Romper o círculo vicioso

As escolhas políticas são também de identidade, selecionamos quem cremos estar aptos em transformar valores que prezamos em políticas públicas, num vasto âmbito de tópicos que interessam ao país. 

Por Nuno Paiva Brandão, gestor

Sete anos após o início da governação de António Costa, quem sabe responder à pergunta: qual é a ideia central do Governo para o desenvolvimento do país? Jorge Rebelo de Almeida, CEO do Vila Galé, afirmou que «Portugal não tem uma ideia, quanto mais uma estratégia de país». Infelizmente, seremos muitos a concordar com ele.

Se pensarmos numa das economias que, em tempos recentes, mais rapidamente se desenvolveu, Singapura, a resposta seria fácil: uma economia de serviços financeiros, suportada por um nível tecnológico muito elevado. Coerente com com esta visão, Singapura apostou num sistema de educação muito exigente e baseado no mérito, capaz de sustentar o alto grau de especialização da sua economia. Porque é que para Portugal não encontramos uma resposta clara?

Considerando que a atual legislatura, no plano teórico, durará até finais de 2026, temos uma perspetiva de um longo ciclo de onze anos, a divergir da União Europeia e sem ideias dominantes e mobilizadoras para o desenvolvimento do país. Essas ideias existem, mas não passam para as políticas públicas. No mesmo período em que Fernando Medina, na sua função principal de ‘Ministro do Défice’, apresentou na AR o OE 2023, dando prioridade ao controle do défice, acima dos estímulos às empresas ( baixa progressiva do IRC) e aos jovens (baixa drástica do IRS), personalidades brilhantes como António Horta Osório e Daniel Traça, em entrevistas televisivas, revelavam o contraste entre a competência, a visão e a ambição das melhores figuras do país e a incapacidade governamental em solucionar os problemas nacionais. Este triste contraste, materializou-se com a aprovação do OE na AR. 

Esta ausência de visão e de uma estratégia ambiciosa de desenvolvimento, tem mergulhado Portugal num círculo vicioso: a economia cresce pouco, o que cria insegurança em amplos grupos da população, nomeadamente na massa de 3,6 milhões de pensionistas. Essa insegurança, leva muitas pessoas a associarem as suas expectativas futuras a um Estado dilatado, favorecendo a manutenção no poder do partido que tem gerido o Estado, e perpetuando o círculo vicioso que bloqueia o país.

Mas as escolhas políticas não são apenas transacionais, orientadas às soluções dos problemas de grupos ou da sociedade em geral. As escolhas políticas são também de identidade, selecionamos quem cremos estar aptos em transformar valores que prezamos em políticas públicas, num vasto âmbito de tópicos que interessam ao país. 
A esse respeito, uma sucessão de casos ligados ao Governo e às autarquias, tem levado a sociedade portuguesa a percecionar esses dirigentes públicos, como um grupo que olha para si mesmo, centrado nos seus interesses e nos das suas clientelas, com uma escassa ligação a valores como o bem comum.

Quem poderá romper (não apenas substituir) o circulo vicioso?

Os próximos quatro anos serão um cenário propício para se materializar ou não a frase de um político da Prússia no século XIX: «O antigo não tinha ainda sido ultrapassado, e o novo estava ainda a nascer». A Iniciativa Liberal, criou um partido liberal, agora terá de criar liberais. O slogan ‘Menos Estado, Mais Economia’ aponta numa direção mobilizadora, mas que requer uma tradução reformista prática que corresponda aos anseios da população em geral, em matéria económica, social e no plano das liberdades. 

Afinal, a explicação de Cotrim Figueiredo para a sua saída da liderança do partido, na busca de um partido mais ‘popular’, pode ter sido profética e vir a revelar-se estratégia para o país.