Inflação vai continuar elevada enquanto guerra e sanções durarem

Alerta é do economista Eugénio Rosa que diz que “é uma ilusão pensar ou dizer, como faz o Governo e Mário Centeno, que a inflação é temporária”.

Este ano não traz boas notícias: a inflação vai continuar a aumentar, a situação no SNS e na ADSE vai-se agravar, a economia irá estagnar ou poderá mesmo haver lugar para uma recessão económica, enquanto o desemprego vai continuar a aumentar, ao mesmo tempo, que o atraso de Portugal em relação à média da União Europeia irá acentuar-se. Estas são as perspetivas do economista Eugénio Rosa para o ano que agora entra, garantindo que “é o cenário real que o país enfrentará se a guerra e as sanções continuarem e também como consequência de um Governo que se tem revelado incapaz de responder atempadamente e com coerência com medidas para enfrentar a grave crise económica e social”. E atira: “É necessário não alimentar ilusões e falar verdade aos portugueses”.

No que diz respeito à inflação, o economista garante que “é uma ilusão pensar ou dizer, como faz o Governo e Mário Centeno, que a inflação é temporária e que vai diminuir rapidamente”, dizendo que é necessário analisar a subida de preços da energia, defendendo que é fundamental para as famílias e para a competitividade das empresas, assim como a dos produtos alimentares essenciais, principalmente  para as famílias de médios e baixos rendimentos.

E dá exemplos lembrando que, em novembro deste ano, o preço dos produtos alimentares e bebidas não alcoólicas era superior em 20% aos valores de novembro de 2021. “E entre outubro de 2022 e novembro de 2022, os preços continuaram a aumentar”. Eugénio Rosa avança ainda que os preços dos produtos energéticos, em novembro, eram também superiores aos de novembro de 2021, “em 24,7%, embora a evolução tenha sido irregular devido à quebra na atividade económica e à proximidade de uma recessão económica”. O economista diz que para avaliar estes dados é preciso perceber a importância da Rússia no quadro dos principais exportadores mundiais de petróleo. “A Arábia Saudita é o maior exportador de petróleo do mundo com 6,5 milhões de barris por dia, mas o 2.º é a Rússia com 5,4 milhões de barris por dia. A nível de derivados do petróleo (ex. gasóleo em que a capacidade de refinação na UE é inferior ao consumo), a Rússia é o 2.º maior exportador mundial com 2,8 milhões de barris por dia (o 1.º é os EUA)”, explica. 

Em relação ao gás, a Rússia é o maior exportador mundial com 241 milhões de metro cúbicos por ano (20% do total), sendo o 2º os EUA com 180 milhões m3 (15% do total)”, acrescentando que a dependência da Europa em relação à energia russa é enorme: “Cerca de 41% das importações de gás da UE eram da Rússia e cerca de metade das exportações de petróleo russo tinham como destino a UE. É uma ilusão pensar que a Europa alcançará a rapidamente a independência energética como Bruxelas procura vender enganando os europeus”.

No que diz respeito aos impostos e à subida dos preços, aponta que “a subida enorme das receitas de impostos tem contribuído fortemente para o aumento de preços”, justificando que o Orçamento do Estado inicial de 2022, previa um um aumento de receitas de impostos de 3000 milhões (6,6%) relativamente a 2021. “No entanto, como revelam os dados do Ministério das Finanças, o aumento de receitas fiscais só até novembro de 2022 quando comparado com igual período de 2021, já atingiu 7053 milhões de euros, ou seja, 2,35 vezes mais do que o aumento previsto no orçamento inicial”.

No IRS, detalha, o aumento de receita cobrada até novembro é já 1140 milhões, que é superior em 75,4% ao aumento previsto no orçamento inicial deste ano. 

Em relação ao IRC, que incide sobre os lucros das empresas, o aumento arrecadado até novembro é 10,2 vezes superior ao aumento previsto no orçamento inicial, “o que prova que os lucros das empresas disparam em 2021”. 

Ao nível de IVA, o aumento arrecadado até novembro 2022 (3188 milhões de euros) é já 65,3% superior ao aumento previsto no orçamento (1818 milhões de euros). “Esta subida de receita de IVA é também conseguida à custa de uma taxa de IVA de 6% sobre os produtos alimentares quando em Espanha é de 4%, e o Governo espanhol decidiu reduzi-la a zero”, diz acusando o primeiro-ministro e o ministro das Finanças de continuarem “a querer manter esta taxa para brilharem em Bruxelas com a redução do défice embora à custa dos mais de dois pobres que pagam também esta taxa de IVA sobre o que comem”.