E a Roménia ultrapassou Portugal

Outra grande decisão romena para romper com o modelo capitalista foi nacionalizar a sua companhiaede aviação, injetar-lhe biliões de euros e decidir privatizá-la de novo

Por João Cerqueira

Segundo as previsões da Comissão Europeia, em 2024 Portugal será ultrapassado pela Roménia no ranking de desenvolvimento económico da União Europeia. A notícia foi recebida com naturalidade no nosso país, e só quem anda distraído é que poderá ter ficado surpreendido com esta previsão. O crescimento da Roménia e a estagnação de Portugal são fáceis de entender. 

Durante décadas, a Roménia foi governada pelo ditador liberal Ceausescu que aplicou a receita americana de retirar o Estado da economia, permitir o comércio livre e baixar os impostos. Como seria de esperar, a Roménia começou a empobrecer, os cidadãos a passar fome, os serviços de saúde a degradarem-se, os idosos e crianças órfãs tornaram-se vítimas de maus-tratos – e outros horrores. Naturalmente, um dia o povo revoltou-se contra o liberalismo económico de Ceausescu e derrubou a sua ditadura. 

Desde então, a Roménia escolheu um modelo político oposto: o rumo ao Socialismo. O Estado passou a intervir na economia, o comércio livre desapareceu, os impostos, as taxas e as taxinhas passaram a aumentar todos os anos, o mérito foi substituído pela obediência ao partido. Nenhuma empresa existe sem ser amiga do Estado e toma decisões sem consultar o PM – que, aliás, as repreende regularmente. Assim, na Roménia é cada vez mais difícil abrir uma empresa e ter lucro, tendo os jovens percebido que é preciso ser louco para querer ser empresário. A receita para singrar na vida, agora, é ter o cartão do partido e trabalhar para o Estado. Recentemente, um jovem sem a menor experiência foi nomeado para um cargo estatal com um vencimento de quatro mil Euros – e todos perceberam o caminho a seguir. Melhor ainda é ser familiar de algum dirigente. Na Roménia, até ao quarto grau parental, incluindo sogras e genros, todos os familiares dos governantes são contratados para alguma função – ainda que esta tenha de ser inventada.

Outra grande decisão romena para romper com o modelo capitalista foi nacionalizar a sua companhia de aviação, injetar-lhe biliões de euros e decidir privatizá-la de novo. Embora à primeira vista isto não tenha pés nem cabeça e pareça um desperdício de dinheiro, o objetivo foi assustar os investidores capitalistas e afastá-los da Roménia.

Contudo, o modelo romeno não se limita à economia. Na educação, a Roménia tornou-se num modelo de progressismo. Disciplinas contrárias à felicidade da criança como Matemática e Romeno foram secundarizadas em favor de matérias mais importantes como a sexualidade fraturante e a vergonha de ser branco. Deste modo doutrinados, em 2021 metade dos meninos romenos decidiu que queria ser menina e metade das meninas concluiu que se sentia menino. E todos queriam ser africanos ou mongóis – conforme o dia em que eram questionados. Porém, em 2022, esses meninos já queriam ser outra vez meninos e essas meninas já se sentiam de novo capazes de brincar com bonecas – e já ninguém queria ser africano ou mongol. Mesmo assim, neste grupo a maioria dos meninos e meninas afirmou que queria ter experiências homossexuais porque é giro e moderno.

Outro grande avanço educativo romeno foi a transformação da disciplina de História em Vergonhas da Nossa História. À exceção do período da Dácia e da resistência ao Império Romano, todos os monarcas seguintes passam a ser considerados exploradores do povo, escravocratas e tarados – não escapando sequer Vlad, o Conde Drácula. Todavia, a maior vergonha da Roménia é o regime pró-nazi de Antonescu e a sua Guarda de Ferro fascista. Deste modo doutrinados, os jovens romenos abominam o seu passado e sentem vergonha do seu país – e quando pensam nisto já querem ser outra vez africanos ou mongóis. O único consolo dos jovens romenos no fim desta disciplina é saber que o seu país, ao contrário da Inglaterra, da Espanha e de Portugal, nunca teve navegantes, nem descobriu nenhum continente. Alguns afirmam até que, caso a Roménia tivesse descoberto o Brasil ou a Austrália, pensariam em suicidar-se ou mudar de sexo.

Mas para tudo isto funcionar, a Roménia socialista tem na comunicação social um grande aliado. Os principais jornais e revistas – o Expressu, o Públicu e a Visu – nunca deixam de louvar o Governo e condenar o capitalismo. E como nas televisões acontece o mesmo, tendo como comentadores governantes e deputados da situação, os romenos estão convencidos de que corre tudo bem. E assim, este povo heroico que aprecia o Fado, Fátima e o Futebol vai assombrando os restantes países europeus, sobretudo os nórdicos, que não conseguem entender como, com tão parcos recursos naturais, um clima tão agreste e uma situação geográfica irrelevante, se possa ir tão longe.

P.S. – Os comentadores da bola parecem desconhecer os artigos definidos. Ter a bola, passou a Ter bola. E no jogo Brasil/Suíça um dos comentadores disse «defrontar Sérvia». No tempo do Ceausescu, iam todos para um campo de reeducação linguística.