos precisar para dissuadir um conflito com a China”, avisou.

Entretanto, não é por estar na defensiva em boa parte do território ocupado ucraniano que o Kremlin não procura obter ganhos. A brutal ofensiva russa em Donetsk, sobretudo nos arredores de Bakhmut, recorrendo a concentração de artilharia, está a tornar-se cada vez mais sangrenta. Há centenas de mortos por dia, avançou o Guardian, tendo o Kremlin deslocado boa parte das unidades que fugiram de Kherson para esta região, cujo terreno está cheio de trincheiras inundadas ou enlameadas.