China rumo a acabar com a “tolerância zero” à covid-19

Sun Chunlan, a “dama de ferro” de Pequim, anunciou que o combate à covid-19 “enfrenta uma nova fase”. Megacidades aliviaram as restrições. 

Diversas cidades chinesas já começaram a aliviar as restrições apesar do elevado número de novos casos de covid-19. E tudo indica que a estratégia para combate à pandemia na China vai ser alterada. “Com a diminuição da patogenicidade da variante Omicron, aumento da taxa de vacinação e a acumulação de experiência de controlo de surtos, a contenção da pandemia da China enfrenta uma nova fase e missão”, explicou a vice-primeira-ministra chinesa, Sun Chunlan, após uma reunião com peritos de saúde pública. Talvez tenham sido estes que fizeram o regime mudar de ideias. Ou então foi a desobediência civil maciça que abala a China desde a semana passada. 

Não é de estranhar que Sun – a única mulher com assento no Politburo, sendo alcunhada de “dama de ferro” – tenha sido o rosto da cedência de Pequim. Não só a vice-primeira-ministra fora escolhida como responsável pelo combate à covid-19, como está prestes a reformar-se, aos 72 anos, podendo absorver os impactos políticos. Mas todos sabem que Chunlan nunca teria podido aplicar confinamentos draconianos sem que isso fosse decidido pelo líder máximo, Xi Jinping.

O Presidente chinês, que inicialmente fora criticado por ignorar a pandemia quando esta alastrava em Wuhan, depois apostara em políticas duras contra o vírus. No último congresso do Partido Comunista da China, Xi até escolheu para seu número dois Li Qiang, de 63 anos, antigo chefe do partido em Xangai, que dirigiu um dos mais brutais confinamentos do planeta.

Quase todos os observadores viam Li como um ativo tóxico, dada a impopularidade das medidas. Mas a sua promoção mostrou que Xi não o via desse modo, mas sim como um fiel tenente, que cumprira o que lhe ordenara por mais elevado que fosse o custo. Talvez seja por isso que, após um incêndio em Ürümqi fazer dez vítimas, havendo acusações de que as vítimas não conseguiram fugir devido às medidas de confinamento, os protestos começaram por alastrar a Xangai.

Se a causa do descontentamento fora o impacto das restrições na vida dos chineses, muito rapidamente ficou claro que a raiva era dirigida a Xi, até com apelos sem precedentes ao seu derrube. Enquanto a polícia reprimia os protestos, começando a identificar e perseguir os envolvidos, as autoridades locais cediam.

Após desapertarem-se as restrições em Cantão e Chongqing, na quarta-feira, no dia seguinte dirigentes de Pequim anunciaram que os moradores sem necessidade de sair de casa, como idosos ou pessoas em teletrabalho, ficarão isentos das sucessivas rondas de testagem em massa. Isto apesar de a capital ter registado mais de cinco mil casos no dia anterior. Já em Xangai foi levantado o confinamento de diversos distritos.

Apesar das medidas contra a pandemia estarem a tornar-se intoleráveis para cada vez mais chineses, o país não está numa situação ideal para reabrir e lidar com uma esperada onda de casos. A taxa de vacinação é alta, batendo nos 90%, mas baixa para os 69% entre os chineses com mais de 60 anos. Além disso, as vacinas chinesas têm uma eficácia menor face às novas variantes, dado recorrerem sobretudo à inoculação do patogénico inativado, sendo que as farmacêuticas ocidentais optaram produzir vacinas de mRNA.