‘A Iniciativa Liberal vai chegar ao Governo’

O primeiro presidente do partido e agora candidato da lista T para o Conselho Nacional garante que a IL ‘é um partido de ideias e não de pessoas’, deixando uma promessa: ‘Queremos reinventar a política’. Pessoalmente, dá o seu apoio a Carla Castro para o Conselho Executivo.

Foi o primeiro presidente da Iniciativa Liberal e agora é cabeça de lista T para o Conselho Nacional. Já disse que não avançou por sua iniciativa, mas por ter sido convidado. Foi um convite inesperado?
Não foi totalmente inesperado, confesso. Mas temos de ter a noção de que numa plataforma política como é a Iniciativa Liberal, que não é um partido típico, as pessoas podem participar, dar o seu contributo, mas não precisam de mudar a sua vida e passarem a ser políticos profissionais. Basta olhar para a história do partido, embora seja curta, é muito comum as pessoas estarem na IL, participarem durante uns anos e depois seguirem a sua vida. E foi isso também que fiz. Estive sempre atento, sempre disponível para quando o partido quis ou achou que podia dar um contributo, mas dando lugar aos outros. Não precisamos de viver só e para a política. Nos últimos tempos já era conselheiro nacional e comecei a reconhecer que estávamos muito próximos de assistir a uma alteração de ciclo político, porque a IL tinha e tem muitos propósitos políticos e não se consegue fazer tudo ao mesmo tempo. Estivemos muito centrados durante todo o ciclo eleitoral, que foi longo, muito intenso, na representação externa e em passar a mensagem do liberalismo para a população e na inter-representação. Mas havia uma segunda parte, que era este construir de uma nova forma de fazer política. Estávamos próximos disso e essa parte encanta-nos a todos.

É um partido recente, mas que já conta com muitos presidentes… 
Três, também não é uma mão cheia. Mas já há duas ou três coisas que começam a ser tradição na IL. Uma delas é quando um presidente sai ou anuncia que vai sair há sempre quem diga que o partido vai acabar, que vai ser o fim do mundo e depois não é isso não acontece. Todos os presidentes da IL disseram que este é um partido de ideias e não de pessoas e é mesmo verdade. E cada novo presidente do partido traz nova vitalidade, o partido volta a crescer e incorpora novas ideias. Não tem sido uma perda, tem sido um ganho, que é encarado com muita naturalidade entre nós liberais. 

Mas quando avançou com a lista T já havia outra lista a concorrer para o Conselho Nacional e surgiram outras. Vão aparecer mais?
Aí há uma nuance. Houve outra lista que anunciou publicamente antes de nós, que é uma coisa diferente de ter aparecido antes de nós. O que começou a acontecer foi na convenção do ano passado, que elegeu a última Comissão Executiva, antes das legislativas, houve uma série de militantes que propuseram várias moções e eu também. Umas passaram, outras não, como é normal nestas coisas. Mas houve um conjunto de membros que trabalhou de forma muito profunda no programa eleitoral das autárquicas e depois também ajudou o gabinete de estudos no programa das legislativas, que apresentou moções que tiveram acolhimento e que passaram, pelo menos uma delas passou, e perceberam com esse processo, com esta lógica da participação, com esta lógica de fazer política da tal forma diferente, em que as pessoas são capazes de dar o seu melhor, dar o seu contributo que era uma coisa possível, não era só um sonho. A partir daí começaram a pensar qual era a melhor forma de ajudar o partido. E a melhor forma é formular uma candidatura ao Conselho Nacional. 

E ajudar a Comissão Executiva…
Exatamente, respeitando o papel da Comissão Executiva, que é um papel executivo, enquanto o papel do Conselho Nacional é diferente. É formal, estatutário e de fiscalização, como deve ser em qualquer democracia, mas é também um contributo. É o órgão que permite representar os membros do partido em toda a sua diversidade e somos um partido tradicionalmente muito diverso, com muitas ideias. Isso dá trabalho. As pessoas que estão no Conselho Nacional se querem representar o partido têm que ir o conhecendo. 

A lista T vai recuperar as pessoas que estiveram na origem do partido?
Estamos a anunciar a lista por fases e estamos a anunciar mais ou menos cinco candidatos de cada vez porque temos um período eleitoral muito longo. Mas, se reparar naqueles que já apresentámos, temos membros muito diversos, uns novos no partido e outros que são fundadores. Temos membros que são muito novos de idade e outros menos jovens, que trazem mais experiência, assim como temos pessoas de vários pontos do país. Temos até mais do que isso, temos pessoas com linhas de pensamento liberal diferentes uns dos outros. O que nos une? Não é esse recuperar de um ideal, até pelo contrário. A ideia é precisamente a oposta, é pensar no futuro. Houve um período de fundação, um período de divulgação da mensagem e um período de conquista de representação política para podermos propor políticos liberais. Agora estamos a começar a entrar numa outra fase, que é internamente mostrarmos uma nova forma de fazer política. E o que precisámos quando foi a altura da fundação não é o que precisamos agora. Será que posso dar esse contributo? Gosto de pensar que sim e por isso é que também fui convidado. Será que tenho essa abertura? Quero crer que sim e que todos os membros que aceitaram estar nesta lista sentem exatamente o mesmo. Ou seja, trata-se de pensar no que queremos para o futuro do partido, não em termos de direção política executiva – isso é uma candidatura à comissão executiva – mas o ADN que queremos ir criando dentro do partido e não um ADN estático, porque queremos fazer com que o partido evolua, que continue a crescer fora, junto da população, mas também cá dentro, que comece a ter tempo e pessoas suficientes para podermos crescer no debate interno, que é uma coisa que sempre aconteceu. Sempre houve essa abertura, mas houve uma altura em que éramos poucos, no entanto, fomos crescendo. Temos agora cerca de seis mil membros e, por isso, é natural que agora haja um conjunto de pessoas que pense que está na altura de conseguir que estes seis mil membros e os próximos seis e os seis que virão a seguir tenham instrumentos de participação no partido. E que esta diversidade seja, no fundo, o oposto do que acontece na política tradicional, em que quanto mais membros têm mais existem fações ou mais alinhamento em torno de dois líderes, por exemplo. Queremos reinventar a política.

Reinventar a política nem sempre é uma tarefa fácil… 
Claro que não, mas quando fundámos o partido – e isto é meramente histórico, não é saudosismo nenhum, pelo contrário, mais uma vez, não queremos voltar a essa fase – diziam que era impossível fazer um partido liberal em Portugal e fizemos. E depois de fazer o partido, a primeira grande crítica que faziam é que não seria possível fazermos um programa político com correntes liberais tão diferentes: clássicos, liberais sociais, aqueles que são um pouco mais libertários, etc., e fizemos. Depois disseram que conseguimos isso porque éramos muito pouquinhos e, por isso, era mais fácil chegar a um consenso. Mais tarde achavam que não iríamos conseguir passar a mensagem para o eleitorado e conseguimos. O que é que isto vem provar? Vem provar que em Portugal é possível sonhar. Uma das coisas que estamos habituados há demasiadas décadas é que é assim, tem de ser assim, porque sempre foi assim. Não! Podemos ambicionar a um futuro diferente e construí-lo. E mais: não precisamos de abdicar da nossa vida para ser um político de carreira, nem de um grande líder inspirador que conduz as massas – é precisamente o oposto. É dizer a cada cidadão ou, neste caso da lista T: ‘Tu podes contribuir. Tu podes ajudar a mudar o mundo começando pelo partido, passando pelo país e com isso construir uma forma diferente de fazer política’. É muito comum ver questões ideológicas noutros partidos, mas também no nosso, por vezes, com as pessoas a citarem autores, às vezes até a citarem políticos históricos. No caso português, os dois mais citados são Sá Carneiro e Mário Soares, mas também Álvaro Cunhal num certo sentido. E nós portugueses deixámos de acreditar que cada um de nós pode ser uma dessas pessoas, porque eles, antes de serem quem foram, eram cidadãos como qualquer um de nós. Por que não podemos fazer o mesmo? Por que não podemos acreditar no nosso pensamento e fazer com que o nosso pensamento faça parte do debate político? Por que não? Como dizia o primeiro presidente da associação Iniciativa Liberal, ‘imagina, que é possível’.

Daí as linhas orientadoras da sua lista serem a diversidade, o pluralismo e a participação… 
Vivemos sob um capacete cultural em Portugal, de um certo paternalismo. Ou seja, as pessoas têm que se acomodar com a situação que têm e depois esperar por um qualquer salvador que sabe quais são os seus problemas e que vai redimir. Nós, liberais, temos várias coisas em comum, independentemente das correntes, e uma delas é acreditar no indivíduo. Eu é que sei para onde quero ir. Não é o atual primeiro-ministro, nem o anterior, nem o anterior, nem o próximo. Se isso é verdade, então também tem que ser verdade que a diversidade pode criar coisas boas e não necessariamente entropia. Se as pessoas tiverem respeito, tolerância pelas diferenças uns dos outros conseguem chegar a consensos. Os consensos nunca são perfeitos, mas a democracia não é perfeita. Costumo dizer, e não com graça, mas muito a sério, que o sistema político mais eficiente de todos é uma ditadura porque há um líder que diz como se faz e faz-se. Não há ninguém que tenha uma opinião diferente, porque, se tiver, acontece aquilo que sabemos que ocorre nas ditaduras. Ora, se vivemos num Estado de direito democrático e se nós liberais acreditamos no liberalismo, então também no liberalismo político temos de dar o exemplo e exercê-lo dentro do partido. É isso que hoje está em causa, neste ciclo eleitoral que passámos éramos muito poucos e fizemos o impossível. Agora é altura, com alguma tranquilidade porque o ciclo eleitoral é um bocadinho menos pesado, em que nos podemos centrar e, tal como demonstrámos em termos de políticas públicas ao eleitorado, mostrar também ao eleitorado que é possível uma forma diferente de fazer política, em que as pessoas não têm de estar afastadas dos partidos. Porque hoje em dia que interesse têm os outros partidos? É ir para uma cave qualquer de uma sede votar nos delegados ou ouvir o cacique local dizer como é que se faz? O cidadão hoje em dia está-se borrifando para isso. 

E isso até se vê nos próprios atos eleitorais com a elevada taxa de abstenção…
Também. Isso é um bom exemplo. Um dos debates comum e natural, num partido novo que acabou de passar por um ciclo eleitoral tão intenso, é se esta ou aquela posição é mais próxima ou mais distante de um dos outros partidos. O verdadeiro eleitorado liberal é a abstenção. São todas aquelas pessoas que não se identificam com uma visão única do país que os outros partidos propõem e que esperam que haja um local, neste caso a Iniciativa Liberal, onde possam participar naquilo que querem, sem terem que ser guiados ou conduzidos para um cacique local ou por uma qualquer liderança específica. 

Daí defender essa tal nova forma de participação política…
Claro que sim. E com isto estou a dizer que a Iniciativa Liberal está a fazer o seu caminho para chegar ao Governo e vai chegar ao Governo. 

Em coligações ou sozinho? 
Isso, felizmente, é um tema com que não vou ter que me preocupar, porque não vou ser líder de partido. Darei o meu contributo seguramente no Conselho Nacional e, na altura, poderei avaliar a situação concreta. Mas que vamos chegar a Governo, vamos. Se a nossa proposta é aplicar políticas públicas liberais então para isso precisamos obviamente de estar no Governo. Mas para isso é natural que alguns de nós tenham de abdicar, pelo menos durante uma boa parte da sua vida, da sua carreira profissional. Por exemplo, no início da entrevista disse que tivemos vários presidentes. Se reparar, todos os presidentes que o partido teve tinham carreiras profissionais ativas, com sucesso nas suas áreas, uns mais, outros menos. Com carreiras académicas, jurídicas, internacionais, no meu caso. E quando estivemos na política e se fizermos uma comparação muito individualista vimos que todos perdemos profissionalmente por estar na política ativa. Ao contrário daquilo que muitas vezes se diz estar na política é um peso. É um peso para quem tem uma carreira profissional e um trabalho com sucesso. 

Peso financeiro e até familiar… 
Claro que sim. A quantidade de telefonemas que se tem à hora de jantar e à noite, em vez de se estar a brincar com os filhos ou em vez de se estar a ver um filme na sala com a mulher. Quanto tempo perdemos da nossa vida pessoal e familiar por estar na política? Quer isto dizer que não me vou meter na política? Não, quero dizer é que até à Iniciativa Liberal não havia uma forma de participar na política. E já é uma tradição, embora o partido tenha apenas cinco anos, é possível uma pessoa participar, desde o membro de base até ao presidente do partido, sem ter que abdicar da sua vida. Não! É possível fazer de outra forma! O que propomos como lista T? E por que nos definimos como ‘Todos diferentes, Todos liberais’? É esta aposta na diferença. E o que estava a dizer há pouco sobre a diferença não implica necessariamente entropia. Pelo contrário, pode ser construtiva e deve ser. É este o desafio que a IL tem neste momento, em que já temos representação parlamentar muito forte e somos a quarta força política do país, esperando que venhamos a ser a terceira, ou segunda, para não dizer a primeira, mas lá chegaremos um dia. E para isso é importante que estejam muito bem consolidadas dentro do partido essas diferenças de visão entre os tipos de liberalismo e entre visões liberais diferentes e isso não é um caminho para o facciosismo, para a clubite típica de outros partidos, porque isso vê-se nos resultados que outros partidos têm. O CDS é o caso mais recente, mas isso já aconteceu em todos os partidos, menos num que é muito monolítico: o PCP. 

Ainda assim teve uma razia muito grande no Parlamento…
Se calhar precisamente por isso. Se hoje em dia perguntar ao eleitor o que pensa sobre questões como o ambiente, mobilidade, impostos e empreendedorismo, se calhar tem respostas que não  coincidem com as ideologias típicas do país. 

A IL é conhecida por ser um partido urbano. O que falta para passar essa mensagem para o interior? 
Diria que é uma questão não tanto do interior. Registámos um crescimento dos nossos núcleos no interior e o círculo eleitoral onde tivemos mais votos foi em Odemira. A grande questão não é uma questão eleitoral do interior, porque o mesmo problema se passa com a população, já que o grosso da população portuguesa está no litoral. Temos um problema grave de desertificação, por isso é natural que isso aconteça também na política, ainda por cima num partido novo, em que é mais difícil. É um processo natural de crescimento de qualquer partido e também se aplica na Iniciativa Liberal. A grande questão é que no espaço público do debate político, desde o início, nos quiseram colar a uma certa elite económica. E propositadamente não leram aquilo que dizemos, em que não nos queremos libertar do jogo do Estado para estar sob o jogo de uma qualquer oligarquia política ou económica ou social. O grande desafio que temos – e daí a diversidade – é dar a perceber aos pequenos comerciantes ou aos jovens profissionais, para dar apenas um exemplo, que o liberalismo é o melhor caminho para construírem o seu próprio futuro. Isso já está a acontecer e viu-se nas autárquicas e nestas eleições legislativas. No entanto, é preciso consolidar. Ecomo se faz? Os eleitores no interior do país, mas também nos núcleos urbanos e suburbanos, têm de perceber que podem participar, que são ouvidos e que estamos centrados em soluções concretas para problemas concretos que lhes dê mais liberdade. Em vez de estarmos centrados nas ajudas, estamos centrados na capacidade e na ambição de crescer.

O discurso da Iniciativa Liberal é muito direcionado para o liberalismo económico. Mas também defende outras ideias, como a liberalização das drogas leves, que não passa ao eleitor. 
Desde o início, e lembro-me em particular da primeira vez que usámos aquela faixa no 25 de Abril e que passámos a usar todos os anos que diz ‘liberdade política, social e económica’. A parte económica surge em último lugar. É claro que é mais fácil fazer passar uma mensagem ao eleitorado quando estamos a falar do seu futuro económico, do seu bem-estar, do que estar a falar em liberdade social e em liberdade política. Há um certo sentimento que em Portugal há liberdade política, mas depois quando vamos ao detalhe não há. Quantos eleitores sentem liberdade de participar politicamente, de dar a sua opinião num partido político, dar a sua opinião numa junta de freguesia ou irem a uma assembleia de freguesia e participarem? Quantos não dizem ‘ah não, é melhor não dizer nada porque senão ainda acontece qualquer coisa’? Não há essa liberdade política em Portugal. A IL desde o início que defendeu estas três grandes liberdades: política, social e económica. E no nosso programa político e nos vários programas eleitorais estão sempre lá presentes estas três componentes. Em termos de mensagem política há uma maior capacidade pelos temas económicos que vão sendo debatidos, quer no espaço público e político, porque são mais fáceis de percecionar. Mas nunca defendemos só isso. 

E temas como a eutanásia? 
A IL tem uma posição sobre isso e já a apresentou no Parlamento. Da primeira vez que a IL apresentou a sua proposta não foi possível, por razões logísticas, convocar um Conselho Nacional, mas o então deputado único e o nosso presidente, João Cotrim, teve o cuidado de ligar aos conselheiros para saber a opinião e sei de fonte segura, isto é, do próprio, que houve opiniões muito diversas, como é normal num tema destes. Mas houve uma coisa que foi quase unânime é que nos devemos centrar na liberdade do indivíduo. O facto de uma coisa ser permitida não quer dizer que seja obrigatória. Deve haver uma série de salvaguardas para que o indivíduo seja respeitado. Mas isso deve ser aplicado em tudo, não é só no caso da eutanásia. Por exemplo, o problema também se põe na escolha da escola que queremos para os nossos filhos. No entanto, não é um tema fraturante, mas se calhar já passa a ser se estivemos a falar com o professor que é colocado num ponto diferente do país. A nossa perspetiva está sempre assente na liberdade do indivíduo de poder construir o seu próprio futuro. A eutanásia não é diferente em termos conceptuais. 

Em última análise é liberdade de escolha…
Sim, mas atenção, no caso da eutanásia como em vários outros temas há uma série de outras considerações que é preciso ter em conta, sobretudo a salvaguarda de que essa liberdade é informada e livre, em que não há coação, nem há nenhum tipo de obrigação. Mas também não vamos criar um drama excessivo quanto à capacidade do Estado de legislar sobre essa matéria. É um tema muito difícil, muito sensível, que em boa parte divide devido a conceções éticas e morais a sociedade, mas é possível. Certo que é difícil, mas não estamos cá só para as coisas fáceis, estamos cá também para as coisas difíceis. 

Quais são as prioridades da lista T?
Há muitas questões que preocupam os nossos membros e seguramente estarão numa agenda de um partido liberal que, como é normal, num partido com cinco anos ainda não foram suficientemente debatidas internamente. Já quase todos eles foram falados, mas ou porque não estavam na agenda política e, portanto, o partido não teve de se pronunciar, ou por estarmos todos focados em eleições não foram focados. A Iniciativa Liberal não é um sprint, é uma maratona, mas a verdade é que temos andado de sprint em sprint, de eleições em eleições nestes últimos cinco anos. Este primeiro momento de acalmia é o certo para trazemos muitos outros temas. Vou-lhe dizer um que se calhar está na mente de toda a gente, mas ninguém pensa como um grande tema, que é o facto de estarmos perante a necessidade de rever o conceito estratégico de defesa nacional. O que é que o eleitor comum se interessa pelo conceito estratégico de defesa nacional? Uma das maiores ameaças que Portugal tem neste momento, inclusive com a infelicidade que temos em termos perdas de vidas humanas são os incêndios. Por que é que os incêndios não podem ser tratados como uma questão de defesa? Se calhar podem, se calhar esse é um debate que devíamos ter, mas há outros. 

E a revisão da Constituição? 
Também. Esse é um dos bons exemplos que vem provar que a lista T tem razão. Quando dizemos ‘Todos diferentes, todos liberais’ e que somos capazes dessa diferença, esse debate tem de ser feito com tolerância, com respeito pela diferença, sem facciosismo para chegarmos a consensos. O último Conselho Nacional provou à sociedade que o que defendemos é possível, porque foi precisamente sobre a revisão constitucional. Houve uma reunião extraordinária, com visões diferentes sobre o que pensam sobre a revisão constitucional. E com respeito pelas diferentes visões conseguimos consensualizar uma posição com que todos fomos capazes de concordar. É exatamente isso que estamos a querer provar. Estamos a querer provar que não precisamos de simplesmente aderir ao que uma liderança diz, seja de quem for.

É a tal liberdade de pensamento…
Mais do que isso. É preciso haver liberdade de participação. Não devemos ter apenas ter liberdade de pensamento na nossa casa fechados, mas sermos capazes de a dizer de forma a que seja ouvida. Além da liberdade de pensamento e da liberdade de expressão de o dizer é dizê-lo com consequência, ou seja, focados na ação. Outro dos grandes propósitos da lista ‘Todos diferentes, todos liberais’ é concentrarmos os nossos debates nos intragáveis. Isto é, os debates têm de ser frutíferos. Não basta debater por debater, porque debater por debater é um mero exercício de retórica. Isso não é uma verdadeira participação. Isso é aquilo que muitos políticos fazem quando dizem ‘fomos ouvir as pessoas’ e depois vão ao café central da terra, tomam um café, dizem duas ou três palavras, vão-se embora e dizem que ouviram as pessoas. Isso não é ouvir as pessoas, mesmo que as duas ou três pessoas que estão no café exerçam a sua liberdade de expressão e deem a sua opinião isso não tem consequências. O que verdadeiramente tem consequências é quando esse debate é centrado: ‘muito bem, há esta e esta diferença’ e, dentro do respeito por estas diferenças, o que conseguimos consensualizar para chegar a uma proposta concreta? Com uma nuance, no Conselho Nacional podemos e devemos chegar a propostas dessas, mas são propostas de ação política estratégica. Quem tem ou não que implementar no melhor momento e da melhor forma não é o Conselho Nacional. Devemos respeitar os órgãos do partido que é a Comissão Executiva. Há aqui três ideias que são essenciais ao ‘Todos diferentes, Todos liberais’. Uma é que esta não é a lista do Miguel, mais uma vez, houve cinco membros com muito trabalho já demonstrado dentro do partido e tiveram a cortesia de me convidar. Apesar de ter sido o presidente do partido sou membro como qualquer outro e pode ou não ser convidado a participar num grupo de trabalho e acha que consegue dar o seu contributo para o partido. O segundo ponto é que fizemos uma lista agregadora e não promove divisões. Promove diferenças que é uma coisa diferente e vem dizer que qualquer tendência de liberalismo que haja dentro da IL respeita a lógica da Iniciativa Liberal. Esta lógica de agregação de diferença vem demonstrar à sociedade – e esta é uma característica importante reforçar cada vez mais – que as pessoas podem ser diferentes umas das outras e que conseguirem gerar consensos para políticas públicas. E o terceiro ponto é que queremos criar valor e esta ideia de criar é nos muito forte e essencial à nossa lista. Se tivermos focados no valor criado por esta participação nos tais debates que é pressuposto haver no Conselho Nacional poderá ajudar a Comissão Executiva. Este criar valor faz a diferença entre as pessoas desagregarem-se em fações por pequenas diferenças ideológicas e demonstram uma alternativa de participação política agregadora, mas não agregadora só porque sim, mas pelo contrário, para ter resultados concretos, propostas de políticas públicas liberais.    

Por haver essa liberdade é que a lista T não vai dar apoio formal a nenhuma lista para a comissão executiva apesar de ter pessoalmente já ter manifestado o seu apoio a Carla Castro? 
Há pessoas dentro da lista T que apoiam Carla Castro, como eu, outros que apoiam Rui Rocha e outros que ainda não apoiam nenhum deles, primeiro porque não sabem se não haverá mais candidaturas, mas ainda não se decidiram e ainda querem ouvir os projetos de cada um. Estamos tão concentrados nesta lógica de contribuir para o partido no Conselho Nacional, ou seja, para ter um Conselho Nacional forte, diverso e participado que temos total confiança que haverá candidaturas para a Comissão Executiva muito competentes. 

Considera que Carla Castro é a pessoa ideal para conduzir o futuro do partido? 
Estando a ser entrevistado enquanto cabeça de lista da lista T digo que a lista T respeitará quem quer que seja eleito como presidente do partido. Estamos todos muito confortáveis face às candidaturas que até agora se apresentaram, qualquer um deles seguramente levará o partido a bom porto. Pessoalmente, fiz uma opção de apoio a Carla Castro e, mais uma vez, é uma opinião estritamente pessoal com o facto de reconhecer o seu trabalho no gabinete de estudos e de ser o tipo de participação que gostava de ver desenvolvido no Conselho Nacional. Fico particularmente contente por não haver uma candidatura conjunta à Comissão Executiva e ao Conselho Nacional, respeitando que o Conselho Nacional é um órgão que é suposto ser diverso e suposto dar contributos, em vez de ser simplesmente uma extensão da Comissão Executiva. 

Estamos perante uma opção entre continuidade e rutura?
Enquanto cabeça de lista não devia comentar isso, porque nada tem a ver com a lista T. Uma coisa que digo e que ainda ninguém reparou fora da Iniciativa Liberal é que, até hoje, todos aqueles que manifestaram interesse em se candidatarem a presidente do partido não eram membros do partido. Nem eu, porque não existia partido e fui eleito no ato fundador.

Foi quanto tempo presidente? 
Formalmente, quase um ano. Fiz a fundação e no verão saí. Fui desde novembro de 2017 até agosto de 2018, mas formalmente fui até outubro porque a eleição que elegeu Carlos Magalhães Pinto foi em outubro. Carlos Gomes Pinto não era membro quando surgiu a oportunidade e interesse e, ainda bem, de vir a ser presidente do partido. Também o próprio João Cotrim, que foi eleito deputado como independente só depois é que se tornou membro do partido. E isso é bom. Mas, pela primeira vez, se não aparecerem outras candidaturas, estes dois candidatos são membros do partido. 

Mas nenhum é fundador…
Ainda melhor, porque o que está em causa é se é de continuidade ou não, mas não me parece que seja por aí. Qualquer continuidade na IL seria necessariamente ficar aquém do desígnio do partido. O partido quer sempre inovar, renovar, crescer. Não queremos continuar como estamos, queremos dar o próximo salto. Quero acreditar que, quer um, quer outro, estarão a pensar nesses termos e não a pensar numa continuidade, no sentido político típico.

Houve um grande salto entre a formação da Iniciativa Liberal e ter só um deputado para ter oito. Para muitos, esta saída de Cotrim Figueiredo é considerada precipitada. São dores de crescimento? 
Não, de todo. Quando saí éramos cerca de 300/400 militantes e houve quem dissesse que o partido ia acabar e que iria criar uma grande crise. Pelo contrário, Carlos Guimarães Pinto fez com que o partido desse um enorme salto. Quando Carlos Guimarães Pinto sai e vem João Cotrim Figueiredo também disseram que o partido iria acabar e o partido voltou a crescer. E agora de certeza que, quando elegermos Carla Castro ou Rui Rocha ou eventualmente outro candidato vão dizer exatamente a mesma coisa. E vai acontecer a mesma coisa porquê? Porque, ao contrário de outros partidos, aqui não é uma liderança de contagem de espingardas. É precisamente o contrário. É um vasto número de membros ativos que acredita na participação, na diversidade, na liberdade, na tolerância e fazem com que o partido continue a crescer. Como? Respeitando os órgãos do partido e apoiando a liderança. É este apoio à liderança que, neste momento, podemos reforçar. 

Há quem veja a Iniciativa Liberal como um epifenómeno… 
Disse desde o início que estamos cá para 30 ou 40 anos e vamos ser Governo. Por que é que isto é importante? Na minha análise, mais uma vez pessoal, é muito provável que a Iniciativa Liberal tenha resultados melhores e piores ao longo de eleições, como todos os partidos e isso faz parte do aceitar a democracia, caso contrário estamos a querer impor. Mas há aqui outra realidade, se o nosso propósito é mostrar que em Portugal é possível haver políticas liberais, coisa que nunca existiu na história de Portugal – houve uns meses a seguir à primeira Constituição, no início do século XIX – mas é muito diferente da realidade atual. Se queremos provar que é possível haver políticas públicas liberais em Portugal, o que estamos a falar é de uma mudança de mentalidade dos nossos eleitores, não conduzida por nós, mas em que os próprios eleitores se apercebem por eles próprios que é possível um futuro melhor criado por eles próprios. É um bocadinho irrelevante, sei que dizer isto parece me caso de desprendimento a mais, mas é mesmo verdade, o grosso dos membros da IL quer que o partido continue a crescer e sabemos que vai crescer e vai crescer nas próximas eleições. 

Até chegar ao Governo? 
Até chegar ao Governo e mesmo depois. Mas é um bocadinho irrelevante qualquer flutuação, porque o que estamos a fazer é uma mudança na forma de fazer política em Portugal 

E para acabar com a variação PS/PSD? 
Certamente. Às vezes dou um exemplo que ilustra muito bem a diferença entre haver verdadeira liberdade e multiplicidade de escolhas e haver uma diversidade. Imagine que vai a um restaurante que tem todos os tipos de sopa que possa imaginar e quer um bife? É este um bocadinho problema de Portugal que é temos uma escolha entre PS e PSD, depois com conformações de geringonças ou de coligações. No entanto, é um bocadinho mais do mesmo. Não tem havido uma verdadeira alternativa à forma de fazer política em Portugal. 

Ficou surpreendido com a saída de Cotrim Figueiredo? 
Não fiquei surpreendido porque tenho noção do peso que temos de estar a liderar um partido. É um peso muito grande pessoal profissional e familiar. Já em relação ao momento em si e se este era o esperado digo que não. E acho que ninguém estava à espera que fosse este o momento. Mas essa é uma decisão que cabe ao próprio e temos de saber respeitar. Ou seja, em vez de nos deixarmos levar por comentários de quem não está na situação ou então por de quem vivendo da política acha muito estranho este desprendimento temos de perceber a realidade da Iniciativa Liberal que é totalmente diferente, que é uma alternativa a todos os sistemas. Queremos o poder, mas não o poder pelo poder, queremos implementar políticas públicas liberais.

Disse que o próximo líder tem de ser mais populista para enfrentar as nas eleições…
Tenho a certeza que entre os milhares de membros de Iniciativa Liberal todos temos opinião sobre isso e vamos exercê-la na próxima convenção, escolhendo uma nova liderança.

Concorda com o adiamento para janeiro? 
É compreensível. Mais uma vez a democracia, tal como o liberalismo, não são perfeitos. A maior parte das ideologias dos outros partidos diz-nos que é uma perfeição, um caminho para atingir o céu e segue-se por ali e atinge-se o céu. Nós não, como liberais e como democratas, percebemos que, citando outros antes de mim, a democracia é o pior dos sistemas, com exceção de todos os outros, porque a democracia é um aborrecimento, tem de se ouvir as outras pessoas, tem de se gerar consensos, porque tem de se respeitar minorias. O mesmo se passa com o liberalismo. E o facto de as eleições serem em janeiro reflete exatamente esta dualidade de: o melhor sistema ser um sistema imperfeito. É óbvio que acho que é um tempo excessivo de campanha interna para seis mil membros. Há aqui quase que um paralelismo com aquilo que foram as eleições legislativas no ano passado. Se todo Portugal conseguiu votar neste tempo, com toda a certeza que a Iniciativa Liberal conseguiria em menos, mas se queremos que qualquer membro que o deseje tenha tempo e condições para poder formular era quase que obrigatório permitir que esse tempo existisse. Preferia que fosse menos tempo de campanha? Sim, claro. Sobretudo num período de festas. Mas acho que é um mal necessário para garantir que há liberdade para que cada membro sinta que pode dar esse contributo e tenha tempo para o fazer.