2023 tanto pode contar com uma recessão como “um crescimento muito modesto”

Forum para a Competitividade diz que o crescimento elevado de 2022 “é uma boa notícia por maus motivos”.

O Fórum para a Competitividade estima que, no quarto trimestre do ano que agora terminou, a economia portuguesa terá tido uma variação em cadeia entre -0,1% e 0,2%, a que corresponde uma variação homóloga entre 2,8% e 3,1%. Na sua mais recente nota de conjuntura, o Fórum liderado por Pedro Ferraz da Costa diz que em relação ao conjunto do ano, o produto interno bruto (PIB) deverá ter crescido entre 6,6% e 6,7%, acima das previsões de há um ano, em torno de 5,5%. 

Mas explica que, no entanto, “tem que se insistir que este aparente bom resultado decorre do facto de o nosso país estar mais atrasado na recuperação da pandemia, pelo que deve ser considerada uma boa notícia por maus motivos”.

Lembrando as previsões da Comissão Europeia, que estima que Portugal cresça 6,6% em 2022, muito acima dos 3,3% da União Europeia, o Fórum para a Competitividade diz que, “na verdade, Portugal ficará apenas 3,1% acima do PIB de 2019, apenas muito ligeiramente acima dos 2,7% equivalentes para a UE. Ou seja, nos últimos três anos o nosso país terá crescido anualmente apenas uma décima acima da UE, o que, de maneira nenhuma pode ser confundido com convergência, porque a este ritmo iríamos demorar muito mais de cem anos a ‘convergir’, para além de descermos para um dos últimos lugares da UE”. E questiona: “Ser ultrapassado por todos ou quase todos os países da UE é convergir?”.

Para os próximos trimestres é certo que persiste a deterioração da conjuntura internacional, com sucessivas revisões em alta do PIB e em alta da inflação. “Mais recentemente, o BCE endureceu o seu discurso sobre as taxas de juro, o que poderá ditar um enfraquecimento adicional da economia da zona euro, que deverá passar por uma recessão no início de 2023”, diz o Fórum, acrescentando que, neste momento, “a expectativa dominante é que esta recessão seja relativamente curta, talvez não mais de dois trimestres, e pouco profunda. Se se verificarem estas duas características será possível que a recuperação posterior permita que para o conjunto do ano a zona euro consiga ter um crescimento positivo, ainda que baixo”.

Para este ano, a instituição diz que é provável uma nova queda dos salários em Portugal “com a subida dos salários nominais a não conseguir acompanhar a subida dos preços, que deverão subir cerca de 6%”, lembrando que  os escalões de IRS “só subiram 5,1%, pelo que mesmo aumentos das remunerações em linha com a inflação serão penalizados fiscalmente”.

E diz que aquela quebra, “associada a uma também provável queda do emprego, deverá contribuir para uma grande moderação do consumo privado, que tem crescido em parte devido à diminuição da poupança, um processo que deverá estar a chegar ao limite”.

Para o investimento, as perspetivas também são negativas “dada a evolução esperada da procura, da subida das taxas de juro e dos diferenciais de crédito” e em relação às exportações, estas “estão muito condicionadas pelo enquadramento externo em deterioração e pelo facto de a recuperação do turismo estar concluída, perdendo-se este elemento adicional decrescimento”.

Por todos estes motivos, o Fórum para a Competitividade é claro: “Dado que o ano de 2023 está rodeado de uma elevada incerteza, tanto poderemos ter uma recessão na economia portuguesa como um crescimento muito modesto”.
Mas há ainda um aspeto que o Fórum diz merecer atenção: “Em 2022, as contas públicas beneficiaram largamente da inflação, que permitiu o facto excecional de um excedente de 2,8% do PIB até ao 3º trimestre, que deu margem ao governo para, quer aliviar o arrefecimento do PIB, quer evitar um valor demasiado favorável do défice, para não colocar demasiada pressão em 2023”.

Mas, no ano que agora entrou, a inflação já vai ser prejudicial para o défice “tal como a forte desaceleração da economia”. 

Por isso, o Fórum para a Competitividade diz que é “possível que o executivo se veja forçado a cativações adicionais, sobretudo do investimento público, que abrandarão ainda mais o desempenho económico, para evitar uma deterioração mais profunda das contas públicas”. Ou seja, explica, “enquanto em 2022 a política orçamental estimulou o crescimento económico, em 2023 o mais provável é que suceda o oposto”.