Um Governo desmontado às peças

Portugal tem um Governo que há 9 meses está a ser desmontado às peças. Desde que tomou posse em março, António Costa substituiu governantes a uma média superior a um por mês, enquanto o executivo soma casos graves, alguns com relevância institucional e até criminal, à razão quinzenal. Avaliado pela perceção e não pelo calendário,…

Por Nuno Melo

Se é facto que o ministro Pedro Nuno Santos e os secretários de Estado Hugo Santos Mendes e Alexandra Reis se demitiram, a crise está longe de ter terminado.

Portugal tem um Governo que há 9 meses está a ser desmontado às peças. Desde que tomou posse em março, António Costa substituiu governantes a uma média superior a um por mês, enquanto o executivo soma casos graves, alguns com relevância institucional e até criminal, à razão quinzenal. Avaliado pela perceção e não pelo calendário, o Governo parece velho de anos.

 

O primeiro-ministro bem pode dizer em estilo habitual, que «vão ser quatro anos, habituem-se». Acontece que não nos habituamos.

O CDS foi o único partido que pediu a demissão da secretária de Estado do Tesouro e é agora o primeiro a apelar ao Presidente da República para que dissolva o Parlamento e convoque eleições antecipadas.

Um Governo que é notícia recorrente pelos casos e quedas de ministros e secretários de Estado, enquanto as famílias e as empresas suportam os impostos mais altos de sempre e Portugal vai sendo arrastado para o fundo da lista dos que menos crescem na União Europeia, ultrapassado pelos mais improváveis países de Leste, deixou de servir o interesse geral.

Este Governo já não gere o país. Gere-se a si próprio em estado permanente de alarme, tendo nas substituições de ministros e secretários de Estado um remédio, que apenas revela um problema que é realmente insanável e estrutural. O ciclo socialista terminou, o Governo está esgotado e o país está novamente num pântano que põe em causa o normal funcionamento de instituições básicas do regime.

 

Dito isto, há outra conclusão que tem de ser retirada: manifestamente, a TAP funciona hoje como uma espécie de oásis, à margem da realidade difícil do país e da própria empresa. Indemnizações de meio milhão de euros no meio de um carrossel de contratos e nomeações, pagos por uma companhia que tem o Estado como o principal sócio, por decisão de uma administração que exige aos trabalhadores cortes implacáveis, é simplesmente inadmissível. Há até que ter presente que houve outras renúncias a cargos na TAP, negando a administração mais informações sobre quaisquer montantes pagos a propósito. Fica também claro que, não fosse a circunstância da nomeação de Alexandra Reis para o Governo, toda a verdade se manteria num silêncio muito conveniente, com a verdade no domínio de administradores e poucos governantes apenas.

 

É por isso preciso apurar com exatidão o que se passa no universo das empresas públicas e de capitais públicos em Portugal, em relação a práticas salariais, indemnizatórias e a cláusulas contratuais com regimes privativos que são realmente impróprios dos tempos e das dificuldades vividas em Portugal.