Discurso Marcelo. Papel de Marcelo é “desassossegar”, diz ministra

Na tradicional mensagem de Ano Novo, Marcelo Rebelo de Sousa avisou que só o Governo e a sua maioria “podem enfraquecer ou esvaziar” a estabilidade política existente em Portugal, considerando que a maioria absoluta dá ao executivo “responsabilidade absoluta”.

A ministra da Coesão Territorial considerou que o papel do Presidente da República é “desassossegar” e “mau seria” que o Governo não visse isso com “bons olhos” e referiu que o Governo PS se revê nas preocupações do Presidente da República, nomeadamente no que concerne a “executar bem” os fundos europeus. No entanto, lembrou que o Governo não tem obrigação de executar o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e o Portugal 2030 (PT2030) todo este ano.

Na tradicional mensagem de Ano Novo, Marcelo Rebelo de Sousa avisou que só o Governo e a sua maioria “podem enfraquecer ou esvaziar” a estabilidade política existente em Portugal, considerando que a maioria absoluta dá ao executivo “responsabilidade absoluta”.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, está também ao alcance de Portugal tirar “proveito de fundos europeus que são irrepetíveis e de prazo bem determinado”. E acrescentou: “Tudo isto está ao nosso alcance. E nunca me cansarei de insistir que seria imperdoável que o desbaratássemos”.

Outras reações

 O Partido Socialista  mostrou-se em "convergência plena" com as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa. E garantiu, além do mais, que existem, da parte do partido que lidera o Governo, todas as condições "para continuar a assegurar a estabilidade política do país", disse o secretário-geral adjunto, João Torres. 

Já Miguel Albuquerque, do lado do PSD, disse: "A constatação é só uma: 2022 foi um ano perdido e 2023 começa com uma crise política inesperada, curiosamente que surgiu no seio do próprio Governo", considerou, destacando que essa mesma crise política resulta das "barafundas do Governo" em exercício e que "não radica, pois, nem na oposição, nem no senhor Presidente da República".

O Chega falou em "alerta vermelho" ao Executivo socialista. Apesar de reconhecer a importância de Marcelo Rebelo de Sousa não querer "ser um fator de instabilidade", Ventura fez uma dura crítica ao Presidente da República, porque "foge aos temas que preocupam os portugueses" – como é o caso da "enorme crise política" provocada pelas várias demissões recentes nos Ministérios.

A Iniciativa Liberal (IL), representada pelo líder parlamentar, Rodrigo Saraiva, apressou-se a expressar que se revê parcialmente na comunicação de Ano Novo do chefe de Estado. Ainda assim, não faltaram algumas acusações, pelo facto do partido considerar que o Presidente da República põe, "infelizmente", todo o "ónus da estabilidade no Governo, o que demonstra que deveria ele próprio ser mais criterioso e mais exigente" com o Executivo, numa altura marcada pelas polémicas que têm assolado alguns governantes.

Já o Partido Comunista Português (PCP), pela voz do dirigente Jorge Pires, destacou que a mensagem emitida no domingo ilustrou que Marcelo Rebelo de Sousa partilha, no "fundamental", das visões do próprio Governo. "Neste início do novo ano, o que os portugueses esperariam ouvir do senhor Presidente era a afirmação do seu papel em fazer cumprir a Constituição e os direitos que nela estão consagrados", referiu o comunista, que destacou ainda que, "nesse plano", a mensagem foi "escassa".

Por sua vez, o eurodeputado José Gusmão, em representação do Bloco de Esquerda (BE), disse que, na sua mensagem de Ano Novo, o "Presidente da República faz referência a um desfasamento da realidade e, claramente, parece ser essa a situação em que está o Governo do Partido Socialista". Nesse âmbito, o bloquista destacou temas como a "não identificação de um conjunto de problemas sociais, nos serviços públicos, na política de rendimentos, na habitação, que precisam de resposta" e de uma "atuação radicalmente diferente daquela que está a ter o Governo do PS".

Também o PAN (Pessoas – Animais – Natureza) ofereceu a sua leitura sobre a comunicação do Presidente da República ao país. Em declarações à RTP3, a porta-voz Inês de Sousa Real alegou esperar que, no ano que acaba de ter início, Marcelo Rebelo de Sousa, "enquanto Presidente da República, se mantenha vigilante", com vista a garantir a tão desejada estabilidade política. Porém, a líder do partido ecologista apontou ainda que, nesta mensagem, o chefe de Estado "deixou um recado importante para a maioria absoluta: a sua autorresponsabilidade".

Para concluir o leque dos partidos com assento parlamentar, o Livre, por via do seu deputado único, Rui Tavares, concordou com a posição de Marcelo Rebelo de Sousa, de que "2023 é decisivo". Naquilo que defendeu ser uma mensagem "muito clara", o também dirigente do partido referiu ainda que "Portugal tem 10 anos para se reinventar e é bom que o Presidente da República", bem como os "políticos em geral", ajam em conformidade.

Também Nuno Melo, o líder do CDS-PP, partido que neste momento não faz parte da Assembleia da República, fez questão de reagir a este momento de comunicação de Marcelo Rebelo de Sousa, defendendo que, já este ano, a "enorme instabilidade política" vivida no país poderia ser resolvida. Na sua perspetiva, o tempo "virá dar razão" a todos aqueles que, até agora, já pediram ao chefe de Estado a dissolução do Parlamento, visto que a "atual conjuntura tem tudo para piorar".