Ainda sobre a Madeira

por Nélson Mateus e Alice Vieira

Querida avó,

Ainda sobre a minha ida à Ilha da Madeira, não foi desta vez que consegui subir ao Pico Ruivo. Mas isso, muitas vezes, nem em pleno agosto se consegue ir, quanto mais em novembro.

Como não podia deixar de ser, no Funchal visitei a Sé Catedral, o belíssimo Mercado dos Lavradores, a Av. Arriaga, o lindo Teatro Baltazar Dias, a Zona Velha, com a suas portas pintadas, e muito mais…

Claro que tinha que entrar no teleférico e fazer a travessia entre o centro do Funchal e a freguesia do Monte. A cabine do teleférico proporciona-nos uma vista de 360º, que é incrível. Visitei o Jardim Tropical, o Jardim Botânico a Igreja de Nossa Senhora do Monte. Gostava de o fazer contigo.

Ainda não foi desta vez que fiz a descida pelo Monte nos famosos carros de cesto em vime. Vou deixar esta aventura, mais radical, para fazer contigo que és menina para isso e para muito mais.

Fiz a caminhada da Levada do Caldeirão Verde. Esta levada, de 6,5 km, tem início no Parque Florestal das Queimadas e oferece uma espetacular vista da orografia do interior da ilha. Demorei aproximadamente 5h a fazê-la, imagina. É deslumbrante.

Sim, vi as famosas Casas de Santana e adorei descobrir o Miradouro do Cabo Girão, um dos locais mais bonitos da ilha da Madeira.

Para ganhar forças para isto tudo, e muito mais, comi muita espetada no pau de loureiro, muita semelha, peixe-espada preto, bife de atum e, claro, muito bolo do caco.

Bebi ponchas de sabores variados e descobri a “Nikita”, sabes o que é? Não estou a falar da canção do Elton John!

Ainda não foi desta vez que fui a Porto Santo, mas conheci o seu Presidente da Câmara.

Sabes onde acabei a minha visita à Madeira?

Numa audiência com o Dr. Miguel Albuquerque, o Presidente do Governo da Madeira, acreditas?

Não eras tu que visitavas muito o anterior Presidente do Governo da Madeira?

Conta-me tudo.

Bjs

 

Querido neto,

Realmente a Madeira é uma maravilha (e também gosto muito do Porto Santo) e sim, o Dr. Alberto João Jardim gosta muito de mim (rima e é verdade).

Mas hoje apetece-me falar de outro madeirense ilustre, famoso no país inteiro mas que hoje as pessoas parecem terem esquecido.

Refiro-me a Maximiano de Sousa, mais conhecido por Max – que morreu em Maio de 1980.

Começou por ser alfaiate mas desde muito novo que gostava de cantar e dançar.

Cantou nalguns bares da Madeira mas só quando veio para Lisboa é que a sua carreira começou a sério, a partir da sua participação, ao lado de Humberto Madeira, no Programa APA, do Rádio Clube Português, que tinha uma enorme audiência.

Dali passou para o Teatro de Revista e nunca mais parou.

Tinha cantigas para todos os gostos, desde a maravilhosa “Pomba Branca”, até à  “Mula da Cooperativa” que foi um dos seus maiores êxitos – até porque aí entravam também os seus dotes de actor: a “Mula da Cooperativa”(que tinha uma letra perfeitamente surrealista!, («Deu dois coices no telhado/Por causa do Zé da adega/Não saber cantar o fado»…). Era sempre cantada de maneira diferente. Aquela de que eu gostava mais era quando ele cantava de lenço amarrado à cabeça, a coser um pano, a enganar-se no ponto, a agulha a picar-lhe o dedo e ele a chupar o dedo, e sempre a cantar… Era de morrer a rir.

Um dia, já eu estava no Diário de Notícias, ele caiu na rua e levaram-no para o hospital. Mas tarde do hospital ligaram-me a dizer que tinha morrido. Fiquei muito triste, mas nunca pensei que do hospital não tivessem avisado a família primeiro. Quando liguei para casa dele a perguntar a hora do enterro – eles não sabiam de nada! Foi terrível. Só me apetecia desligar, dizer «foi engano» – mas já não podia voltar atrás.

Foi uma das notícias que mais me custaram escrever.

Se puderes, ouve a “Pomba Branca”. Tenho a certeza de que vais gostar muito.

Bjs