Festas a sorrir ao turismo

Natal e Ano Novo estão à porta e as unidades hoteleiras têm motivos para celebrar também. Ocupações apresentam bons números, que podem melhorar com a tendência last minute que se tem vindo a verificar ao longo do ano. De norte a sul do país, os turismos têm boas perspetivas para a época festiva.

Depois de tantas perdas para o turismo devido à pandemia, o Natal e a passagem de ano de 2022 trazem motivos para celebrar. E as perspetivas são as melhores de Norte a Sul do país, com destaque, claro, para o mercado interno, que é o que mais ajuda nesta altura festiva. Aliás, a tendência de crescimento que se foi registando ao longo do ano no turismo intensifica-se agora. O mais recente inquérito da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), para o período do Natal, a nível nacional, os hoteleiros inquiridos têm 42% de reservas on the books mas esperam chegar aos 59%.

 Por esta altura, a região que espera melhor taxa de ocupação é a Madeira (73%). Segue-se Lisboa (66%) e dos Açores (59%).

Para 70% dos inquiridos da Madeira a taxa de ocupação será melhor ou muito melhor do que em 2019. Mas 30% dos hoteleiros da região Lisboa ainda não vão atingir a ocupação de 2019. Já o preço médio aponta para 120 euros a nível nacional, com a região de Lisboa a sinalizar a expectativa de valor mais elevado (166 euros), seguida do Alentejo (142 euros) e da Madeira (113 euros).

 No que ao ano novo diz respeito, a taxa de ocupação vai ser melhor ou muito melhor do que em 2019 para 66% dos inquiridos da Madeira, sendo que nos Açores 61% indicam que iguala os resultados desse ano. Para 83% dos inquiridos, a nível nacional, este período iguala ou supera os valores de 2019.

 Feitas as contas, a AHP diz que a perspetiva de taxa de ocupação a nível nacional para esse período está nos 82%, ainda que atualmente esteja mais abaixo, nos 61%. O preço médio pode chegar aos 167 euros a nível nacional.

Ao Nascer do SOL, Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), diz que as perspetivas para o Natal «são muito positivas» e o mesmo serve para a passagem do ano, que conta com «ocupações acima dos 30% em relação ao ano passado».

 Questionado sobre se é possível recuperar os valores de 2019 ou se o aumento do custo de vida poderá penalizar essa decisão de ‘festejos’, o responsável garante que a atividade turística «já ultrapassou os dados de 2019 e a expectativa é fechar 2022 com valores acima de 2019». E acrescenta que os preços estão mais altos do que nos anos anteriores. «Devido à pressão da inflação, os preços deverão estar mais altos, talvez acima dos 10%».

Sobre as nacionalidades com mais peso, o destaque vai para o mercado interno, uma tendência que é natural dada a altura do ano.

Já Ana Jacinto, secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), afirma que «as reservas estavam a aumentar, a procura estava a aumentar» e que as unidades hoteleiras «especialmente nas zonas mais turísticas, estavam com uma excelente taxa de ocupação e a concretizar-se essas reservas, que entretanto foram feitas – é mais fácil avaliar no alojamento do que propriamente na restauração – as perspetivas estavam a ser boas». A responsável defende que, neste momento, «o problema não está a ser a procura, por enquanto, não quer dizer que em janeiro e fevereiro o cenário não mude drasticamente, porque as pessoas já estão a sofrer este impacto da inflação, estão a sofrer o impacto das taxas de juro».

Lisboa

Na região de Lisboa as perspetivas são «positivas» porque seguem «no sentido da tendência que se verificou a partir do primeiro trimestre». A avaliação é feita ao Nascer do SOL por Vítor Costa, presidente do Turismo da Região de Lisboa. Este ano, revela, «ainda tivemos uma incidência da pandemia que afetou a atividade nos primeiros meses mas a partir daí a tendência foi sempre progressiva, recuperar o número de turistas, taxas de ocupação, dormidas, mas sobretudo a nível também das perspetivas económicas, da rentabilidade, dos preços e da receita gerada pelo turismo» – tendência essa que se verifica. «Os últimos dados que tínhamos apontavam para uma subida à volta de 14% sendo certo que uma parte desse valor também tem a ver com a inflação e também há custos que cresceram. Mesmo assim, na nossa perspetiva haverá de 5 a 7% acima líquidos do valor económico da riqueza gerada pelo turismo comparando já com o ano de 2019», acrescenta.

Com o crescimento assumido, para a época festiva espera-se a mesma tendência. O responsável defende que o facto de as pessoas podem deixar de viajar devido ao aumento do custo de vida mas «aqui na região de Lisboa, apesar da importância em termos do turismo interno, a nossa maior quota é internacional», acrescentando que «esses mercados têm tido comportamentos diferentes e a nossa expectativa é que isso continue até ao fim do ano».

Uns mercados subiram, outros desceram mas, no fundo, «há uma melhoria dos indicadores económicos e uma recuperação mesmo dos valores quantitativos mais rápida do que pensávamos». Isto porque se pensava que o turismo só iria atingir valores anteriores à pandemia em 2024 mas «provavelmente vamos atingir e ultrapassar em 2023, embora seja difícil fazer previsões para este ano que entra porque há muitos fatores de incerteza».

Mas existem também as chegadas de última hora, «uma tendência que se verifica», o que leva o Turismo de Lisboa a não querer fazer grandes previsões.

«O que estou a dar agora são já resultados ou tendência relativamente ao que está a acontecer mas não são valores, previsões exatas», defende Vítor Costa. E explica: «As pessoas antigamente programavam e marcavam com muita antecedência e era tudo muito mais previsível. Agora, o negócio turístico mudou nessa matéria e acentuou-se essa tendência nos últimos anos. Agora há sempre marcações de última hora».

Apesar de ainda estarem em aberto essas marcações de última hora, o Natal e o Ano Novo «continuarão a ser, em termos dos resultados económicos do turismo, até um pouco superior a 2019».

Quanto aos mercados, os principais nesta altura são os europeus com 80% do negócio em Lisboa. «E dentro dos europeus há comportamentos diferentes. Nalguns mercados fortes, como o alemão, já assistimos a uma certa retração porque as pessoas estão na incerteza, não sabem o que vai acontecer, não sabem se vão ter menos rendimento com a inflação e com as taxas de juros e pesa o turismo que é muito sensível a estas variações e reage imediatamente».

Vítor Costa diz ainda que «talvez nesta época do ano haja uma inversão em relação ao geral. Talvez os espanhóis e os franceses tenham mais representatividade porque são mercados de maior proximidade».

Algarve

Bons indicadores apresenta também o Algarve. «Há cada vez mais famílias a escolherem a hotelaria do Algarve para passarem o período de Natal mas é ainda um período que não tem a mesma expressão da passagem do ano», começa por dizer ao nosso jornal João Fernandes, presidente do Turismo do Algarve. Apesar de esta ser uma tendência crescente, ainda não chega aos calcanhares do Ano Novo, que conta com bons números. E que este ano apresenta «três novidades que são muito interessantes». João Fernandes explica do que se trata: «Temos mais mercado nacional na procura, mais reservas diretas e reservas mais cedo. Talvez um comportamento a antecipar o facto de quem embarcou à última da hora ter, no fundo, encontrado preços mais elevados e, portanto, houve uma procura que se antecipou».

A verdade é que, defende o responsável, as reservas em carteira estão superiores a 2019 quer em volume, quer em valor «o que é muito interessante. E que ainda temos, obviamente, as reservas de última hora», relembra.

Destacando que as condições climatéricas do sul do país são boas e que muitas vezes estes eventos acontecem ao ar livre, João Fernandes destaca outro fenómeno que são os jantares e encontros de empresas e amigos que este ano têm sido bastante regulares.

A isto há que juntar o cartaz de luxo: «Temos também um cartaz muito forte para a passagem de ano no em várias localidades, nomeadamente Albufeira, que costuma ser um ex líbris, na praia dos Pescadores, mas também noutros pontos».

Por isso o Algarve está na expectativa de entre os portugueses – que são a maioria neste período – e os espanhóis – que cada vez mais atravessam as fronteiras – a passagem de ano no Algarve encha, juntando-se ainda os mercados externos tradicionais: o Reino Unido, Holanda, Irlanda, Alemanha e França.

«Estamos certos que vamos ter um bom fim de ano, até porque algumas das unidades hoteleiras já estão ocupadas totalmente. Há outras que estão a cerca de 75%. Aquilo que temos de feedback, vários elementos da oferta desde hotéis a hostels, alojamento local, rent a car, golf, todos os indicadores são muito positivos», diz.

Esta é aliás, uma tendência que vem acontecendo ao longo do ano: «É uma recuperação muito interessante e terminamos o ano com um inverno com maior capacidade de lugares em avião para o Aeroporto Internacional de Faro de sempre para o período de inverno, o que é um sinal também de confiança dos operadores turísticos e das companhias aéreas».

Sobre se os preços afetam a decisão dos portugueses em celebrar, o presidente do Turismo do Algarve pensa que, para já, não. «Atendendo ao ano corrente e estando nós a falar da passagem de ano, não me parece haver esse indicador». Mas revela que os indicadores económicos nos principais mercados emissores «não são favoráveis a um aumento do consumo, nomeadamente no Reino Unido e Alemanha».

Lembrando as palavras de Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE) sobre previsões económicas revistas em baixa, João Fernandes destaca o aumento da inflação. «Agora, também olhando para o panorama internacional, porque não estamos no mundo sozinhos e num setor que é por natureza global, estamos em concorrência direta e nessa concorrência direta o que tem sido o feedback de operadores de companhias aéreas é de uma aposta clara no Algarve».

Alentejo

«São muito boas, são mesmo muito boas». É desta forma entusiasta que o presidente do Turismo do Alentejo responde ao nosso jornal sobre as perspetivas para as festas que se aproximam. E Vítor Silva relembra que a procura ainda pode aumentar. «Eventualmente, também poderão existir desistências de última hora mas de certeza que essas desistências são logo colmatadas com as listas de espera que há. Mas as informações que temos são muito boas», revela. «A hotelaria, neste período, está quase no topo. E inclusivamente há várias unidades que até fazem a passagem de Natal, e esgotam. Às vezes são famílias muito numerosas e não têm casas com espaço suficiente, as famílias vão crescendo. Então vão para um hotel», justifica.

A verdade é que até esta altura o Alentejo já estava a ter números superiores aos de 2019 desde o verão. «Em termos de dormidas, os últimos números que temos são de outubro mas em termos de dormidas estamos ligeiramente acima. E fundamentalmente à custa do mercado nacional». Já o mercado internacional ainda falta recuperar à volta de 7% em termos de dormidas relativamente a 2019. «Mas em termos de proveitos estamos com acréscimo, relativamente a 2019 de cerca de 25%. É bom mas é claro que uma parte, talvez metade, por aquilo de que me tenho apercebido e tenho falado com os hoteleiros, talvez metade dessa subida de 25% é ‘comida’ pelos custos de contexto», garante.

Questionado se os preços mais altos podem afastar as pessoas, o responsável defende que não. E há uma justificação para isso. «As pessoas estão com muita vontade de sair, estão fartas de estar em casa e também é preciso notar – e isso são dados oficiais – que a poupança dos portugueses, aqueles que viajam, os que têm poder de compra, a classe média, a classe média baixa, as poupanças dos portugueses subiram muitíssimo durante os dois anos da pandemia».

E defende ainda que os preços aumentaram mas que esta subida não está necessariamente relacionada com os custos de contexto mas com o aumento da procura. «A procura tem sido muito elevada e quando ela é muito elevada, os preços sobem, como é óbvio, é sempre assim».

Quanto aos mercados, estão em linha com os restantes destinos. «O Natal e passagem do ano são fundamentalmente para o mercado nacional. Destinos como o Alentejo não são destinos de preferência para esta época festiva», diz. Ainda assim, não descarta a chegada do mercado de proximidade, como os vizinhos espanhóis, principalmente.

Centro

Ao centro do país, a tendência é a mesma. Boas perspetivas, principalmente com a ajuda do mercado nacional. «A perspetiva para a atividade turística nas épocas de Natal e de Ano Novo é muito positiva no Centro de Portugal», diz Pedro Machado, presidente do Turismo do Centro que garante que «por toda a região é evidente um regresso consolidado da procura, depois dos anos difíceis da pandemia». E há bons indicadores principalmente para zonas como a Serra da Estrela, «como seria de esperar», que estão com uma taxa de ocupação «particularmente animadora».

Pedro Machado avança também que os dados mais recentes mostram que «há muitas unidades de alojamento com taxa de ocupação de 100% na região, na passagem de ano».

E avança números: dos 220 empreendimentos que responderam a um inquérito realizado pela Turismo Centro de Portugal, 86 estão lotados para a noite de fim de ano, «o que é muito significativo». Destes, acrescenta, 36 são hotéis e 50 são unidades de turismo em espaço rural. «De notar que as regiões em que há maior percentagem de estabelecimentos com ocupação total são a Beira Baixa e as Beiras e Serra da Estrela, o que se explica pelo apelo de um fim de ano com neve. Mas também a Região de Coimbra, por exemplo, está com muita procura. As festas de réveillon que vão acontecer na região, em Mira, na Figueira da Foz, em Coimbra ou na Nazaré, entre outras, têm também como consequência o aumento de reservas nestes territórios», detalha.

Mas pode o aumento de preços e do custo de vida prejudicar os festejos? «Só a posteriori poderemos saber se as taxas de procura e de ocupação superam os do ano de referência de 2019, mas as nossas projeções, assim como as de outras entidades, apontam para que isso aconteça», defende Pedro Machado, que diz ser natural que exista «alguma retração face às dificuldades económicas que os portugueses estão a sentir, mas tal não impede que as pessoas proporcionem às suas famílias uma merecida recompensa, no Natal e na Passagem de Ano». E atira: «Não há recompensa melhor do que sair de casa e viajar dentro do país, por poucos dias que seja».

O presidente do Turismo do Centro espera que as receitas dos empreendimentos turísticos sejam superiores às dos anos anteriores. Este crescimento «deve-se, por um lado, ao aumento dos custos operacionais, como a energia, que levaram a um necessário ajustamento dos preços; mas também porque os operadores estão a vender com mais valor incorporado, oferecendo mais e melhores serviços». Ora, o rendimento por quarto será maior. «Os preços estão mais adequados aos serviços prestados, o que é um bom indicador, e continuam a situar-se dentro daquilo que o mercado pode suportar», defende.

Quanto às nacionalidades mais esperadas para esta época festiva, o destaque vai naturalmente para os portugueses, seguidos dos espanhóis, que são «as nacionalidades com mais peso, como é habitual no Centro de Portugal, uma vez que Portugal e Espanha são o nosso mercado nacional alargado». Ainda assim, também se regista procura positiva por parte de visitantes brasileiros, norte-americanos e de outras nacionalidades, embora com um peso menor.

Porto e Norte

Já o Porto e Norte conta com taxas de ocupação na ordem dos 52% para o Natal. Um número que sobe muito se formos fazer as contas à passagem do ano, altura em que a região espera taxas de ocupação «muito perto dos 80%, sendo que ainda esperamos pelas reservas last minute», como detalhou ao Nascer do SOL o presidente do Turismo Porto e Norte, Luís Pedro Martins.

O responsável defende ainda que o aumento do custo de vida não vai prejudicar as festas. «A nossa expectativa será aumentar as taxas de ocupação no Porto e Norte, sendo que para já, o aumento dos preços não tem prejudicado a procura».

E diz que os preços «naturalmente» sofreram ajustes, estando o aumento entre 10 a 15%.

No que diz respeito aos mercados, o destaque vai também para o mercado nacional, seguido de Espanha, França e Reino Unido.