Pobre cabra…

Durante toda a semana recebi mensagens de todas as partes do mundo a dizer que gostaram da crónica da cabra… mas eu fiquei a pensar: mas e as galinhas? Ninguém disse que eu queria comprar uma cabra e umas galinhas?

Não sei se vos diga ou se vos conte… mas a cabra que queria comprar deu que falar… 

Durante toda a semana recebi mensagens de todas as partes do mundo a dizer que gostaram da crónica da cabra… mas eu fiquei a pensar: mas e as galinhas? Ninguém disse que eu queria comprar uma cabra e umas galinhas?

O que aconteceu pode-se explicar em meia dúzia de linhas, mas eu vou fazer render o peixe… isto é, vou explicar tudo com muito pormenor.

Eu, chateado com mundo da cidade e com as regras deste mundo e deste país malfadado, quis dizer o que sinto há muito no meu coração… quero-me ir embora deste mundo, desta coisa chamada sociedade, que mais parece uma selva e ir para um lugar onde possa viver em paz.

Quando eu escrevi a crónica, pensei que todos que iriam compreender e de facto compreenderam, mas não todos… imensa gente que me lê, e que eu nem sabia, achou graça à crónica da semana passada, e escreveu-me com os mais diversos comentários.

Todos se identificaram com esta estrutura de sociedade em que vivemos, onde a malfeitoria é premiada, a preguiça é adjudicada com meia dúzia de tostões com o Rendimento Mínimo Garantido e os trabalhadores se prejudicam com a sua honestidade. 

Todos perceberam que gastar dinheiro público para uma plataforma (id.gov.pt) para um tempo de pandemia que depois da pandemia deixa de ter validade é uma coisa que, nos dizeres do último Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, é «completamente estúpido». Porquê reconhecer validade a um documento digital, durante a pandemia, e deixar de reconhecer quando acaba a pandemia. Para quê gastar dinheiro numa aplicação que só serviu para não servir. 

Agora, o que passou, passou! Vamos ter de nos habituar a isto. Nós pagamos impostos, eles gastam os nossos impostos em coisas inúteis e nós teremos de aguentar isto até que venha o messias para nos libertar da opressão enganadora destas governações… (NOTA: o Messias é Cristo não é Marx, no meu entender).

O decorrente desta situação fez com que eu desejasse ir para a aldeia, para a solidão do amor de Deus, cultivando uma horta e criando uns animaizinhos: a cabra e as galinhas!

 

Caiu-me o Carmo e a trindade… logo depois, telefonaram para a paróquia a dizer, com voz sórdida: «O padre Edgar é um asno!». E desligaram o telefonema…

Eu sou um asno, disse o rapaz? Eu, Edgar Correia Clara, sou um asno? E a pessoa que telefonou nem sequer disse quem era? 

Eu, dever-lhe-ia estar imensamente agradecido por me ter descoberto a careca… eu realmente sou um asno, isto é, um burro, porque ainda ando a gastar o meu latim nestas crónicas a pensar que alguém as lê e vai pensar a seguir…

Imensas pessoas me fizeram chegar o seu contentamento pela lucidez da crónica, mas houve também quem estivesse preocupado com a cabra e com as galinhas… é verdade, perguntaram-me se eu iria matar a tal cabra e as tais galinhas para comer…

 

Mas não é lógico quem eu nunca iria ser capaz de matar uma cabra que eu próprio tinha criado e depois ir comê-la? Alguma vez eu imaginaria matar umas galinhas para meter no forno com um limão no cu? 

Eu nem sequer pensaria numa coisa dessas… matar os bicharocos todos que tinha criado para os ir comer? Nem pensar!!!

O problema percebi-o eu depois: as pessoas não estavam preocupadas com a cabra nem com as galinhas!

Quando eu disse que apenas queria a cabra para beber o leite e as galinhas para comer os ovos, colocaram-me na lista do Index da Santa Inquisição para que ninguém mais me leia… 

Afinal… é um crime imenso comer uns ovos e beber o leite da cabrinha!