António Costa não é assim tão mau

A Roménia aproveita o Governo de António Costa para nos ultrapassar. Como se vê, a culpa não é do nosso primeiro-ministro, mas dos outros primeiros-ministros romenos… 

Por João Cerqueira

Nas últimas semanas, a credibilidade do primeiro-ministro António Costa foi posta em causa. Sucederam-se más notícias e escândalos no Governo. Ficou-se a saber que Portugal tem cerca de quatro milhões de pobres. A Roménia ultrapassou-nos. Há indemnizações escandalosas. Ninguém sabe de nada. secretários de Estado e ministros demitem-se. Para piorar as coisas, o primeiro-ministro deu uma entrevista digna de Tapioca e Alcazar. 

Diz-se que o país está à deriva, sem Governo, nem timoneiro. O primeiro-ministro é acusado de não fazer reformas, não ter mão na sua equipa, não estar à altura do seu cargo. Fala-se em demissão, queda do Governo, eleições. 
Exagero! António Costa não é assim tão mau. 

Comecemos pela pobreza. Há quatro milhões de pobres, sim, mas poderiam ser cinco, ou seis, ou até sermos todos pobres e estar a morrer à fome. Podia ser muito pior. Além disso, no tempo de Salazar havia mais pobres. E em Moçambique há mais pobres ainda. Depois, a covid e a guerra da Ucrânia fizeram aumentar o número de pobres em toda a Europa, menos entre aqueles sete ou oito países que nos ultrapassaram. E deve também ser denunciada a falta de solidariedade dos países ricos europeus que bem podiam aumentar o número de pobres entre os seus cidadãos para o que os nossos quatro milhões não fossem tão escandalosos. Seja como for, já receberam um cheque de duzentos e quarenta euros que os transformou em classe média.

O caso da Roménia nos ultrapassar é um dos exemplos de falta de solidariedade para com Portugal. O nosso país sempre teve excelentes relações com a Roménia, tendo convidado o ditador Ceausescu e a sua madame a visitarem-nos em 1975 quando praticamente nenhum país decente o deixava sequer sobrevoar o seu espaço aéreo. A Roménia foi também sempre convidada a mostrar a sua cultura e conquistas democráticas na Festa do Avante!. E quando Nadia Comaneci se tornou campeã olímpica, a maioria dos portugueses comoveu-se e bateu palmas. Ora o que faz a Roménia em face disto tudo? Aproveita o Governo de António Costa para nos ultrapassar. Como se vê, a culpa não é do nosso primeiro-ministro, mas dos outros primeiros-ministros romenos que não souberam manter o seu povo pobrezinho como no tempo de Ceausescu.

António Costa também foi muito criticado pela sua entrevista. Não foi uma grande entrevista, é certo. Foi, até, bastante má. Porém, podia ter sido muito pior. Chamou queques aos guinchos à Iniciativa Liberal, mas poderia ter chamado rinoceronte a André Ventura, bolinha de caviar a Catarina Martins e dinossauro ao novo dirigente comunista que ainda ninguém sabe o nome. Poderia ter dito que todos eles zurravam e mugiam. Poderia ter dito que deveriam estar no Jardim Zoológico, ou num sanatório, em vez de na Assembleia da República. Poderia ter acrescentado ao «habituem-se», seus palermas, seus patetas, seus pedaços de asnos. Poderia ter dito que queria que os ‘casos e casinhos’ se…  Mas, não, não fez nada disso. Portanto, em termos de arrogância e insulto, até nem esteve mal.

Além de tudo isto, há muitas mais coisas horríveis e deprimentes que António Costa poderia ter feito e não fez. Por exemplo, depois da eliminação de Portugal no mundial poderia ter imitado os filhos de Sadam Hussein e ir bater nos jogadores dentro dos balneários. Poderia criar uma agência espacial para irmos à Lua e nomear como diretora Alexandra Reis. Poderia meter-se num trenó disfarçado de Pai Natal, pôr Pedro Nuno Santos e o seu Maserati a fazerem de renas, e andar pelas ruas de Lisboa a distribuir os tais cheques de duzentos e quarenta euros que transformaram os pobres em classe média. Poderia tirar selfies vestido de Pai Natal. Poderia convidar José Sócrates para secretário de Estado. Poderia ter convidado João Galamba para ministro logo no seu primeiro Governo. Poderia praticar naturismo. Poderia cantar no Natal dos Hospitais.
Poderia, mas não o fez.

Assim, como afirmam os comentadores dos jornais que mais dinheiro receberam do Governo, assim como aqueles que garantiram que ele venceu todos os debates eleitorais, e ainda os que asseveram que ele é um génio da política, não há alternativa a António Costa, do mesmo modo que nunca houve alternativa ao Governo de José Sócrates ou a qualquer Governo socialista. Todos estão de acordo que estamos mal, que isto não vai melhorar tão cedo, ou até talvez nunca melhore, mas – atenção – se fosse a oposição a governar então é que seria uma desgraça. No que resulta esta fórmula matemática: Portugal x Desgraça – Oposição = António Costa não é assim tão mau.