Fernando Pádua. Um homem de bom coração

Queria viver até aos 120 anos alegre, ativo e saudável, mas a saúde faltou-lhe aos 95. O médico do laço, que tanto fez pelo nosso bem-estar, deixou-nos ontem pela manhã.

por João Sena

O cardiologista Fernando Pádua morreu, em sua casa, em Lisboa, depois de várias semanas hospitalizado devido a uma queda que sofreu recentemente. Professor na Faculdade de Medicina de Lisboa, notabilizou-se pela excelência do seu trabalho, mas também pelas esclarecedoras e didáticas intervenções sobre hábitos de vida saudável que fazia tanto na televisão como na rádio e jornais. Cumprindo um dos seus desejos de estudante, criou a Fundação Portuguesa de Cardiologia cuja missão era alertar para a prevenção e educação na saúde, travando uma luta feroz contra o tabagismo e o abuso do sal, curiosamente nunca bebeu álcool, mas fumou até aos 35 anos.

Fernando Pádua atribui a longa carreira às sortes repetidas que agarrou ao longo da vida. Nasceu em 1927 no Algarve e foi viver para Almodôvar com a mãe. “Sou algarvio de nascimento e alentejano de coração”, dizia em jeito de brincadeira numa entrevista dada ao semanário SOL. Só mais tarde viajou para Lisboa, onde frequentou o liceu Gil Vicente e fazia das suas – “Faltava às aulas para jogar futebol ou ir apanhar caracóis”, contou. No Liceu Passos Manuel foi mais aplicado e percebeu que podia ser um bom aluno. Nessa altura, a vida de jovem estudante era passada em casa com a família e raramente ia ao cinema ou ao teatro. Quando terminou o liceu, entrou para Medicina, embora o seu principal desejo fosse ser professor. Entrou na Faculdade de Medicina e – “Agarrei-me àquilo de tal maneira…”–,  no fim do curso, ganhou o prémio do Rotary Club de Lisboa destinado ao melhor aluno da faculdade. Em 1952, surgiu a hipótese de concorrer a uma bolsa internacional dos Rotários e conseguiu ir para Harvard, onde se especializou em Cardiologia. A lição que trouxe de Harvard, onde fez uma pós-graduação em Cardiologia, foi durante anos mal aceite em Portugal. Fernando Pádua considerava que a saúde era por demais importante para estar só na mão dos médicos, e defendia que cada pessoa tem de aprender a tomar conta da sua. Nesse sentido, foi um pioneiro da medicina alternativa embora nem todos o quisessem compreender. Foi também de Harvard que trouxe a moda do laço que o celebrizou.

O Presidente da Républica, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou a morte de Fernando de Pádua, realçando o seu papel de “brilhante cardiologista e excelente comunicador, que ao longo de tantos anos se destacou na promoção da literacia em saúde”, pode ler-se na mensagem publicada na página oficial da Presidência da República.

Fernando Pádua recebeu, em 1997, a Medalha de Ouro por Serviços Distintos, entregue pela ministra da Saúde na altura, Maria de Belém Roseira, e, em 2005, foi distinguido com o Grande Colar de “Oficial da Ordem de Santiago da Espada”, entregue pelo Presidente Jorge Sampaio, uma condecoração atribuída apenas a reconhecidos nomes da cultura, academia e política nacional.