Amor Veneris, no Palácio Anjos

É a partir das representações que diferentes artistas fazem da experiência sexual que Marta Crawford, mentora do projeto Musex, nos quer falar do prazer sexual e de como a atividade sexual sem consentimento tem um efeito devastador na sexualidade das mulheres, um aspeto nuclear desta exposição.

Patrícia M. Pascoal, Diretora do Mestrado em Sexologia da Universidade Lusófona, faz parte da Comissão Científica da exposição Amor Veneris

A exposição Amor Veneris, no Palácio Anjos em Oeiras, idealizada por Marta Crawford no âmbito do projeto MUSEX (https://musex.pt/), é uma ode ao prazer sexual, um tema que está na agenda mundial desde que a Associação Mundial de Saúde Sexual o consagrou como um direito sexual central que deve ser respeitado e promovido, dada a sua relevância para a saúde sexual. O prazer sexual é, habitualmente, uma área menor de estudo ou de interesse. Houve um interesse generalizado pelo prazer sexual quando se percebeu que um dos fatores que demovia muitas pessoas de usar preservativo era a diminuição de sensação de prazer o que aumentava a probabilidade de não utilizar preservativo e, portanto, aumentar as infeções sexualmente transmissíveis (IST’s). 

Contudo, sabemos – quer pela experiência clínica, quer pela investigação – que há um enorme grupo de pessoas que se confronta ao longo da sua vida com dificuldades de intensidade variada que inviabilizam a experiência de prazer sexual: as pessoas que nascendo com características anatómicas femininas, são socializadas e se identificam como mulheres – habitualmente chamadas mulheres cisgénero. É, para já, essencialmente sobre estas mulheres cisgénero que esta exposição se debruça. É a partir das representações que diferentes artistas fazem da experiência sexual que Marta Crawford, mentora do projeto Musex, nos quer falar do prazer sexual e de como a atividade sexual sem consentimento tem um efeito devastador na sexualidade das mulheres, um aspeto nuclear desta exposição. Amor Veneris não se circunscreve à adição e justaposição de obras à volta da interpretação de um conceito, numa visão estática da sexualidade e da experiência museológica. Partindo da premissa de usar a obra de arte como provocação para a reflexão, Amor Veneris, no Palácio Anjos, em Oeiras, é um projeto auto-reflexivo que acaba por tirar a sexualidade do museu e traz a reflexão, a representação, e ação na área da sexualidade para a ‘rua’, através de múltiplas iniciativas, todas elas dialogantes e interativas. 

Este projeto tem uma programação paralela dinâmica, com atividades gratuitas regulares, tertúlias, oficinas e diálogos através de apresentações temáticas. Há consultas, visitas orientadas, inclusive para escolas, para diversas faixas etárias, e para pessoas com diversidade funcional. Amor Veneris está na agenda do dia e na agenda mundial da sexualidade até ao final do mês de dezembro em Oeiras. Merecíamos que este projeto durasse mais e corresse mundo.