Trégua de Natal!

O lobo conviverá com o cordeiro e o leopardo repousará junto do cabrito. O bezerro, o leão e o novilho gordo se alimentarão juntos pelo campo; e uma criança os guiará.

A ‘Trégua de Natal’ marca o período do Natal que viveram, durante a Primeira Guerra Mundial, britânicos e alemães. Estavam no início da guerra, em 1914, e, metidos em trincheiras, guardavam as suas posições. O medo do inimigo obrigou-os a abrirem sulcos no chão para garantir que não haveria avanços da outra parte.

Chegado a semana que antecedeu o Natal, os alemães colocaram velas juntos das suas trincheiras e decoraram árvores de Natal. Depois, começaram, também, a cantar canções de Natal em alemão e, do outro lado, os britânicos respondiam com músicas tradicionais inglesas. Todos cantaram em latim o Adeste Fideles – que poucos sabem ser de um compositor português.

A esta iniciativa, seguiram-se ouras iniciativas. Começaram a sair das trincheiras e a trocar presentes, comida e começaram a fazer jogos. O Natal de 1914 trouxe àqueles homens uma perspetiva diferente dos seus inimigos. Aquele Natal mostrou que há, em cada homem, uma criança que procura o convívio e não a guerra.

Os adultos, porém, trazem às crianças uma forma de competição que as corrompe. Não que eu acredite no mito do bom selvagem, isto é, de que nascemos em estado de pureza e depois a cultura é quem nos corrompe. No entanto, acredito que a educação e a cultura tem um poder sobre nós que está, muitas vezes, acima de nós.

Aqueles soldados não queriam matar, não queriam lutar, nem digladiar-se contra ninguém… queriam, como todos os homens, celebrar o Natal, celebrar a Era de Paz!

 

O tempo do Natal é, desde há muito, um período de paz! Mas porquê? De onde vem esta ligação entre o Natal e a Paz?

A resposta está nas profecias judaicas que os cristãos acreditam estar realizadas no nascimento do Menino Jesus. Aliás, os próprios anjos, aquando do nascimento do messias, em Belém, de Judá, cantavam: «Glória a Deus nas alturas e Paz na terra aos homens por Ele amados».

Não vou enumerar todas as profecias que nos mostram como o período messiânico haveria de estar ligado a período de paz, mas há um profeta que nos pode ajudar a compreender: o profeta Isaías. Vejamos, por exemplo, uma das promessas: «Eis que um ramo surgirá do tronco de Jessé e das suas raízes um rebento brotará! O Espírito de Yahweh, o Senhor, repousará sobre ele, o Espírito que de sabedoria e entendimento, o Espírito que de conselho e fortaleza, o Espírito de conhecimento, do amor e do temor do Senhor.

O lobo conviverá com o cordeiro e o leopardo repousará junto do cabrito. O bezerro, o leão e o novilho gordo se alimentarão juntos pelo campo; e uma criança os guiará. A vaca e o urso pastarão juntos, os seus filhotes dormirão lado a lado e o leão comerá palha como o boi. As crianças de peito brincarão tranquilas próximas do esconderijo da cobra, a criança colocará a mão no ninho da víbora. Ninguém mais fará mal algum, nem haverá qualquer destruição em todo o meu santo monte, porquanto toda a terra se encherá do conhecimento de Yahweh, o Senhor, assim como as águas cobrem o mar». (Isaías 11, 1-9)

 

O Presidente ucraniano foi aos Estados Unidos, nos dias que precedem o Natal. O Presidente russo reuniu-se com os militares nesses mesmos dias. Ambos se preparam para a guerra: a Rússia para atacar e a Ucrânia para se defender.

É legitimo defender-se, mas é, também, legítimo que nestes dias que precedem o Natal tenhamos fé não apenas em nós, mas nas profecias dadas por Deus de que é possível o lobo e o cordeiro pastarem juntos sem se magoarem e digladiarem. A mesma profecia diz que o amor vir pelo conhecimento do Espírito de Iahweh.

Talvez este Natal nos traga algo de humanidade a esta guerra. Deus assumiu a nossa humanidade e, por isso, está na hora dos homens assumirem, também, a sua humanidade.