Respeitinho é muito bonito

A escola serve para instruir, a família para educar. O resto é música e Educação para a Cidadania.

Longe vai o tempo em que as criancinhas receavam que o Menino Jesus (ou o Pai Natal) não lhes deixasse no sapatinho nada do que tinham pedido na carta escrita por aqueles dias em que o presépio e a árvore de Natal voltavam a enfeitar a sala lá de casa, porque não se tinham portado bem na escola ou as notas não correspondiam ao mínimo exigível.

Desde logo, porque as tradições já não são o que eram. Já quase ninguém escreve ao Pai Natal, muito menos ao Menino Jesus, os presépios vão começando a rarear, ainda que o pinheiro natalício (um ramo natural ou mais uma imitação) – curiosamente uma tradição pagã – sobreviva de forma generalizada.

Depois, porque no império do consumo em que vivemos, pode faltar tudo no Natal menos a dita árvore que acolhe os presentes e, valha-nos isso, a Consoada de reunião em família, apesar do bacalhau e das couves estarem estupidamente mais caros, tal como o peru e o cabrito, os sonhos e as rabanadas ou fatias douradas, para não falar nos troncos ou nas lampreias de ovos, e tudo o que se usa para rechear a mesa nesta quadra de partilha.

Finalmente, e principalmente, porque exigir às criancinhas que se portem bem na escola e tirem as notas mínimas em matérias de estudo passou a ser objeto de condenação mas é dos pais ou encarregados de educação e até dos professores, acusados de bullying ou pressão psicológica intolerável sobre os filhos e discentes, que nunca sofreram tanto como nos tempos que correm, como atestam os mais recentes inquéritos sobre saúde mental da juventude e afins.

Balelas!

O discurso de facilitismo ou falta de exigência dominante leva a que a escola tenha hoje manifestamente muito melhores indicadores, mas muito piores resultados – e não é de estranhar que uma população teoricamente muito mais qualificada, em que abundam os doutores e engenheiros, esteja na prática cada vez mais impreparada. 

Os alunos fazem o que querem e o que lhes apetece e o professor é quem paga, porque, se os advertir ou avaliar com o chumbo (retenção, na terminologia agora aceite) que merecem, quem tem uma carga de trabalhos é o próprio docente, a quem o sistema exige relatórios sobre tudo e mais um par de botas e justificação para o seu falhanço – dele, professor, porque o sistema responsabiliza-o sempre a ele e não ao aluno, esse coitado, única vítima do sistema. 

E os pais e encarregados de educação, ou encobrem e defendem os seus entes sempre queridos, mesmo que mal educados, idiotas, insurrectos e não raro até verdadeiros marginais, ou, quando se colocam do lado mais exigente da disciplina e da instrução, passam também para a implacável mira desses defensores do facilitismo politicamente correto.

O Natal coincide com o fim do primeiro período e, por isso, constituía um marco no processo educativo: permitia atalhar caminho e corrigir a tempo o que se percebia estar menos bem, por forma a cada aluno, criança ou jovem, salvar o ano ou melhorar o seu processo de aprendizagem.

De outro modo, é o deixa andar e baralhar de novo, que as preocupações do sistema e de quem nos governa são só os tais números – ou indicadores – e as tretas do costume da disciplina de Educação para a Cidadania e outros programas marginais, que alimentam as redes sociais e os media.

A escola serve para instruir, a família para educar. O resto é música e Educação para a Cidadania.

Atente-se num sintomático exemplo passado em Águeda no final deste período letivo.

Tendo sido agendada uma visita do ministro da Educação a uma escola da terra, o diretor desta – por acaso candidato à presidência da Câmara local pelo partido do Governo, o PS, nas autárquicas de 2021 – logo decidiu fazer circular uma «Ordem de serviço» por professores, auxiliares e alunos, comunicando o privilégio e assim concluindo: «Como se compreende, a acompanhar o Sr. Ministro virão órgãos de comunicação social, bem como vários convidados. Alerta-se todos os alunos para se manterem no (sic), dentro da sala de aula e nos corredores, assumirem uma postura responsável e correta, de modo a que imagem da nossa escola, e de todos nós, não saia beliscada». Para rematar: «Qualquer comportamento perturbador será objeto de tratamento disciplinar».

Sim, senhor! Respeitinho é, de facto, muito bonito.

Este diretor de escola preocupa-se, e bem, com a imagem da sua escola e com os comportamentos perturbadores dos alunos.

Devia era ser sempre, e não apenas para a ‘comunicação social’ e para o ‘Sr. Ministro’ socialista. 

Assim, soa a coisa bafienta, ou, como dirão os camaradas do politicamente correto, do tempo da outra senhora.

Feliz Natal! 

E boa Consoada!

PS: Para que conste, parece que os alunos portaram-se todos bem, mas os professores organizaram uma manifestação e vaiaram o ministro.