Até a caridade paga IVA

Apesar do discurso da maioria socialista e do otimismo de um primeiro-ministro que vive entre o autismo e o despautério absolutista. Portugal empobrece e tem indicadores de pobreza que deviam envergonhar todos quantos receberam mandato para conduzir os destinos do país e o encurralaram neste beco sem saída à vista.

Paulo Raimundo deu interessante entrevista à RTP, na qual admitiu expressamente que a ofensiva da Rússia sobre a Ucrânia se trata de uma invasão que viola a Carta das Nações Unidas e que tanto a Coreia do Norte como a China têm regimes que não correspondem ao modelo de democracia e de sociedade que o PCP defende.

Com uma simplicidade que parece herdada de Jerónimo de Sousa e uma franqueza de quem ainda não se habituou à ideia nem vestiu o fato de secretário-geral dos comunistas portugueses – ao ponto de confessar o seu «embaraço» quando ouve chamarem pelo «camarada secretário-geral»; e de juntar, com humildade, «isto vai lá», «mais dois ou três meses…» –, Raimundo não consegue disfarçar a ortodoxia.

Não hesita em recusar a falência do comunismo e afirma que não há um ‘modelo histórico de aplicação do comunismo’ que corresponda à proposta de socialismo do PCP para Portugal.

«O modelo que queremos construir para o nosso pais só pode ser um modelo português, com a nossa cultura e as nossas características», diz Raimundo sem pestanejar.

A avaliar pelo discurso do novo líder comunista, o modelo mais próximo do que o PCP defende, desde novembro de 1975, terá mesmo sido o da ‘geringonça’ e dos Governos de António Costa, em que o Estado tem acumulado receitas de uma carga fiscal nunca antes vista, asfixiando a classe média e as empresas sem dó nem piedade.

O Estado nunca teve tanto dinheiro. O Estado central e as principais autarquias do país.

Na verdade, o principal beneficiário da crise inflacionária – como resulta, aliás, do crescimento recorde das receitas do IVA – acaba por ser o Estado, que engorda com a receita fiscal indireta e ainda inventa novos impostos, como os lucros excessivos das energéticas e grandes empresas de distribuição.

É só faturar.

E quanto à redistribuição estamos conversados.

No mais, poupa nas funções públicas, seja na Saúde, na Educação, na Justiça ou no que for. Não há investimento e as indispensáveis reformas continuam adiadas sine die.

E o país atrasa-se cada vez mais.

Ao ponto de estar à beira de ser ultrapassado no ranking dos países europeus em PIB per capita pela Roménia. Isso mesmo, pela Roménia que Ceausescu deixou na miséria.

Apesar do discurso da maioria socialista e do otimismo de um primeiro-ministro que vive entre o autismo e o despautério absolutista.

Portugal empobrece e tem indicadores de pobreza que deviam envergonhar todos quantos receberam mandato para conduzir os destinos do país e o encurralaram neste beco sem saída à vista.

Ainda no fim de semana passado, enquanto António Costa fazia o balanço dos seus sete anos no poder – e já vão sete anos desde que passou a perna a Passos Coelho e ainda continua a culpá-lo por todos os males da Nação – não se coibindo nos elogios a si próprio, em todos os supermercados do país (daquelas cadeias de distribuição a quem o Estado vai também passar a cobrar pelos chamados lucros excessivos) um sem número de voluntários, incluindo muitas crianças a quem os pais não podem pedir ajuda sob pena de serem acusados de trabalho infantil, recolhia as dádivas da população para o Banco Alimentar.

Sem retirar o mérito à instituição e seus propósitos, basta atentar nos relatos e dados estatísticos divulgados pelos seus responsáveis para perceber o estado a que chegou o país.

Paupérrimo, miserável.

Não é admissível que o Governo continue a apostar em conduzir o país para o marasmo, a improdutividade, a pobreza e a asfixia fiscal.

Percebe-se bem, assim, a razão pela qual António Costa puxou para seu secretário de Estado Adjunto António Mendonça Mendes. Independentemente das qualidades políticas e técnicas, a sua maior especialidade é mesmo a pasta que teve até agora nos Governo de Costa: os Assuntos Fiscais.

E olhemos novamente para o exemplo do Banco Alimentar.

Bem se sabendo que não são os ricos que vão às compras ao fim de semana, temos de concluir que a ajuda aos pobres e mais necessitados acaba por concentrar-se no contributo daqueles que não passam de remediados ou que tantas vezes têm o dinheiro contado ao euro ou ao cêntimo.

E não é que até neste caso o Estado não abdica de ganhar, e por duas vezes, quer com o IVA dos produtos que enchem os saquinhos das dádivas, quer com os impostos sobre os tais lucros extraordinários das empresas de distribuição?

Não há moral!

Sim, neste país socialista até a caridade paga imposto.

Isso é que é extraordinário!!!