Um conto de Natal, com um Liceu no sapatinho

Muitos milhares de jovens do Príncipe (onde mais de 50% da população tem menos de 18 anos) não podiam terminar o Liceu, pois as famílias não tinham possibilidades de suportar os estudos na ilha maior, São Tomé.

A Ilha do Príncipe situa-se na zona equatorial do Atlântico, em África. Tem cerca de 10 mil habitantes, e faz parte de um pequeno Estado periférico, com 200 mil habitantes. É um paraíso ambiental e, por isso, reserva da Biosfera. 

O Príncipe não tem, ou não explora, as matérias primas que o mundo precisa para a vida contemporânea, pelo que não tem os recursos para construir as infraestruturas que lhe permitam acelerar o desenvolvimento. Não tem, nem nunca teve, os equipamentos escolares que potenciem o talento da sua população. 

Apesar das dificuldades estruturais, tem sabido aproveitar as suas poucas oportunidades. Apostou, em bom tempo, na manutenção do seu equilíbrio ambiental e no turismo sustentável, procurando desenvolver-se sem destruir. 

A população do Príncipe acabou de receber a notícia da construção de um Liceu. Um acordo entre Governo Regional e os municípios de Lisboa, Amadora e Oeiras vai possibilitar a construção de um Liceu na Ilha (um investimento de 1,8 milhões de euros). 

Melhorará a educação, melhorará a formação e melhorará a capacidade de receber novo investimento e de criar novos negócios.

Muitos milhares de jovens do Príncipe (onde mais de 50% da população tem menos de 18 anos) não podiam terminar o Liceu, pois as famílias não tinham possibilidades de suportar os estudos na ilha maior, São Tomé.

Há, todavia, uma história deste novo Liceu que precisa de ser contada. Há cerca de 10 anos, o então presidente do Governo Regional, José Cassandra, procurou que o Município de Oeiras apoiasse na construção, no âmbito da geminação com a região. O elevado custo da obra (estimada em perto de 2 milhões de euros) inviabilizava o projeto, exceto que se conseguissem encontrar outros parceiros para se dividir o esforço.

Com a saída de Isaltino Morais da presidência do Município de Oeiras, em 2013, o projeto ficou esquecido. Renasceu, em 2018, um ano após o regresso de Isaltino Morais à Câmara. Dia 1 de outubro de 2018 foi anunciado que havia sido escolhido o local do Liceu e que o Município de Oeiras faria o projeto para o mesmo, comprometendo-se em encontrar os parceiros para o mesmo. 

Entretanto José Cassandra saiu do Governo Regional, tendo sido substituído por um jovem governante, Filipe Nascimento, que manteve a aposta na educação.

O passo seguinte foi o de encontrar os parceiros que reconhecessem a importância da cooperação descentralizada, enquanto dever de decência política e enquanto continuação da relação histórica de Portugal com um mundo que conhece e a quem chama irmão.

Esses parceiros chegaram com a Amadora, que disse desde o primeiro momento estar disposta a entrar no apoio, e Lisboa, depois das eleições de 2021. Três municípios: um liderado por um independente, um socialista e outro social-democrata assinaram, com a Região Autónoma do Príncipe, um acordo quadripartido para mudar a vida de milhares de jovens e de muitas gerações.

Há dias felizes no exercício de lugares públicos. Isaltino Morais, Carla Tavares e Carlos Moedas mostraram que é possível aos políticos portugueses juntarem-se em torno de uma causa maior. A política precisa de políticos que sintam a dor dos outros e que reconheçam o dever imperativo de ajudar quem menos tem a deixar a condição de pobreza. Talvez seja preciso ter sentido na carne para sentir a carne alheia. Ser pobre é uma condição económica, não pode ser uma condenação.

Este acordo foi o final de ano perfeito para quem esteve envolvido no projeto, e esta história precisava de ser contada. 
Há dias felizes, como aquele que colocamos um Liceu em muitos sapatinhos.
Feliz Natal.