Créditos à habitação. Taxa de juro ultrapassa os 3%, revela o BdP

Transações superam 34 mil milhões de euros no mercado imobiliário português em 2022, disse a JLL.

A taxa de juro média dos novos empréstimos à habitação subiu em novembro para 3,08%, “ultrapassando os 3% pela primeira vez desde janeiro de 2015”, refere o Banco de Portugal (BdP). Nesse mês, os bancos concederam 1858 milhões de euros de novos empréstimos aos particulares, mais 49 milhões do que em outubro, justificado pelo crédito à habitação (1266 milhões em novembro e 1208 milhões em outubro). Nas restantes finalidades, os montantes concedidos em novembro foram inferiores aos de outubro: no consumo, reduziu-se de 412 milhões para 409 milhões de euros e, no crédito para outros fins, de 189 milhões para 182 milhões.

Em novembro, o montante de novos empréstimos concedidos pelos bancos às empresas foi de 1669 milhões de euros, mais 219 milhões do que no mês anterior. Uma análise por escalão de montante mostra que foram emprestados 973 milhões de euros nos empréstimos até 1 milhão de euros e 696 milhões nos empréstimos acima de 1 milhão de euros.
A taxa de juro média dos empréstimos às empresas voltou a subir e fixou-se em 4,01% (3,72% em outubro). A subida verificou-se tanto nos empréstimos até 1 milhão de euros (de 4,04% para 4,27%) como nos empréstimos acima de 1 milhão de euros (de 3,21% para 3,64%).

Transações sobem

“As profundas alterações macroeconómicas e geopolíticas não travaram o mercado imobiliário português, que deverá terminar 2022 com mais de 34 mil milhões transacionados”, de acordo com as estimativas da consultora imobiliária JLL. Um montante que representa um crescimento na ordem dos 14% face aos 30 mil milhões de euros de imóveis vendidos em 2021, como estabelece um novo teto de mercado.

As transações incluem imobiliário residencial e comercial, adquirido quer por particulares quer por empresas e institucionais. E foi o imobiliário residencial que deu o maior contributo, com vendas que podem atingir os 31 mil milhões, que projeta a transação de mais de 168 mil casas este ano. “A confirmar-se, este valor apresenta um aumento de 10% face aos 28 100 euros milhões transacionados em habitação em 2021, os quais já tinham estabelecido um volume nunca antes visto em vendas residenciais”, refere o documento.

Já em relação ao imobiliário comercial, a JLL confirma a concretização de operações no valor de 3300 milhões de euros em 2022, um aumento anual de 66% face aos 1950 milhões de euros investidos em 2021 e uma aproximação a outros anos, nomeadamente 2018 e 2019, quando foi ultrapassada também a marca dos 3300 milhões de euros, referindo que “acrescem ainda cerca de 350 milhões de euros em transações de ativos para promoção imobiliária, os quais incluem terrenos e prédios para construção nova ou reabilitação”.

De acordo com Pedro Lancastre, CEO da JLL Portugal, “iniciámos 2022 a pensar que seria um ano marcado pela recuperação pós-covid, mas o panorama mudou com um clima de guerra na Europa, inflação em níveis que não são vistos há 30 anos e taxas de juro a aumentar depois de anos negativas. Estas novas realidades têm, obviamente, impactos, incluindo a redução do poder de compra das famílias e das empresas e aumento dos custos de financiamento. Mas o facto é que o imobiliário português volta a ter um desempenho surpreendente numa conjuntura adversa. Destaco a absorção de habitação e de escritórios, mas também um ano recorde com volume de transações tanto a nível residencial como no imobiliário comercial”. 

Para o responsável da JLL, “este desempenho foi possível porque, por um lado, Portugal está no centro do radar para os investidores (privados e institucionais), e por outro, porque o mercado imobiliário português sofre de escassez estrutural de oferta. No entanto, a adversidade macroeconómica e a incerteza geopolítica começam já a afetar a dinâmica do mercado imobiliário, notando-se nos últimos meses do ano, que tradicionalmente são mais fortes, sinais de algum abrandamento”. 

E acrescenta: “é o facto de partirmos de uma base bastante considerável de investimento, vendas e ocupação, sustentados em níveis sólidos de preços e rendas, que nos faz encarar o ano com otimismo. Além disso, não se espera que a reposição de oferta acelere”, salienta. 

“Encaramos por isso 2023 com moderado otimismo, apesar da conjuntura económica adversa e da perda de poder de compra de empresas e famílias, vamos continuar a ter um mercado onde a oferta existente não responde claramente às necessidades da procura, mesmo que essa procura possa abrandar. Além disso, os perfis de procura são muito mais diversificados que antes. Entre consumidores particulares e empresariais de casas, escritórios ou lojas, temos portugueses e estrangeiros com poderes de compra muito variados e capacidades de endividamento muito diferentes.