Marcelo pede “mudança” no “tempo dos imoderados”

O Presidente da República diz que o povo português vota no “seguro” mais do que no diferente, mas espera que mudança se acelere no futuro.

O Presidente da República apelou a que Portugal continue a olhar para o futuro, considerando que o país atravessa um “período bastante emocional”, mas mantém apesar de tudo “alguma moderação no meio da imoderação”.

No Palácio da Cidadela de Cascais, durante o encontro anual do Conselho da Diáspora Portuguesa, atualmente presidido por António Calçada de Sá, Marcelo Rebelo de Sousa sustentou que este é “o tempo dos imoderados” e que também Portugal “não está imune ao emocional” nem, “às vezes, ao irracional, às pulsões mais diversas”.

“Tem, no entanto, a seu crédito quase 900 anos de História. Muito vivido, muito aprendido, muita sensatez subjacente à espuma político-mediática de cada segundo. Muito culto da vivência pacífica, da segurança, do risco calculado, da moderação, mesmo em clima universal adverso”, acrescentou.

Numa referência encapotada aos sete anos de governos chefiados pelo primeiro-ministro António Costa, o chefe de Estado também não passou ao lado do facto de o povo português, “votando nos últimos 17 anos o dobro das vezes em eleições legislativas no seguro mais do que no risco do diferente”, só se mostrar disponível “para escolher o diferente se seguro ou se esgotado o que foi mantido até ao limite”.

Ainda assim, segundo Marcelo, os portugueses estão atentos  ao que é preciso mudar “para não perderem oportunidades e maximizarem ensejos, sobretudo nos mais jovens protagonistas, jovens e conhecedores do preço dos tempos perdidos”.

Salientando que Portugal é uma “sociedade envelhecida, ainda com uma ampla mancha de pobreza ou risco dela e assimetrias sociais e territoriais”, apontou que estes fatores são obstáculos aos “ímpetos desejáveis de mudança com o sentir defensivo de amplos setores populacionais”.

O país, “vivendo esta contradição entre aquilo que é duradouro na procura da segurança e aquilo que vai mudando subliminarmente, está a mudar e a querer desta forma compensar o lastro do que puxa para o conformismo”, declarou.

Na cerimónia que contou com a presença do antigo primeiro-ministro Durão Barroso e os ministros da Economia, António Costa Silva, e dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, o Presidente deixou um apelo à mudança, esperando que a mesma “acelere no futuro e que não seja, 50 anos após o 25 de Abril, o regresso ao passado, ao já visto, à repetição do ensaiado com uns retoques suaves no que está sonhado ou concretizado”.

No plano internacional, ressalvou ainda que os últimos anos permitiram confirmar “que as autocracias ou autoritarismos falham, mesmo os mais poderosos”. “Falharam na pandemia, falharam na recuperação económica e falham na guerra, falham mais do que as democracias, mesmo as mais fragilizadas”.

No seu entender, a Rússia apresenta-se “com fragilidades económicas e militares suspeitadas ou sabidas mas agora expostas”, a China “francamente mal sucedida na pandemia e na recuperação económica” e os Estados Unidos da América “como a única grande potência global, a regressar a todos os continentes”, resta ver “por quanto tempo e como”.

Perante este cenário, Marcelo desaconselhou que se opte por “alimentar a radicalidade da situação que já existe com os pessimismos radicais”, aproveitando o momento para reforçar que “Portugal é muitas vezes decisivo na resolução de problemas europeus” e que “a Europa só depende dela própria e do seu bom senso para ser o que quiser”.