Os Tó Zés do PSD

Montenegro e Moedas, cada um à sua maneira, fazem lembrar o ex-líder socialista António José Seguro. A quem António Costa passou a rasteira que se sabe.

Luís Montenegro sacou da cartola a proposta de um referendo à eutanásia nas vésperas da aprovação no Parlamento, por uma ampla maioria, da lei que despenaliza e institucionaliza no ordenamento jurídico português a prática da morte medicamente assistida.

É certo que Montenegro sempre defendeu que tão fraturante e delicada questão deveria ser sujeita a consulta popular e, portanto, não pode deixar de considerar-se que a proposta de referendo agora anunciada pelo líder social-democrata não seja coerente. Porque é.

Mas não chega.

Tratando-se de matéria absolutamente vital no que concerne aos princípios, é muito poucochinho que o líder do maior partido da Oposição defenda a realização de uma consulta popular e, na mesma ocasião, reconheça não ter uma posição formada, mas antes «muitas dúvidas», sendo apenas «tendencialmente contra» a nova lei.

Como é que é?

O anterior líder do PSD, Rui Rio, que conduziu o partido a uma série de derrotas incluindo a de janeiro último em que concedeu a segunda maioria absoluta da história ao PS, era a favor da eutanásia e contra o referendo – ou seja, subscrevia na íntegra a posição de quem no poder e deu no que deu.

Ora, como bem veio escrever nesta sexta-feira Pedro Passos Coelho – o último líder que levou os sociais-democratas ao Governo, em 2011, e que, não obstante ter herdado uma situação económica e financeira do país à beira da bancarrota e sob o jugo da troika, ainda assim voltou a ganhar as legislativas em 2015 –, o PSD não pode ter dúvidas em matéria de defesa do valor fundamental e inviolável da vida.

A dignidade humana é inerente à pessoa. Deve ser invocada para defender e respeitar a pessoa enquanto tal e a vida em si mesma», escreveu Passos, reafirmando as «maiores reservas» quanto às «questões comummente invocadas para dar suporte a este novo regime».

Esse é o princípio de que o PSD, defensor do valor supremo e inviolável da vida, não pode abdicar, por contraposição à ‘cultura de morte’ defendida à sua esquerda (com exclusão do PCP).

Deixar que essa bandeira seja tomada por um CDS com pouca expressão e sem representação parlamentar e, principalmente, por um Chega em ascensão e moderação, é um erro político sem perdão.

Como também escreveu Passos Coelho, «era bom que se soubesse que haverá quem não se conforma nem desiste de, no futuro próximo, pôr em cima da mesa a reversão da decisão que o Parlamento se prepara para tomar, como numa democracia madura».

Ou seja, Passos Coelho deixa inclusivamente traçada uma linha de alternativa à maioria socialista: de quem defende a vida como valor supremo. Assim abrindo até uma porta ao Chega, sem abdicar dos princípios nem, muito menos, entregar ao partido de André Ventura uma bandeira que é do PSD.

Porque esse é o outro risco das dúvidas, das hesitações e da falta de estratégia do líder do PSD.

Passos – cujo principal erro político terá sido não ter despido o fato de primeiro-ministro quando passou a liderar a oposição – dá a boa receita a Montenegro.

Como devia também dar uma ajudinha a Carlos Moedas em sede de exercício do poder.

Andar a reboque de quem passou à oposição e limitar-se a dar andamento aos planos e projetos de quem perdeu as eleições, esquecendo-se dos compromissos assumidos perante os seus eleitores, é, também, não apenas poucochinho mas fatal.

E o que faz o presidente da Câmara de Lisboa que tem ambições no partido?

Pouco mais que nada – a começar por não mandar fechar imediatamente ao trânsito os túneis da cidade quando chove a cântaros e as inundações são previsíveis. Além de anunciar a feitura de mais duas ciclovias e da recuperação de mais umas largas centenas de bicicletas (eletrificando cerca de 400 ‘clássicas’ – leia-se: velhas), que é exatamente o contrário do que devia fazer.

Mal vai, pois, o PSD na sua afirmação como alternativa ao PS.

Montenegro e Moedas, cada um à sua maneira, fazem lembrar o ex-líder socialista António José Seguro. A quem António Costa passou a rasteira que se sabe.

Como Pedro Passos Coelho também o sabe tão bem.