A Guerra ao Ocidente

Substitua-se o branco pelo judeu e temos os métodos nazis: são diferentes, são maus, são culpados, logo podemos começar a matá-los para o bem da Humanidade

Descobri A Guerra ao Ocidente de Douglas Murray (Saída de Emergência, 2022) graças a um artigo de Patrícia Fernandes no Observador. Mesmo acompanhando atentamente o movimento Woke e as teorias da culpa universal do homem branco, fiquei surpreendido com o grau de violência – verbal e física – a que se chegou e com a tolerância para com este discurso do ódio nas universidades, nos media e nos governos. Apelar ao ódio e à violência contra os brancos tornou-se não apenas aceitável, como ainda se transformou numa fórmula indispensável para tornar o mundo melhor.

A princípio, parece uma comédia com uns chanfrados a dizer uns disparates que ninguém poderia levar a sério: os brancos são culpados de todos os males do mundo, a própria democracia e os direitos humanos fazem parte de um plano para dominar melhor os negros, o cérebro dos brancos é anormal e até os bebés brancos são racistas. Foi ainda decretado que todos os brancos são racistas e os que o negam são os piores – e quem questionar esta fatwa é, claro está, racista. Perante estes Ayatollahs, resta-nos apenas confessar o crime, arrependermo-nos e prometer corrigirmo-nos – neste caso, deixar de pensar como um branco.

Mas depois a comédia transforma-se numa coisa mais séria quando os currículos escolares se transformam em ativismo Woke – tenho amigos cujos filhos já odeiam a disciplina de História porque «nós escravizámos meio mundo». Acredito que a maioria dos professores (as) de História não faz lavagem ao cérebro nas aulas, mas muitos já foram cooptados pela seita e estão a ensinar os alunos a odiar o passado de Portugal. Fora das escolas, empresas como a Disney, numa espécie de Revolução Cultural, obrigam os trabalhadores brancos a frequentar cursos de reeducação racial onde têm reconhecer a sua culpa e arrependerem-se. E, em 2020, o apresentador Jimmy Fallon informou que nos censos desse ano a população branca estava a diminuir e a audiência aplaudiu eufórica como se de uma praga se tratasse.

Por fim, a coisa começa a ficar assustadora quando aparecem ativistas a dizer em público que a única solução é acabar com os brancos (a conversa de matar o homem branco de Mamadou Ba). No livro Stupid White Men, Michael Moore inclui um capítulo chamado Kill Whitey (matem os branquelas) onde acusa os brancos de todos os crimes da humanidade. A psiquiatra Aruna Khilanani, numa palestra titulada ‘O problema de psicopatia da mente branca’ confessou a sua fantasia de «descarregar um revólver na cabeça de qualquer branco que me apareça à frente…». E o psicanalista Donald Moss escreveu um artigo chamado Sobre Ter Branquitude onde a descreve como «um estado similar ao dos parasitas», lamentando ainda não existir uma cura permanente – ou solução final. Nos EUA, especialistas na área da saúde começam a defender que os brancos não devem ter os mesmos direitos que as outras etnias. Harald Schmidt, um especialista em ética e política da saúde da Universidade da Pensilvânia defendeu, quanto à vacinação de idosos, que como os brancos viviam mais era preciso «nivelar um pouco o campo de jogo» – ou seja, deixar morrer os idosos brancos. O estado de Vermont e o Women’s Hospital de Boston pensaram da mesma forma criando programas de vacinação que discriminavam as pessoas brancas.

Substitua-se o branco pelo judeu e temos os métodos nazis: são diferentes, são maus, são culpados, logo podemos começar a matá-los para o bem da Humanidade. E o que acontece quando negros se recusam a alinhar com este discurso de ódio? Os ativistas dizem que eles foram contaminados pela Branquitude. Traidores. E quanto aos professores universitários que denunciem este ódio? Despedidos.

Outro assunto abordado é a questão das indemnizações pela escravatura dos séculos passados que os ativistas reclamam ao Ocidente. No entanto, aos estados árabes que superaram o Ocidente no tráfico de escravos (ver, O Genocídio Ocultado: Investigação Histórica Sobre o Tráfico-Negreiro Árabo-Muçulmano, Gradiva, 2022) não exigem um tostão. Além disso, existem cerca de 50 milhões de escravos atualmente e o que fazem os ativistas anti-branco para pôr cobro a esta situação hedionda? Nada. Tinham aqui uma possibilidade concreta de exigir indemnizações a pessoas vivas que seriam pagas às suas vítimas também vivas. Porém, a escravatura atual não lhes interessa porque é fora do Ocidente que isto acontece. Como já não podem culpar os brancos, que se lixem os escravos negros e asiáticos do século XXI. Black Lives Matter? Depende quem os mata e escraviza. A estes homens, mulheres e crianças agrilhoados, resta-lhes os esforços de ONG’s ocidentais, criadas por brancos racistas, que, tal como no passado, são os únicos que realmente lutam contra a escravatura.

E quanto ao cancelamento dos pensadores ocidentais, sabendo-se que Marx aceitava a escravatura e escreveu que os negros eram inferiores e Foucault era pedófilo, por que escapam estes dois trastes? Porque os podem usar contra o Ocidente.

Por detrás desta demonização dos brancos, Murray aponta o dedo a professores universitários e ativistas, como uma louca chamada Robin DiAngelo, mas também a Noam Chomsky e Naomi Klein.