Banco de Portugal prevê crescimento do PIB

Estimativas são de que a inflação estará em 5,8% em 2023. 

Depois de um crescimento de 6,8% este ano, o Banco de Portugal (BdP) espera que a economia portuguesa abrande no próximo ano para 1,5% «expandindo-se a um ritmo próximo de 2% em 2024 e 2025». As previsões foram divulgadas pelo Banco de Portugal (BdP) esta sexta-feira que explica ainda que «o crescimento será contido no primeiro semestre de 2023, num quadro de incerteza global, erosão do poder de compra, aperto das condições financeiras e enfraquecimento da procura externa». 

No entanto, a partir da segunda metade do próximo ano, a atividade vai acelerar «refletindo a expectativa de atenuação das tensões nos mercados energéticos, a recuperação gradual do rendimento real das famílias, uma maior absorção dos fundos europeus e a melhoria do enquadramento externo».

No que diz respeito à inflação, esta deverá atingir os 8,1% este ano, caindo, no entanto, para 5,8% no próximo, para 3,3% em 2024 e para 2,1% no ano seguinte.

O banco liderado por Mário Centeno explica que esta quebra «gradual reflete a redução do preço internacional das matérias-primas energéticas, alimentares e outras, bem como menores pressões da procura resultantes de uma política monetária mais restritiva».

Boas notícias também para o mercado de trabalho que vai manter este ano «um comportamento favorável», com o emprego a crescer 2,3%. Para o período 2023-25 projeta-se uma estabilização do emprego e da taxa de desemprego.
O Banco de Portugal acrescenta ainda que «a incerteza em torno da projeção é elevada, com riscos descendentes para a atividade e ascendentes para a inflação», defendendo que o principal risco «decorre de repercussões mais adversas da invasão da Ucrânia, nomeadamente a possibilidade de interrupções no abastecimento de gás, levando a cortes na produção e novas subidas dos preços, bem como a uma redução da confiança».

Mas este não é o único risco uma vez que existe ainda a possibilidade de «um crescimento mais forte dos salários e das margens de lucro das empresas. A materialização destes riscos implicaria uma maior persistência das pressões inflacionistas, com impactos adversos sobre a atividade».

Consumo crescer
Os dados do banco central dizem ainda que o consumo privado deverá aumentar 0,2% no próximo ano e 1%, em média, em 2024-25, após um aumento de 5,9% em 2022. «Em 2023, a variação marginal do consumo privado está associada à menor almofada financeira e ao aumento dos preços e do serviço da dívida», acrescentando que a recuperação nos anos seguintes até 2025 «reflete a dissipação da incerteza e o crescimento moderado do rendimento disponível real, num quadro de redução da inflação e estabilização das taxas de juro».

Já o investimento vai desacelerar para 1,3% este ano, projetando-se crescimentos de 2,9% em 2023 e de 4,9%, em média, em 2024-25. «O comportamento contido em 2022-23 é explicado pelo contexto de elevada incerteza, restrições da oferta, aperto das condições de financiamento e abrandamento da procura. Nos anos seguintes, a dissipação da incerteza e a melhoria das perspetivas de procura traduzem-se num maior crescimento», justifica o BdP. 

Depois de um crescimento de 17,7% em 2022, «reflexo da forte recuperação da componente de turismo», as exportações crescem em torno de 4% em 2023-25. «As exportações de bens deverão crescer 3,5% em 2023 (após 6,3% em 2022) e 4,1%, em média, em 2024-25, em linha com a evolução da procura externa e a manutenção de ganhos de quota de mercado», detalha o banco central que diz ainda que a balança corrente e de capital apresenta um défice de 0,6% do produto interno bruto (PIB) em 2022, retornando a um saldo positivo de 1,9%, em média, no período 2023-25.  

E aproveita para deixar alguns alertas: «A redução da inflação é responsabilidade primordial da política monetária, mas deve envolver a coordenação dos vários agentes económicos, para benefício da sociedade». Acrescenta ainda que, «num contexto de perda de termos de troca da economia – que implica uma perda de rendimento real que deve ser partilhada – é importante a coordenação das expectativas em torno do objetivo de estabilidade de preços do Banco Central Europeu, assegurando que os aumentos dos salários e das margens das empresas não geram pressões inflacionistas persistentes, com consequências negativas para a competitividade e a estabilidade macroeconómica», alertando que devem evitar-se estímulos orçamentais generalizados. 

O governador do Banco de Portugal disse, na apresentação destes resultados, que «este é o momento para reduzir o défice e a dívida» insistindo que se trata até de «quase um objetivo nacional». Na apresentação do boletim económico de dezembro, que contém novas previsões para a economia portuguesa, o governador avisou que os próximos anos devem e vão ser marcados por um «esforço muito significativo das contas públicas». 

E falou ainda das taxas de juro (ver texto ao lado) defendendo que «está para lavar e durar». Mas com avisos: «Atenção que as revisões em alta da inflação ainda não acabaram e que, portanto, como disse a presidente Christine Lagarde, isto pode estar aqui para lavar e durar. E isso não é bom, mas como decidimos reunião a reunião e com base em dados, nada está decidido nem sequer para fevereiro, mas se se confirmarem os números que temos em cima da mesa, é muito provável que haja uma subida de taxa de juro de 50 pontos base em fevereiro como é improvável que seja de 75 pontos base».